A Bíblia Sagrada - Vol. I (Parte 2/2). Johannes Biermanski
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Com um novo e mais profundo fervor, Miller continuou o exame das profecias, dedicando dias e noites inteiras ao estudo do que agora lhe parecia de tão estupenda inaportância e absorvente interêsse. No capítulo oitavo de Daniel êle não pôde achar nenhum fio que guiasse ao ponto de partida dos 2.300 dias; o anjo Gabriel, conquanto tivesse recebido ordem de fazer com que Daniel compreendesse a visão, deu-lhe apenas uma explicação parcial. Quando a terrível perseguição a recair sôbre a igreja foi desvendada à visão do profeta, abandonou-o a fôrça física. Não pôde suportar mais, e o anjo o deixou por algum tempo. Daniel enfraqueceu a estêve enfêrmo alguns dias. "Espantei-me acêrca da visão," diz êle, "e não havia quem a entendesse."
Deus ordenou, contudo, a Seu mensageiro: "Dá a entender a êste a visão." A incumbência devia ser satisfeita. Em obediência a ela, o anjo, algum tempo depois, voltou a Daniel, dizendo: "Agora saí pare fazer-te entender o sentido;" "toma, pois, bem sentido na palavra, e entende a visão." Daniel 9:22 a 23. Havia, na visão do capítulo oito, um ponto importante que tinha sido deixado sem explicação, a saber, o que se refere ao tempo, ou seja, ao período dos 2.300 dias; portanto o anjo, reencetando a explicação, ocupa-se principalmente do assunto do tempo:
"Setenta semanas estão determinadas sôbre o teu povo e sôbra a tua santa cidade. ... Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até o Messias, o Principe, sete semanas, e sessenta e duas semanas: as ruas e as tranqueiras se reedificarão, mas em tempos angustiosos. E depois das sessenta e duas semanas será tirado o Messias, e não será rnais. ... E Êle firmará um concêrto com muitos por uma semana: e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares." Daniel 9:24-27.
O anjo fôra enviado a Daniel com o expresso fim de lhe explicar o ponto que êle tinha deixado de compreender na visão do capítulo oito, a saber, a declaração relativa ao tempo: "Até duas mil a trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado." Depois de mandar Daniel tomar bem sentido na palavra e entender a visão, as primeiras declarações do anjo foram: "Setenta semanas estão determinadas sôbre o teu povo, a sôbre a tua santa cidade". A palavra aqui traduzida "determinadas" significa literalmente "separadas". Setenta semanas, representando 490 anos, declara o anjo estarem separadas, referindo-se especialmente aos judeus. Mas, separadas de quê? Como os 2.300 dias foram o único período de tempo mencionado no capítulo oito, devem ser o período de que as setenta semanas se separaram; estas devem ser, portanto, uma parte dos 2.300 dias, e os dois períodos devem começar juntamente. Declara o anjo datarem as setenta semanas da saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém. Se se pudesse encontrar a data desta ordem, estaria estabelecido o ponto de partida do grande período dos 2.300 dias.
No sétimo capítulo de Esdras acha-se o decreto. (Esdras 7: 12-26). Em sua forma completa foi promulgado por Artaxerxes, rei da Pérsia, em 457 antes de Cristo. Mas em Esdras 6:14 se diz ter sido a casa de YAHWEH em Jerusalém edificada "conforme o mandado [ou decreto, como se poderia traduzir] de Ciro e de Dario, e de Artaxerxes, rei da Pérsia." Êstes três reis, originando, confirmando e completando o decreto, deram-lhe a perfeição exigida pela profecia para assinalar o início dos 2.300 anos. Tomando-se o ano 457 antes de Cristo, tempo em que se completou o decreto, como data da ordem, viu-se ter-se cumprido tôda a especifcação da profecia relativa ás setenta semanas.
"Desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até o Messias, o Príncipe, sete semanas, e sessenta e duas semanas" - a saber, sessenta e nove semanas ou 483 anos. O decreto de Artaxerxes entrou em vigor no outono de 457 antes de Cristo. A partir desta data, 483 anos estendem-se até o outono do ano 27 de nossa era. (...) Naquele tempo esta profecia se cumpriu. A palavra "Messias" significa o "Ungido." No outono do ano 27 de nossa era, o Messias foi batizado por João, e recebeu a unção do Espírito. O apóstolo S. Pedro testifica que "YAHWEH ungiu a Yahshua de Nazaré com o Espírito santo e com virtude." Atos 10:38. E o próprio Salvador declarou: "O Espírito de YAHWEH é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres." S. Lucas 4:18. Depois de Seu batismo Êle foi para a Galiléia, "pregando o evangelho do reino de YAHWEH, e dizendo: O tempo está cumprido." S. Marcos 1:14 e 15.
"E Êle firmará concêrto com muitos por uma semana." A "semana," a que há referência aqui, é a última das setenta, são os últimos sete anos do período concedido especialmente aos judeus. Durante êste tempo, que se estende do ano 27 ao ano 34 de nossa era, o Messias, a princípio em pessoa e depois pelos Seus discípulos, dirigiu o convite do evangelho especialmente aos judeus. Ao saírem os apóstolos com as boas novas do reino, a recomendação do Salvador era: "Não ireis pelos caminhos das nações, nem entrareis em cidades de samaritanos; mas ide às ovelhas perdidas da casa de Israel." S. Mateus 10:5 e 6.
"Na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares." No ano 31 de nossa era, três anos a meio depois de Seu batismo, nosso Senhor foi crucificado. Com o grande sacrifício oferecido sôbre o Calvário, terminou aquêle sistema cerimonial de ofertas, que durante quatro mil anos haviam apontado para o Cordeiro de Deus. O tipo alcançou o antítipo, e todos os sacrifícios e ofertas daquele sistema cerimonial deveriam cessar.
As setenta semanas, ou 490 anos, especialmente conferidas aos judeus, terminaram, como vimos, no ano 34. Naquele tempo, pelo ato do sinédrio judaico, a nação selou sua recusa do evangelho, pelo martírio de Estêvão e perseguição aos seguidores do Messias. Assim, a mensagem da salvação, não mais restrita ao povo escolhido, foi dada ao mundo. Os discípulos, forçados pela perseguição a fugir de Jerusalém, "iam por tôda a parte, anunciando a Palavra." Filipe desceu à cidade de Samaria e pregou ao Messias. S. Pedro, divinamente guiado, revelou o evangelho ao centurião de Cesaréia, Cornélio, que era temente a Deus; e o ardoroso S. Paulo, ganho à fé cristã, foi incumbido de levar as alegres novas "a as nações de longe." Atos 8:4 e 5; 22:21.
de: "A Grande Controvérsia", de Ellen G. White, pág. 205, ISBN 978-3-939979-23-4
Até aqui, cumpriram-se de maneira surpreendente tôdas as especificações das profecias a fixa-se o início das setenta semanas, inquestionàvelmente, no ano 457 antes de Cristo, a seu têrmo no ano 34 de nossa era. Por êstes dados não há dificuldade em achar-se o final dos 2.300 dias. Tendo sido as setenta semanas - 490 dias - separadas dos 2.300 dias, ficaram restando 1.810 dias. Depois do fim dos 490 dias os 1.810 dias deveriam ainda cumprir-se. Contando do ano 34 de nossa era, 1.810 anos se estendem a 1844. Conseqüentemente, os 2.300 dias de Daniel 8:14 terminam em 1844. Ao expirar êste grande período profético, "o santuário será purificado," segundo o testemunho do anjo de Deus. Dêste modo foi definitivamente indicado o tempo da purificação do santuário, que quase universalmente se acreditava ocorresse por ocasião do segundo advento.
Miller e seus companheiros a princípio creram que os 2.300 dias terminariam na primavera de 1844, ao passo que a profecia indicava o outono daquele ano. (...) A compreensão errônea dêste ponto trouxe desapontamento e perplexidade aos que haviam fixado a primeira daquelas dates para o tempo da vinda do Senhor. Isto, porém, não afeto nem de leve a fôrça do argumento que mostrava terem os 2.300 dias terminado no ano 1844, e que o grande acontecimento representado pela purificação do santuário deveria