Uma bala com o meu nome. Susana Rodríguez Lezaun

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Uma bala com o meu nome - Susana Rodríguez Lezaun HARPERCOLLINS PORTUGAL

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levantou o olhar e levantou-se com ar lento. Eu imitei-o e segui a direção do seu olhar. Descobri um homem corpulento que se aproximava de nós a passos largos. Cabelo avermelhado desordenado por cima de uma cabeça de bom tamanho, ombros largos, peito poderoso e uma barriga que começava a sobressair por cima da linha do cinto. À primeira vista, aparentava uns quarenta e cinco anos, ainda que, ao aproximar-se, lhe desse mais três. Uma sombra escura apagava-lhe a parte inferior da cara. Mantinha o sobrolho franzido e as sobrancelhas juntas, como se estivesse concentrado nuns pensamentos complicados e importantes.

      — E a senhora é…? — perguntou, dirigindo-se a mim.

      — Zoe Bennett, responsável pela área da restauração do museu.

      — Inspetor Max Ferguson.

      Apertou a mão que lhe estendia e espremeu-a entre os seus dedos enormes. Recuperei-a o mais depressa que pude, com medo de não conseguir agarrar num pincel nos próximos dias.

      — Já falaram com a família do guarda? — perguntou Gideon, ao meu lado.

      — Dois dos meus agentes dirigem-se para casa dele neste momento — informou, com sobriedade.

      — O que aconteceu? — quis saber.

      — Pelos dados com que contamos, o senhor Scott Miller saiu para o exterior pouco depois das dez da noite, não sabemos se para fazer a ronda ou atraído por alguma circunstância, e dirigiu-se para as sebes do fundo, onde foi abatido com dois tiros.

      Senti que todo o corpo se arrepiava. O rosto corado e atónito de Scott desenhou-se na minha mente durante uns segundos. Abanei a cabeça para afugentar a imagem.

      — Então, toda a gente que está lá fora, está à volta…

      — Do cadáver.

      O inspetor não teve reparos em acabar a minha frase e observar a minha reação às suas palavras.

      — Quem pode ter feito isto?

      Falava para mim própria, mas Ferguson deu-se por aludido.

      — Supomos que a mesma pessoa que levou as joias, mas, por enquanto, não temos nenhuma imagem que mostre um intruso, nem dentro nem fora do recinto. Quem quer que tenha atraído o vigilante até à rua teve o cuidado de permanecer fora do alcance das câmaras. Vemos o senhor Miller a atender uma chamada telefónica mesmo antes de sair, mas, no seu telemóvel, só consta um número privado. Difícil de encontrar, mas estamos a tentar.

      — E o que pode dizer-me sobre o roubo? — perguntei.

      — Pouco ou nada, por enquanto. Os meus homens estão a examinar a gravação das câmaras de vigilância, mas, até agora, não vimos ninguém a entrar ou a sair da sala da exposição. É possível que tenham pirateado o sistema antes de entrar ou que tenham posto um ecrã falso à frente do alvo. Não é difícil enganar um sistema de vigilância tão obsoleto como o deste museu. De facto, o alarme da sala em que se cometeu o roubo é tão fácil de desativar que até um aprendiz de ladrão conseguiria fazê-lo. Uma caixa enorme, uma luzinha que pisca e dois cabos. Por favor! Em minha casa, tenho um sistema mais sofisticado. O sistema de vigilância deste museu deveria estar num museu! — exclamou, entre gargalhadas grotescas que ninguém apoiou.

      Gideon remexeu-se e resmungou baixinho. As palavras do inspetor eram uma ofensa para ele. Como diretor do museu, era o responsável máximo pela segurança do edifício e do seu conteúdo. As decisões relativas à invulnerabilidade de todas e cada uma das salas precisavam da sua assinatura. Quer dizer, se alguma coisa estava mal, a culpa era inteiramente dele.

      — O museu conta com os últimos avanços em segurança — queixou-se, enfrentando o polícia.

