Um club da Má-Lingua. Dostoyevsky Fyodor

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Um club da Má-Lingua - Dostoyevsky Fyodor

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c… cá… es… tou, guincha o principe ao entrar. É espantoso, querida amiga… que fecundidade com que acordou hoje este m… meu espirito! Ás vezes – talvez não acredites – mas acontece-me estar um dia inteiro sem me accudir um pensamento a esta cabeça…

      – Seria a tal queda d'inda agora que lhe abalou os nervos…

      – Tambem me quer parecer, meu amigo, ach… acho util, até, o tal accidente, tanto assim que estou resolvido a perdoar ao meu Pheophilo. Queres que te diga? – Palpita-me que não premeditará attentar contra os meus dias. E demais… já está bem castigado, cortaram-lhe as barbas.

      – Cortaram-lhe as barbas! – Que me diz? Elle, que tinha umas barbas mais compridas que um principado allemão.

      – Es… tá c-claro!.. sim… um principado. Em geral, meu amigo, são muito acertadas as tuas conclusões. Mas as barbas d'elle são postiças. Ora imaginem: Mandaram-me um catalogo: acabam de chegar do estrangeiro umas optimas barbas quer para cocheiros quer para gentlemen: suissas, barbas á hespanhola, pêras á império, etc.; tudo de primeira qualidade, por preços muito mó-mó-di… cos. E eu, então, encommendei umas barbas para cocheiro. Mandaram-m'as: Ma-a… gnificas! Mas a do Pheophilo era duas vezes mais comprida. E eu muito atrapalhado: que hei de eu fazer? Recambiar as barbas postiças, ou mandar rapar as do Pheophilo? Reflecti maduramente e resolvi em favôr das barbas postiças.

      – Prefere a arte á natureza, rico tiozinho?

      – Pois está claro!.. E que desgosto que elle teve quando se viu de cara rapada. Cada pêllo que lhe cortavam era um dia de vida que lhe tiravam. Mas não serão horas de sair, meu caro?

      – Estou ás suas ordens, tio.

      – Principe, ouso esperar que só irá a casa do governador! exclamou Maria Alexandrovna, muito sobresaltada. O principe, pertence-me, faz parte da minha familia, por todo o dia. Escusado é dizer, que não tenho nada que ensinar-lhe, pelo que diz respeito a Mordassov. Talvez queira ir fazer a sua visita á Anna Nikolaievna, e não tenho direito de o dissuadir de dar semelhante passo. Tanto mais que estou persuadida de que a sua propria experiencia lhe servirá de guia. Lembre-se de que, hoje, sou sua irmã, sua mãe e sua aia por todo o dia… Ah! Estou toda a tremer por sua causa, principe!.. O principe não conhece esta gente, não conhece, digo-lho eu… Não, que elle é preciso tempo para os conhecer.

      – Deixe o caso por minha conta, Maria Alexandrovna, disse Mozgliakov; tudo se passará conforme lhe prometti.

      – Entregar-me nas suas mãos, eu?.. O senhor é um estouvado? Cá o espero para jantar, principe. Costumamos jantar cedo. Que pena que eu tenho de que, n'esta occasião, meu marido esteja no campo! Havia de gostar tanto de o ver! Estima-o tanto! Dedica-lhe tão sincera amizade!

      – Seu marido? – Com que então… tem marido? —

      – Valha-me Deus! Que pessima memoria é a sua, principe? Pois esqueceu o passado a esse ponto? E meu marido, o Aphanassi Matveich, querem ver que tambem se não lembra d'elle? Está no campo, mas o principe, em tempos, viu-o, até, muita vez. Veja lá se se lembra; o Aphanassi Matveich?

      – Aphanassi Matveich! No campo? Ora vejam lá! Mas é delicioso! Tem então marido! Que ratice! Existe um vô… ô… de ville versando sobre o mesmo assunto: O marido á porta e a mulher na… Conceda-me licença!.. já me não lembro lá muito bem… a mulher safa-se para Tula… ou para Yoroslav!..

      O marido á porta e a mulher em Tver, rico tio, sopra-lhe o Mozgliakov.

