Canções De Natal Na Velha América. Patrizia Barrera

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Canções De Natal Na Velha América - Patrizia Barrera

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a história para a jovem moribunda, ela apertou a filha no peito pela última vez, sorrindo com o pensamento de deixá-la nas mãos da pequena rena…”

       FOTO 9. Não consegui encontrar foto da pobre Evelyn, mas essa de Bob May com sua filha Barbara rodou o país e amoleceu os corações de milhões de mães. Talvez seja esse o segredo da longevidade da fama da pequena rena?

       Claramente, embora sugestiva, se trata de uma história romantizada, digna de um escritor do passado. A realidade foi bem diferente e, em muitos aspectos, mais desagradável.

       Em 1938, os danos da Grande Depressão eram muito evidentes na sociedade americana: a crise tinha levado a uma redução gradual na alegria de gastar, e o Natal tinha perdido grande parte de seu apelo consumista. Os pais mantinham as carteiras bem fechadas e até as mesas festivas pareciam menos coloridas. A atmosfera era cinzenta e as vendas de brinquedos baixaram drasticamente: por outro lado, mesmo as grandes cadeias de lojas não pareciam propor nada de novo. No ar ecoava as notas das canções de Natal clássicas, e até mesmo as luzes da indústria da música pareciam desligadas. Ou seja, ninguém queria arriscar, e as famílias pareciam estar totalmente adaptadas a uma atmosfera de austeridade.

       Mas não as lojas Ward, que tinham na história do seu fundador Aaron Montgomery uma experiência de vanguarda: apesar da depressão e da crise, recrutou o melhor entre os seus copywriters para dar vida a um personagem tão envolvente que podia brigar até mesmo com Mickey Mouse.

       A história do fundador da grande cadeia é indicativa. Ward era apenas um caixeiro-viajante e, em 1872, teve uma ideia no mínimo futurista: iniciar um negócio de vendas diretas, produtor-consumidor, apostando em fornecedores e varejistas e baixando drasticamente os preços. O seu primeiro catálogo, que foi enviado por correio às partes interessadas, consistia numa única página e os primeiros artigos eram ferramentas de trabalho muito comuns para os agricultores. Mas a ideia teve sucesso imediato e, depois de apenas dez anos, Ward foi capaz de vender pelo correio através de catálogos 163 itens diferentes para vários usos (incluindo um dos primeiros fogões a lenha baratos) expostos em 237 páginas! Foi ainda Ward, em 1875, quem inventou a fórmula de "garantia de devolução de dinheiro", o que o levou a um salto para a liderança em popularidade entre os consumidores! A rede Ward desfrutou de um monopólio de vendas por correspondência até 1886, quando nasce a Sears (que a leva à falência muitos anos depois). Todavia, em 1919 Montgomery Ward foi listada na bolsa de valores abrindo sua cadeia de lojas, e foi uma das poucas grandes empresas a sobreviver à crise de 29, quando houve o colapso da Bolsa de Valores. Indomável como poucos de seus rivais, em 1938 Ward decidiu investir grande parte de seus recursos no futuro; e fez isso através do público infantil, como era justo que fosse.

       FOTO 10. Foto do primeiro catálogo de página única do império em ascensão Montgomery Ward de 1875! Em poucos anos as vendas por correspondência dispararam e Ward teve a brilhante ideia de economizar nos custos de transporte estabelecendo um limite de peso. Parece que os embaladores eram tão rígidos no respeito às regras, que muitas vezes roupas pesadas como os casacos (que eram muito pesados na época) eram descosturados e enviados em dois pacotes diferentes... e vinham com agulha e linha para costurar de volta!

