Uma bala com o meu nome. Susana Rodríguez Lezaun

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Uma bala com o meu nome - Susana Rodríguez Lezaun HARPERCOLLINS PORTUGAL

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      O telemóvel acordou-me do sono profundo e agradável em que me perdera depois de me render à evidência de que não conseguiria dormir sem ajuda química. Tinha a boca pastosa e a cabeça toldada. Custou-me tanto a encontrar o telemóvel que a chamada se desligou, embora voltasse a tocar imediatamente. Quem quer que fosse, não tencionava render-se, portanto, acendi a luz do candeeiro de noite e verifiquei as horas no despertador enquanto deslizava o ícone verde do telemóvel. Eram onze e meia da noite. A essas horas, só se anunciam desgraças.

      — Zoe! — gritou um homem do outro lado da linha. — Estás acordada?

      — Agora, sim — balbuciei. — Quem é?

      Não conseguia fixar o olhar no nome no ecrã do telemóvel.

      — Sou o Gideon Petersen. Zoe, aconteceu…

      — Quem? — insisti.

      — O Gideon! O teu chefe! O diretor do museu! Meu Deus, Zoe, estás bêbada?

      — Não, Gideon, só estava a dormir profundamente. Lamento muito. Estou a ouvir. O que se passa?

      — Tens de vir ao museu agora mesmo. Houve um roubo.

      Essas palavras tiveram o mesmo efeito em mim do que um duche de água gelada. Abri os olhos, levantei-me com um salto e o meu cérebro e o meu corpo entraram em ação imediatamente.

      — Um roubo? O que levaram?

      — Parece que entraram na exposição das joias. Mas isso não é o pior.

      Se isso não era o pior, não imaginava o que podia vir a seguir.

      — Deram um tiro a um dos guardas. Morreu.

      — Meu Deus, meu Deus, meu Deus…

      Não era capaz de pensar em nada. Nunca em toda a história do museu acontecera algo parecido. É claro que tinham acontecido pequenos atentados contra alguma obra em concreto e, uma vez, tinham frustrado uma tentativa de roubo mesmo antes de os ladrões acederem ao edifício. Os golpes do martelo enorme com que tentavam abrir um buraco na parede tinham-nos denunciado. Mas nunca se consumara o assalto e muito menos morrera alguém a tentar impedi-lo.

      — Quem é o morto? — perguntei, quando recuperei minimamente a compostura.

      — Não tenho a certeza — reconheceu Gideon —, quem quer que fosse que estava a trabalhar. Não sei o seu nome.

      Um silêncio espesso espalhou-se através da linha. Durante uns segundos, partilhámos medos e preocupações. No fim, Gideon quebrou o silêncio.

      — Zoe, podes vir? Aqui, há uma confusão tremenda e a polícia quererá falar com todos nós.

      — É claro. Dá-me uns minutos. Estarei aí o mais depressa possível.

      Desligámos sem nos despedir. Com o telemóvel ainda na mão, de pé junto da cama, assaltou-me novamente o receio de que alguém descobrisse o deslize que cometera nessa mesma tarde na oficina da restauração. Tremendo, liguei a Noah e expliquei o que acontecera. Parecia sinceramente espantado, mas, sem dúvida, a falta de proximidade afetiva com o museu fazia-o pensar com mais clareza.

      — Não acho que precises de dizer a alguém que estiveste lá esta tarde. Lembra-te de que o Scott apagou as imagens. Espero que ele não seja a vítima — murmurou, antes de prosseguir com as suas reflexões. — É só a minha opinião. É claro que tu podes fazer o que achares conveniente, mas penso que, se falares da tua visita, só vais conseguir meter-te em problemas.

      — Tens razão — reconheci, enquanto procurava roupa limpa no armário. — Por enquanto, vou ao museu e, se não for estritamente necessário, não mencionarei o meu passeio pela oficina.

      — Queres que vá buscar-te e que te leve? Estás demasiado nervosa para conduzir.

      — Obrigada, estou bem. Não te preocupes. Ligo-te quando voltar para casa.

      — Estarei à espera.

      Vesti-me a toda a velocidade e corri até ao carro. Pelo caminho, fantasiei com todo o tipo de situações possíveis, cada uma mais sangrenta e terrível do que a outra. Não sabia o que ia encontrar e a minha imaginação voou livremente durante os quinze minutos seguintes.

      O cordão policial impediu-me de aceder ao interior do estacionamento do museu, apesar de me ter identificado perante o agente impertérrito que vigiava a entrada, portanto, tive de estacionar na rua de trás e ir a pé até à porta, onde voltei a identificar-me.

      O estacionamento e o pequeno passeio que leva até ao edifício central brilhavam como uma feira de uma vila. Luzes azuis, brancas e vermelhas lançavam os seus brilhos estroboscópicos contra as paredes e para o céu. Um grupo nutrido de pessoas apinhava-se num dos cantos da zona ajardinada, muito perto das sebes que delimitam o passeio da zona asfaltada. Distingui vários agentes uniformizados, duas ou três pessoas à paisana e outras tantas cobertas pelo fato-macaco branco característico que tantas vezes vira nos capítulos da CSI.

      Assim que me deixaram passar, corri para o vestíbulo do museu à procura de Gideon. Encontrei-o sentado numa das cadeiras estofadas que costumam estar junto da parede, mas que, nesse momento, tinham posto muito perto do posto de vigilância, que permanecia vazio. Ao seu lado, dois dos chefes da fundação cochichavam em voz baixa. Gideon tinha má cara. Mexia as pernas convulsivamente e escondia as mãos nos bolsos do casaco, que abotoara, apesar do calor da temperatura noturna.

      Gideon era um homem de uma determinação inquebrável, um gestor fantástico e um negociador hábil que geria o museu com mão de ferro coberta com luva de veludo. Tudo o que acontecia passava pelo escritório dele primeiro: Desde uma compra, um empréstimo ou a simples recolocação de uma peça, até à contratação de todo o pessoal. E, quando digo tudo, é tudo, desde os peritos até aos supervisores da limpeza, passando por rececionistas, administrativos ou os responsáveis pela comunicação e as relações com os meios de comunicação social.

      Hoje, no entanto, o cabelo preto penteado para trás, normalmente pulcro e brilhante, pendia enfraquecido por cima da testa suada. Umas rugas profundas atravessavam-lhe a testa e a expressão descendente da sua boca parecia a de um idoso desorientado que não se lembrava de quem era nem de onde estava.

      — Olá — cumprimentei, quando cheguei ao seu lado.

      Peter e Brenda calaram-se imediatamente e esboçaram um sorriso forçado, enquanto o diretor do museu mal foi capaz de me olhar nos olhos.

      — Isto é uma tragédia — murmurou, como se falasse para si próprio —, uma tragédia.

      — Tu não tiveste a culpa.

      Baixei-me à frente dele para que pudesse ouvir-me bem. Tremia-lhe uma pálpebra e parecia prestes a chorar.

      — Isto vai ter consequências, Zoe. Consequências muito desagradáveis. Roubaram-nos! Levaram três peças muito valiosas. Preciso que o Sanders venha. Está há semanas de baixa. Liguei-lhe, mas a esposa disse-me que está muito doente e que não pode sair de casa, por enquanto. A assistente dele deve estar prestes a chegar. Vai contar-nos os detalhes.

      Robert Sanders era o curador da exposição

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