      Esse homem já se parecia mais com o Gideon Petersen que eu conhecia. O homem choroso que encontrara ao chegar não tinha nada a ver com a pessoa decidida e ativa com que costumava lidar.

      — Câmaras de vídeo e abertura de portas através de cartões magnéticos não são grandes medidas de segurança. Qualquer ladrão conseguiria ultrapassá-las sem demasiado esforço. E se tiver ajuda do interior, seria ainda mais fácil.

      — Ninguém do museu está envolvido neste roubo infame e nesse assassinato monstruoso! — bramou Gideon. — Com quem acha que está a lidar? Com um grupo de delinquentes sem escrúpulos? Todo o meu pessoal trabalha comigo há anos, foi cuidadosamente selecionado pelo comité da fundação designado para o efeito e não chegam até aqui se não tiveram um currículo amplo e impecável.

      Pus-lhe uma mão no braço, tentando acalmá-lo. Tremia com violência. Era evidente que estava a conter-se. O polícia observou-o, como se tencionasse desafiá-lo a dar um passo em frente e continuar com a disputa. O aparecimento de um agente uniformizado pôs fim à luta de galos.

      — Inspetor! — chamou-o, quando chegou ao seu lado. — Temos uma coisa nas imagens.

      Ferguson virou-se e seguiu o agente. Gideon colou-se aos seus calcanhares e eu imitei-o. Não queria que a situação aquecesse mais do que o necessário.

      Outro agente teve de se desviar para permitir a passagem do seu superior para o interior do espaço pequeno que albergava o centro do controlo de segurança. Da última vez que estive tão perto, Scott estava do outro lado do balcão. Agora, estava morto. Não pude evitar sentir um arrepio. Talvez devesse contar-lhes que estive ali… ou talvez não. Continuava a pensar no assunto e, para ser sincera, não encontrava nenhum motivo de peso para confessar a minha… vamos chamar-lhe travessura, uma estupidez que, por outro lado, não se repetiria. Contar isso custar-me-ia o emprego, para além de me pôr numa situação muito comprometedora na investigação. Portanto, segui-os em silêncio e procurei um espaço atrás deles para ver o que o agente descobrira.

      Ferguson cheirava a tabaco e a suor, uma mistura desagradável que se completava com o hálito mentolado que exalava cada vez que falava. Deu-me a impressão de que tentava conter a necessidade de nicotina chupando um rebuçado, mas o resultado olfativo era uma mistura inaceitável para a minha pituitária. Esforcei-me para manter a distância, algo impossível no interior do cubículo de segurança, portanto, respirei fundo pela boca e sustive a respiração, expirando o mais devagar que pude para não me ver obrigada a voltar a cheirá-lo demasiado depressa.

      O técnico que controlava os comandos do vídeo esperou por uma indicação do inspetor para acionar o botão.

      — Juntei as imagens dos últimos minutos de vida do senhor Miller. Examinei as duas horas anteriores ao acontecimento e não vi nada de importância. Como vê — explicou, num tom monótono, ignorando o resto das pessoas que se juntavam à volta dele —, o Miller recebe uma chamada no seu telemóvel particular. Ouve, sorri, diz algo muito breve e desliga. Depois, guarda o telemóvel no bolso das calças e sai do balcão. Nas imagens seguintes, vemo-lo a abandonar o edifício pela porta lateral. Não parece que tenha tentado usar o rádio ou o telemóvel para informar o colega.

      — Tencionava voltar em pouco tempo — murmurou Ferguson. — Onde estava o outro guarda, o senhor García?

      O agente manipulou várias teclas e apontou para um dos pequenos ecrãs. Vimos o segundo vigilante a percorrer muito devagar um dos corredores do terceiro andar do edifício. Quase parecia mais um visitante, a passear com as mãos atrás das costas e a desfrutar dos quadros que enfeitavam a parede.

      — Declarou que o Miller não lhe disse que tencionava

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