Canções De Natal Na Velha América. Patrizia Barrera

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Canções De Natal Na Velha América - Patrizia Barrera

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quando perguntado se ele se orgulhava de seu sucesso, Marks confessa abertamente: "Bem, não estou muito feliz por ser lembrado apenas por canções de Natal!"

      RUDOLPH, A RENA DO NARIZ VERMELHO

      Um elogio à diversidade

      Quem não se derrete ouvindo a fábula de Rudolph, a rena do nariz vermelho? Embora tenha sido criada há muito tempo, a fábula da criatura "diferente", que por isso foi isolada pelos seus colegas até a sua aceitação pelo próprio Papai Noel, está gravada no coração de toda criança que vive uma história parecida e tenta superar seus próprios complexos. Na realidade, se trata de uma verdadeira inovação no campo da literatura infantil, que pela primeira vez percebe a fragilidade do universo "adolescente", oprimido por fenômenos de discriminação e intimidação. Se pensarmos que Rudolph ganha vida em 1939, não podemos deixar de nos maravilhar com sua poética, além de ser bem atual e de reconhecer a própria profundidade humana. A pequena rena, nascida da mente e do coração de Robert Lewis May, vive uma história simples, mas corajosa: nascido com um enorme nariz vermelho, brilhante e quase cintilante, Rudolph é desprezado pelas outras renas, que nunca brincam com ele, e ainda por cima riem dele. Ele, desse modo, permanece sozinho, marginalizado, destinado à solidão perpétua. Seu porte físico não o ajuda, porque a doce criatura é pequena, magra, muito diferente da imagem clássica do bebê americano rechonchudo, na qual todos os filhotes de contos de fadas, bons ou maus, são inspirados.

       FOTO 7. Essa é a primeira versão de Rudolph, no livro original de 1939. Embora muitas vezes comparado a Bambi da Disney, o primeiro Rudolph não se parece nada com ele. Como podem ver, se trata de uma pequena rena, com traços NÃO infantis e muito semelhantes ao animal em carne e osso. Será só mais tarde, com o advento dos desenhos animados, que sua imagem será modificada. A cabeça redonda, olhos grandes e corpo barrigudo que lhe serão atribuídos lembram a imagem clássica do recém-nascido e são construídos especificamente para inspirar ternura.

       Rudolph então cresce em nostalgia pelo mundo exterior, do qual é excluído; no entanto, a solidão não amargura seu coração, que se mantém cheio de amor e esperança. À sua maneira, ele é grato pelas pequenas coisas que a vida lhe reserva, e as desfruta serenamente, sempre esperando pelo futuro. E então vem o milagre: Papai Noel tem que entregar seus presentes na Véspera de Natal, mas a noite é tão escura e enevoada que suas renas não sabem para onde ir e voam perdidas no céu. Há, portanto, o risco de deixar todas as crianças do mundo sem presentes de Natal! Papai Noel fica aflito, mas... no escuro da noite ele vê uma luz que ilumina o coração da floresta. É o nariz da pequena rena, a olhar para as estrelas refletidas no rio. Quando Papai Noel vai até ele para pedir ajuda, a pequena rena aceita de imediato guiá-lo na entrega de presentes para o mundo que sempre o rejeitou, porque seu coração não conhece o rancor. Será assim que Rudolph se tornará uma rena do trenó do Papai Noel, e seu lugar será o de líder. Entre elogios e aplausos, as outras renas serão finalmente capazes de olhar "além" de sua aparência e reconhecer as virtudes de sua "diversidade".

       A moral salta aos olhos pela sua impressionante modernidade, especialmente se pensarmos na América moralista e racista dos anos 40, no anseio congênito pela uniformidade pública e nas campanhas homofóbicas antes da guerra. A pequena rena com um grande coração conquistou até mesmo as mentes mais duras e menos maleáveis, trazendo consigo um sopro de mudança que nem todos perceberam logo de cara, mas que persistiria ao longo do tempo. Outro milagre de Natal? Não é bem assim. A fábula de Rudolph apresenta uma história comovente, que foi amplamente divulgada com um incrível cinismo na fase de venda do novo personagem.

