Brincadeiras Do Mar. Marco Fogliani
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Não tinha nem sequer terminado de falar que os dois jovens tinham já colhido aquele que parecera para eles um desafio, e tinham começado a explorar as profundidades à procura do monstro. Não foi didicil encontrá-lo. As suas enormes barbatanas emanavam ainda calor. Os tentáculos dos dois irmãos não conseguiram nem arranhá-lo nem afastá-lo por um milimetro, assim como não conseguiram outros tantos tentaculados, ainda hoje presentes no lugar, que estavam a coordenar os próprios movimentos e as próprias energias num esforço de grupo.
“Se tivesse sido um peixe, teriamos tido um stock de comida enorme.” Era aquilo que pensavam todos. “Pelo menos nos classicos invólucros algum peixe encontra-se sempre; mas aqui, ainda que encontrassemos no interior, não conseguiriamos trazê-los para fora.”
Mas como diz o notável proverbio submarino, o cardume move-se sempre em grupo. E assim para aquele caso seguiram outros não menos estranhos e preocupados, todos muito próximos seja no espaço como no tempo.
Não passou mais de um dia que começou a perceber-se um tremor. Era o mesmo tipo de ruido que há anos tinham-se habituado (resignados) a suportar, mas sempre isoladamente e durante pouco tempo. Este novo, continuo e ininterrupto, era pois um outro negócio.
Incomodava o sono e a vigilia deles; deixava escapar as presas. Não conseguiam tão-pouco mais unir-se. Logo estavam todos tão nervosos e agitados, que por um nada eclodiam rixas e brigas. Decidiram por isso de reunir o conselho da zona (era enorme que não se fazia mais). A proposta que estava a ter maior seguimento era aquela de emigrar todos para uma outra zona abissal, com os riscos que isso teria comportado.
Estavam ainda reunidos nesta mesma assembleia, quando uma nojenta luz começou a escer do alto. Primeiramente vislumbrou-se apenas; depois à medida que descia, tornava-se sempre mais deslumbrante e maçadora. A partir dos mais de velhos começavam a dispersar-se em procura de refúgio. O presidente, antes de distanciar-se, proclamou que o conselho reunir-se-ia poucos minutos depois, na zona limitrofe com a vale das pontas.
Era uma escolha não totalmente desprovido de perigos e incognitas, porque aquele território constituia motivo de continuas escaramuças com a outra tribu de tentaculados.
Dirko e Dalko, juntos a uma outra meia duzia de jovens, não digeriram esta decisão.
“Este território é nosso, e o defenderemos a qualquer custo. Ninguém foi permitido de atrapalhar as nossas reuniões, e muito menos de contrastar o nosso predomínio dentro destes limites. Terão que passar por cima de nós.”
Um punhado de tentaculados os seguiu enquanto subiam em direcção daquela luz. Alguns tentaram de turvar a água com areia, além de toda tinta que tinham no corpo. Outros, que tinham notado o quanto os raios luminosos estivessem endereçados para baixo, procuram de alcançar o alvo pelo alto, com uma manobra circundante. Aquela lâmpada, e o subtil cabo que sustentava, foram agredidos por um grupo de fortes tentáculos enlouquecidos pelo ódio; quem puxava duma parte, quem da outra, com a raiva e a força geralmente reservada aos peixes mais ferozes e perigosos. Naquele abanão a luz começou antes a vacilar e depois a atenuar-se, até que, levada a fracassar-se contra uma parede rochosa, apagou-se completamente deixando precipiatar-se alguns dos seus fragmentos para o fundo novamente escuro.
A luta não foi totalmente indolor. Alguém com ímpeto submeteu algum pedaço de tentáculo; outros, em contacto com a fonte luminosa, arranjaram feridas e inflamações, em alguns casos também muito dolorosos.
Aqueles valorosos jovens foram dali em diante tratados por aquilo que efectivamente tinham demonstrado: por heróis corajosos. Tiveram pleno reconhecimento de todos, também dos mais velhos, os quais lhes encarregaram pela defesa do território por mais que estivesse nas suas capacidades.