      – Está c-claro, sim, é isso! Obrigado, caro amigo, exa… cta… mente… em Tver… É um encanto… um en… can… to… É assim… é!.. a mulher em Koxtroma… quero dizer… em conclusão… safou-se… Um encanto! um encanto! Mas já não sei o que é que eu ia dizendo!.. Ah! sim! vamo-nos embora, hein? Até á vista! minha rica senhora! Adeus… minha linda menina!

      O principe beija as pontas dos dedos á Zinaida.

      – O jantar! O jantar, principe!

      – Demore-se o menos que puder! brada Maria Alexandrovna deitando a correr atráz d'elle.

      V

      – Nastassia Petrovna, não seria mau ir deitar a sua rabisáca pela cozinha, disse ella apóz de haver acompanhado o principe. Palpita-me que aquelle traste do Nikitka é capaz de se tomar da pinga e deita-nos a perder o jantar.

      Obedeceu Nastassia Petrovna. Á saída, olhou para Maria Alexandrovna e percebeu que estava animadissima a digna senhora. Em vez de ir vigiar o tratante do Nikitka, Nastassia Petrovna dirige-se a uma saleta contigua, d'alli, enfiando pelo corredor, vae ao quarto, e esgueira-se para um cubiculo de despejos, atulhado de bahús, de vestidos velhos e de roupa suja de toda a familia. Nos bicos dos pés, acerca-se de uma porta fechada, sustendo a respiração, e espreita pelo buraco da fechadura: Aquella porta é uma das três que abrem para a sala (está condemnada). Maria Alexandrovna sabe que a Nastassia Petrovna é velhaca, pouco delicada, de poucos escrupulos, e muito capaz de escutar ás portas. N'este momento, comtudo, Madame Moskalieva está tão preoccupada, que se descuida de toda e qualquer cautélla.

      Senta-se n'uma poltrona e despede significativa olhadela á Zina. E a Zina a sentir o pêso d'aquelle olhar. Dá-lhe um pulo o coração!

      – Zina!

      A Zina volta com muito vagar para a mãe o descorado semblante e aquelles olhos sonhadores.

      – Zina, tenho que te falar em negocio importante.

      Está de pé a Zina; cruza os braços e espera. Deslisa-lhe pelo semblante expressão fugaz de despeito e de ironia.

      – Quero perguntar-te qual é a tua opinião a respeito d'este tal Mozgliakov?

      – Está farta de saber a conta em que o tenho, responde a Zina com modo constrangido.

      – Pois sim, filha, mas está-me parecendo que se vae tornando um tanto ou quanto impertinente, atrevido; e em conclusão, aquella sua insistencia…

      – Diz elle que me ama; se assim fôr, acho perdoavel a sua insistencia.

      – Admiro-me de uma circumstancia: tu, d'antes, não o desculpavas, assim, tanto;… antes pelo contrario, eras, até, muito rispida para com elle, sempre que eu a elle me referia.

      – E a mim, o que me causa admiração é outra circumstancia: A mamã, d'antes, estava sempre a defendêl-o, e é agora a propria a condemnál-o.

      – Confesso que me sorria este casamento. Custava-me vêr-te assim sempre, tão triste. – Avaliava bem a tua tristeza, – pois sou capaz de a comprehender, seja qual fôr o juizo que faças a meu respeito. – Chegou até a tirar-me o somno! Em summa, estou convencida de que só uma mudança radical na tua vida te poderia salvar, e essa mudança, ha de ser o casamento. Não somos ricos, não podemos ir dar a nossa volta pelo estrangeiro. Os asnos que povoam esta cidade espantam-se de te ver ainda solteira aos vinte e três annos e inventam fabulas a tal respeito. Mas poderei eu dar-te por marido para ahi um conselheiro d'esta estupida cidade ou o Ivan Ivanovitch, nosso procurador? Haverá por aqui marido á altura dos teus merecimentos? É certo que o Mozgliakov é apenas um peralvilho, e com tudo isso, de todos elles, é ainda o mais acceitavel. É de boa familia, dôno de cincoenta mil almas: sempre valerá mais que um procurador que vive de propinas e á custa Deus sabe de que tranquibernias. E eis o motivo porque me lembrei d'elle. Tanto menos verdadeira

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