O Duque e a Corista. Barbara Cartland
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Pegou do chão o papel que o professor havia derrubado e colocou-o diante dele. Sentou-se em uma cadeira, encarando-o como se o visse pela primeira vez.
Ninguém tem um pai tão distinto, pensou ela. Seus cabelos grisalhos modelavam-lhe o rosto enérgico. Seus traços pareciam pertencer a um homem de uma outra era e sempre a fascinavam. Podia entender perfeitamente o fato de a mãe ter se apaixonado por ele, quando se encontraram pela primeira vez. Seu pai sentira o mesmo.
—Sua mãe era muito bela— ele dissera centenas de vezes a Larentia, quando conversavam a respeito da mulher que ambos haviam amado—, tinha sangue húngaro e acho que isto contribuía para a beleza dos cabelos dela, que eram semelhantes aos seus, porém um pouco mais escuros.
—Ela me parecia uma princesa de contos de fada. Lembro-me de que, quando vocês iam jantar fora, eu costumava pensar que as pessoas paravam na rua, a fim de olhá-los.
O professor riu e em seguida disse, muito sério:
—Pode imaginar o que significava para mim não possuir nada de valor, a não ser meu cérebro, quando sua mãe disse que se casaria comigo?
—Lembro-me de ela ter contado isto. Disse-me também que a única coisa que importava no mundo era o amor. Sentia-se muitas vezes milionária pelo fato de o senhor a amar.
Notou o quanto suas palavras haviam agradado ao professor.
—Trabalhei bastante hoje, mas agora sinto-me um pouco cansado, Larentia.
—Tome o café, papai, e tente repousar. A tarde está linda e quero sentar-me no jardim, mas não demorarei muito, caso precise de mim.
—Você não vai sair sozinha para a rua, a esta hora…
—Claro que não, papai. Prometi que jamais faria uma coisa destas.
—Devia ter sempre alguém em sua companhia, mas como faremos para pagar uma criada, no momento? Quando terminar este livro, tenho certeza de que fará mais sucesso do que os outros. Minha nova pesquisa sobre o rei Artur é bem diferente das que realizei antes. Acho importante que Alfred Tennyson tome conhecimento do que descobri recentemente.
—Parece-me que o Sr. Tennyson mora na ilha de Wight desde que se casou— observou Larentia, com frieza.
Não queria que seu pai soubesse o quanto a magoara o fato de Alfred Tennyson, o célebre homem de letras, ter consultado o professor, visitando-o continuainente, enquanto trabalhava na obra Os idílios do Rei.
Ao terminar o livro, olvidou totalmente a assistência recebida do maior dos especialistas no assunto. Seu pai ficou magoado diante da indiferença do homem cujo trabalho admirava e nunca mais tocou no nome de Alfred Tennyson. Ocorreu no entanto a Larentia que poderia solicitar sua ajuda.
A carga da Brigada Ligeira devia ter proporcionado uma fortuna ao Sr. Tennyson. Sabia que “O Santo Graal e outros Poemas”, tinha sido publicado naquele ano, mas não tinha meios de adquirir um exemplar para seu pai.
Acho que Alfred Tennyson, esqueceu-se completamente da existência de papai, disse a si mesma, com amargura.
Ao contemplar o semblante sereno e belo de seu pai, pensou que não devia preocupá-lo ou amargurá-lo com a traição de seus amigos ou inimigos.
—Quando tiver descansado, papai, trarei o jantar e, enquanto estiver comendo, lerei em voz alta o que o senhor escreveu hoje. Tenho certeza de que será muito interessante.
—Você sempre me encoraja, querida!
Ao retirar a xícara e colocá-la na bandeja, pensou que ele, de fato, se encontrava muito fatigado e o esforço de escrever tornava-se cada dia maior.
—Não está sentindo dor, papai? — perguntou, sentindo dificuldade em enunciar tais palavras.
—Somente um pouco. Não é nada.
Larentia manteve-se em silêncio. Atravessou o quarto, fechando um pouco a veneziana. Enquanto descia a escada, carregando a bandeja, ouviu que batiam à porta da frente e ficou imaginando quem poderia ser.
«Imagine só se for uma carta dos editores, comunicando a papai que venderam inesperadamente muitas cópias de seu último livro!» pensou.
Sabia, porém, que aquilo não passava de uma fantasia.
O livro que ele escrevera sobre o Rei Artur, traduzido do inglês para galês, o “Y Gododdin”, não tinha um único exemplar vendido há um ano, o que significava que o público não se mostrava interessado.
Quando pisou o último degrau, a batida se fez ouvir novamente, e caminhando em direção à porta, Larentia, se perguntava quem demonstraria tamanha pressa, a ponto de não ter um mínimo de paciência para esperar
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