Recomendaram a eles a maxima prudência porque julgavam que o perigo não se podia dizer certamente de ter passado. A maioria, pelo contrário supunham que a situação estaria logo piorada, depois do sucessido. Assim enquanto os mais velhos, procurando de travar relações pacíficas com os vizinhos, preocupavam-se de nivelar a rua e uma eventual emigração, os jovens heróis encarregavam-se da vigilância, organizando turnos de ronda e equipando-se contra um novo possível ataque. Foram predispostos abrigos de emergência e recolha de stock de pedras e outros fragmentos de invólucros, considerados os meios mais válidos para opôr-se contra eventuais outros perigos provenientes de cima.
A recordação daquela luz do alto era ainda viva em toda a comunidade (desde então o ruido do fundo não tinha cessado nem sequer tão-pouco) e o stock de pedras não tinha sido ainda ultimado quando sobreveio um outro perigo. Era um grande globo com muitos olhos, que desciam de cima não verticalmente como uma rocha, mas com amplas aspirais e rotações irregulares, como um peixe já saciado ainda em procura de comida. Era de cor amarelo, mais que a sua fraca luz intermitente e florescente tinha deixado alarmados os jovens de guarda e todos outros, rapidamente afastaram-se das suas actividades para enfrentar a nova emergência. Dentro daquele amarelo os olhos liquidos deixavam vislumbrar outros pequenos peixes flutuantes: nada porém que deixasse pensar a uma indole onfensiva.
“Tenha calma. Parece bastante robusto e tranquilo. Talvez não tem más intenções e se distanciará com a corrente assim como veio.” Dalko sempre tinha sido por natureza o mais prudente entre os dois irmãos, e tinha mostrado sempre um particular interesse na observação seja dos peixes que dos invólucros onde lhe acontecia de embater-se nas suas passeatas oceanicas. Dirko era pelo contrário mais agressivo: e dade a sua corpulência não tinha medo de nada.
Aquele monstro amarelo parou em frente deles. Por dentro dos seus olhos outros olhos pareciam fixá-los. Dalko, observado, o estudava por sua vez com curiosidade e um pouco de apreensão. Dirko pelo contrário era fácil enfurecer-se, como um duelista até ao ponto de por a mão na arma, e percebia no intruso a sua mesma atitude.
“Tenha calma, Dirko, não te enerves.” Os outros tentaculados observavam um pouco mais distantes, não sabendo o que fazer e o que esperar.
“Se não resolve de ir embora sozinho sem cerimónias o convencerei eu duma ou doutra forma”. As dimensões do intruso eram maiores do que as suas; mas Dirko tinha consigo a tranquilidade de muitos amigos dispostos em dar uma mão se necessário.
Foi assim que, quando a esfera amarela fez um posterior movimento lento e prudente em direcção ao fundo da comunidade, Dirko lançou-se contra sem hesitação. Criou-se uma situação incrível. Uma massa de tentáculos enfureceu-se contra aquela esfera lisa, cobrindo uma boa parte; mas cada esforço parecia inútil. Talvez não conseguiam simplesmente torná-la presa, ou descortinar um ponto fraco no inimigo; o qual aparentemente parecia inofensivo, imóvel, sem armas ofensivas nem de defesa a parte a impenetrabilidade da sua carapaça. Os outros tentaculados não resistiram muito de espectadores àquele vão e desesperado escoiçar do chefe deles. Devagarinho uniram-se à luta, até que do amarelo da esfera, transformada enfim num montão de polpa e tentáculos em movimento, não se distinguia mais nada.
A situação não mudara com o aumento do número dos combatentes; mas o enredado montão em luta começou, antes lentamente e depois mais decidido, a perder altura dirigindo-se para o fundo, talvez por uma deliberada estratégia ou simplesmente pelo efeito da gravidade.
A descida era enfim evidente, quando a situação tomou uma viragem imprevisível. Um, dois assobios, e duas novas apêndices esfericas desenvolveram-se no corpo amarelo, modificando improvisamente o assento. Tendiam para cima, e levaram consigo emaranhada massa baralhada a levantar-se; entretanto continuavam a espandir-se avolumando-se. Estas protuberâncias, que a pressão dos tentáculos deformava com uma certa facilidade, iludiu o pelotão