       É importante mencionar que seu criador, Bob May, foi copywriter na grande rede de lojas Montgomery Ward. Seu trabalho consistia em criar novos personagens de contos de fadas que, durante a época de festas, ajudavam a vender brinquedos, livros e acessórios de Natal. Tanto as grandes empresas quanto a indústria musical usavam esta estratégia; todos os anos eram produzidas novas canções relacionadas com o Natal. As vezes estes personagens se tornavam tão famosos, que envolviam a produção de toda uma gama de acessórios de fácil comercialização e lançavam "moda". Camisas, broches, fantoches e logos muitas vezes acompanhavam uma ou outra canção e um ou outro personagem. Exatamente como acontece hoje em dia, quando é lançado um filme de sucesso (não podemos esquecer, por exemplo, a série de acessórios inspirados em Os Caça-Fantasmas, em Toy Story e - porque não - em Titanic).

       Nos anos 30, as lojas de brinquedos costumavam dar livros de colorir para as crianças com fins publicitários. Os berros das crianças para ganhar um livro forçava os pais a visitarem essa ou aquela loja, abrindo as portas à potenciais compras. O trabalho do copywriter era, portanto, o de produzir todos os anos um material atraente com o objetivo de fazer brilhar os olhos do público infantil, sem perturbar os adultos. Mas Bob May também era um artista: em um artigo do jornal Gettysburg Times em 1975, ele mesmo revela os bastidores da história do nascimento de Rudolph.

       FOTO 8. Esse é um belo retrato de Bob May no início dos anos 40. O artista confessou muitos anos mais tarde, pouco antes de sua morte, que de fato a figura da pequena rena foi inspirada em si próprio quando criança, época em que foi vítima de bullying. A revelação desacreditou a imagem da boa sociedade americana, que não estava de modo algum pronta para reconsiderar a verdadeira natureza dos alunos de suas próprias faculdades. O fenômeno do bullying é agora infelizmente conhecido, mas nos anos 20 e 30 era proibido falar sobre isso, mesmo em ambiente familiar. May confessou ter tido pensamentos trágicos de suicídio e de superá-los graças ao amor de seus pais que, embora muito pobres devido à crise da Grande Depressão, conseguiram dar-lhe estudos e oferecer-lhe um futuro.

       "Um jovem chamado Robert May, infinitamente triste e de coração partido, naquela noite na véspera de Natal olhou pela janela e viu correntes de gelo entrando. Barbara, sua filha de 4 anos, se escondeu em seus braços chorando. Sua mãe, a esposa de Bob, querida Evelyn, estava morrendo de câncer.

       - Porque a mamãe não é como todas as outras mães? - perguntou a pequena Barbara, ao olhar nos olhos do pai. Porque ela está sempre na cama de olhos fechados e não brinca comigo? -

       A mandíbula de Bob se contraiu e seus olhos se encheram de lágrimas; sentia em seu coração muita dor, mas também muita raiva. Sua vida sempre foi dura desde criança, desde quando sua aparência estranha o fez vítima das piadas e ofensas de seus colegas de escola. Era o patinho feio sem esperança de transformar-se um dia num lindo cisne. Lembrando amargamente os apelidos horríveis que recebeu quando criança, ele decidiu poupar sua doce menina da dor de ser chamada de "órfã". Ele lutaria. Era véspera de Natal, pelo amor de Deus! E sua querida Evelyn estava morrendo. Não havia dinheiro na casa, tudo tinha virado fumaça nos medicamentos desnecessários que não tinham servido para salvar a esposa querida, que tinha conhecido e amado desde os tempos da faculdade. Pensou em sua filhinha, que receberia como presente de Natal apenas a morte de sua mãe, e percebeu que não era o momento de se render.

       "Você vai ter o melhor presente de Natal já recebido por uma criança!" - decide em seu coração. Com isso, começa a escrever impulsivamente a história de uma pequena rena com um grande nariz brilhante que, beneficiada pelo Espírito do Natal, iluminaria para sempre as noites escuras de sua infância.

      

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