       A ideia era "lançar" um personagem engraçado, porém viril, símbolo da própria cadeia. O primeiro "pupilo" da iniciativa foi um certo Touro Fernando proposto não se sabe por quem, que foi descartado de uma vez devido a má publicidade das touradas. O personagem de May disputava com outros, mas foi de longe o favorito devido à sua característica delicada e índole submissa. Ele também estava tragicamente falido, já que a doença súbita de sua esposa Evelyn, que sofria de câncer há mais de dois anos, tinha drenado suas economias já escassas. O incentivo econômico que Ward prometia ao criador do personagem iria colocar as coisas de volta ao eixo. Bob cuidava de Evelyn e de sua filha, movendo-se loucamente entre o hospital, a casa e o escritório. Em consideração a sua situação, foi-lhe permitido trabalhar a maior parte do tempo de casa: foi lá que o artista teve sua inspiração graças à sua filha Barbara (a única nota verdadeiramente poética de todo o caso). A pequena era fã dos contos de fadas de Papai Noel e suas renas; ela adorava filhotes de cervo, se comovia vendo a mãe cerva e se derretia em lágrimas quando pedia ao pai que a levasse ao zoológico... ele, por razões econômicas, não podia. Bob May coloca grande parte de sua alma no coração da pequena rena: inventa um personagem "diferente", alienado, triste e solitário, que não podia ser outro senão ele mesmo, um menino feio e de óculos. E o faz seguindo um padrão poeticamente infantil ditado pelo amor por sua filhinha, e que se encaixa perfeitamente no espírito do Natal.

       FOTO 11. Embora muitas vezes comparado a Bambi da Disney, as características originais das renas são muito diferentes dos inocentes filhotes de cervo. Como podem ver na imagem original de 1942, Bambi já apresenta os sinais da iconografia clássica de filhotes adoráveis: cabeça redonda, orelhas grandes e olhos pungentes. A Disney produziu o filme em 1942, quando Rudolph era já muito famoso. Coincidência ou plágio?

       Este foi o único grande milagre do nascimento de Rudolph: o resto é apenas uma lenda. Evelyn não morre na véspera de Natal de 1938, como dito muitas vezes. Naquela época, ela estava em coma, hospitalizada em um quarto de hospital muito comum, onde, no entanto, seus entes queridos costumavam visitá-la. Ela morre em julho do ano seguinte, entre uma menina chorando e um copywriter que ainda não tinha encontrado a força para terminar sua história. Ele terá sucesso alguns meses depois em tempo recorde em função do aluguel não pago e do perigo de ser despejado.

       E Rudolph não foi a súbita "revelação" que operou milagres no terrível diretor de vendas, Sewel Avery. Na verdade, Rudolph com aquele nariz vermelho que lembrava o de um bêbado, foi imediatamente descartado não só uma, mas duas vezes! Temos de compreender isto: o eco do proibicionismo ainda se fazia sentir, e apresentar ao público infantil uma imagem pseudo-alcoólica não parecia conveniente para as lojas Ward, ainda que fossem progressistas. Mas Bob, agora determinado a seguir em frente e receber a abençoada promoção, tirou da manga sua cartada triunfal: pede a ajuda do ilustrador jovem e promissor Denver Gillen, muito talentoso e ambicioso. O jovem fez exatamente o que fazem os grandes atores fazem quando entram completamente no papel: teve uma conversa com a pequena Barbara (verdadeira inspiradora do personagem), e logo percebe que aquele nariz vermelho não era uma pura invenção, mas um detalhe em um certo tipo de cervo que a menina tinha visto há muito tempo no zoológico. Ao passear pelo zoológico, ele logo percebeu que se tratava do caribu, um animal dócil cujo filhote parece frágil e indefeso e que, ao nascer, apresentam um nariz rosa escuro muito particular. Seus desenhos foram capazes de capturar aquela ternura instintiva que, apesar do aspecto não muito feliz, os pequenos sabem como infundir em sua própria espécie; conseguiu trazer leveza a uma história triste, bem adequada para um Natal reflexivo e, com isso, finalmente conseguiu conquistar o terrível Sewel Avery, diretor de vendas Ward.

       FOTO 12. Esse é o esboço original da pequena rena em 1939, tal qual apresentado por Denver Gillen. As características do personagem não eram bonitas, mas a fragilidade do desenho, que parecia sair diretamente de um mundo de contos de fadas, conquistou a todos.

       Vários nomes foram descartados, entre eles Rollo e Reginaldo. Por fim, a pequena rena ganhou o nome de Rudolph, que evocava uma imagem certamente mais "masculina" que os anteriores. Depois de uma

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