Brincadeiras Do Mar. Marco Fogliani
Чтение книги онлайн.
Читать онлайн книгу Brincadeiras Do Mar - Marco Fogliani страница 3
E assim dizendo libertei-o sim do anzol, mas não antes de o ter amarrado a cauda num outro fio também robusto. E amarrei-o bem forte, por temer que poderia agitar-se ajudando-se com as suas escamas escorregadias, que talvez sofreria pior ainda por esta atadura do que pelo anzol que tinha na boca primeiramente.
Desconfiado que não existe outro. Mas verás que te arrependerás amargamente desta falta de confiança: porque se tu tivesse me libertado completamente, te teria transformado num homem num homem mais rico da nação. Talvez não percebeste que sou um peixe mágico? Ou pensas que qualquer peixe possa falar?
“ Sim, podes bem dizer que sou desconfiado; mas se na vida tivesse dado crédito a quem fazia promessas extraordinárias como as tuas a esta hora não estaria certamente aqui tranquilo a pescar, mas pobre a pedir esmola por aí. E de todas as maneiras fui de palavra e atendi o seu pedido, visto que tu querias que te libertasse do anzol e te deixar na água. Agora cabe a ti ser de palavra: dentro dum tempo colocarei os cestos nos cantos do barco a tu deves enchê-los.”
Mas não obstante as minhas precauções aquele, uma vez no mar, com um escorregar logo livrou-se da atadura a cauda. Será que vai cumprir, pensei, aclamando comigo mesmo a ideia de voltar para casa com abundante peixe. Mas enganava-me.
“ Bem te disse que sou um peixe mágico. Mas aquilo que não te disse é que querendo poderei permanecer tranquilamente fora de água o tempo que quiser, e até caminhar e correr.”
E para me fazer ver saltou de novo sobre o meu barco, quase dançando à minha volta como quem me desafiasse de apanhá-lo. Mas depois dum tempo, visto que não colhia a provocação (já estava claro que era realmente mágico, e que quisera apenas pôr-me a prova), atirou-se de novo na água.
“ Pois sou um peixe de palavra, e manterei o que prometi.”
E de facto em poucos minutos tinha enchido os meus três cestos, todos aqueles que tinha a bordo, um unicamente de moluscos e crustáceos, o outro de peixes grandes e o outro de peixes pequenos;alguns trazendo-os com a boca, e outros que saltavam para dentro sozinhos, mesmo por magia. Tanto que depois tive que passar do mercado do peixe, procurando alguém que me comprasse aquilo que restava às minhas necessidades.”
“Sem delongas”, lhe disse eu.
“É verdade, respondeu-me.” Mas pensando bem creio que uma parte do merito por todo este pescado tenha sido também tua. Desejaste-me boa sorte, e me trouxeste realmente tanta, talvez como nunca a tive. Sei que quando te convido para a pesca dizes sempre não: mas o que achas então de vir jantar comigo, esta noite? Tudo é comigo: talvez tragas tu só uma garrafa de vinho, branco, naturalmente.”
“Porque não, Osvaldo. Conta comigo. É conveniente para ti se marcarmos para as sete e meia?”
“Está bem. Então agora te deixo, porque devo dar um salto no mercao do peixe. Até a noite, então.”
Osvaldo saiu, e eu permaneci com calma terminando o café.
“E tu o que pensas daquilo que contou o meu amigo Osvaldo?”, perguntou ao Vincenzo, o bar man, que naquele momento estava ocupado a lavar algumas chávenas.
“Achas que haja mesmo algo racionalmente credível em tudo aquilo que disse?”
“Desculpa, não ouvi perfeitamente o que disse”, respondeu-me ele sem delongas.
“Petas. Todas petas de pescadores”, continuei eu. “Questiono-me porquê todos os pescadores são todos assim, pelo menos aqueles que conheço: fantasistas e exagerados. Talvez estar fora durante a noite, saltar os ritmos naturais do sono e da luz lhes cria estas piadas, sabe-se lá.”
Paguei-lhe o meu café e saí.
“Eh, um momento. Estás a esquecer algo aqui em cima do balcão. Talvez seja o teu amigo que esqueceu. Como é que se chama?
“Osvaldo”, respondi-lhe. Eu não trazia nada comigo. Verifiquei se por acaso fosse coisa de Osvaldo. De facto havia duas facturas do mercado do peixe, e havia em cima o seu nome como vendedor. Pois havia uma outra coisa que não percebia o que seria, e… isto o que é? Uma foto. Feita de noite, com flash. Trazia no braço um peixe gigantesco, quase mais grande que ele. E, parece estranho dizendo, tal grande peixe parecia propriamente que estivesse a sorrir.
OS MONSTROS MARINHOS
Peço desculpas desde já se de vez em quando na minha tradução tive que fazer consistentes arranjos ou então tive que omitir alguns detalhes: quer porque eu mesmo certas coisas não consegui compreendê-las, quer porque alguns conceitos em si não são facilmente compreensíveis por um ouvinte humano. O facto é que obtive esta história na fonte, isto é precisamente lá em baixo no fundo do mar, onde desenrolou.
È justo pois que vos esclareça antecipadamente como usei algumas palavras, e como são interpretadas.
Quando falo de “tentaculados” refiro-me a uma daquelas espécies de lulas gigantes que habitam as zonas mais profundas dos abismos marinhos. Um tentáculo, além da sua parte anatómica, é também a unidade de comprimento por eles usada: corresponde ao tentáculo mais comprido que um adulto de médias dimensões.
Até as palavras mamã, filhos, machos e fêmeas têm um significado muito relçativo para uma espécie onde se conhece biologicamente e zoologicamente assim pouco, e onde cada novo exemplar do qual ficamos na posse contribui para melhorar o nosso conhecimento. Dias e semanas significam ainda menos, lá onde uma luz que filtra pode considerar-se apenas como um caso milagroso (ou catastrófico).
Na linguagem deles, a palavra “peixe” indica qualquer ser que é ou estava vivo, e como tal pode constituir alimento; poe isso organismos em geral, e particularmente animais. Os “invólucros” são pelo contrário tudo aquilo que é constituido por material muito duro e não comestível. Assim são chamados, entre o outro, os objectos pesados e geralmente metálicos que precipitam das altas altitudes: trata-se geralmente de detritos de embarcações de cada tipo, cabos, tubos ou coisa igual.
Quanto ao “Vale das pontas”, para terminar, não saberei dizer exactamente onde se encontra, mas penso que não esteja muito distante donde, em agosto de 2002, verificou-se um famoso desastre aereo, numa tentativa falhada duma amarradura de emergência, morreram quase duzentas pessoas cujos corpos não foram ainda recuperados, e talvez nunca o serão.
Os irmãos Darko e Dalko eram dois jovens exemplares machos tentaculados, em pleno das suas forças e do seu vigor, e pelo contrário podia-se dizer que estivessem extraordinariamente mais robustos do que os seus conterâneos similares.
Eram corajosos mais de qualquer outro; também demasiado, pensava a mamã deles. Não pareciam preocupar-se excessivamente nem do calor, nem da luz ou do ruido que subindo de altitude tornam-se enfadonhos ainda mais, e para alguns completamente insuportável. Dirko e Dalko moviam os seus compridos, fortes e elegantes tentáculos em comprimento e em largura pelas extensões aceanicas, de vez em quando ausentando-se durante dias e semanas inteiras, mas sempre voltando ao encontro da sua amamda mãe.
“Devem estar atentos! O mar tornou-se muito mais perigoso do que era quando criança. Recentemente aconteceu um