A Bíblia Sagrada - Vol. III. Johannes Biermanski
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A longanimidade de Deus para com Jerusalém apenas confirmou os judeus em sue obstinada impenitência. Em seu ódio e crueldade para com os discípulos de Yahshua, rejeitaram o último oferecimento de misericórdia. Afastou Deus então deles a proteção, retirando o poder com que restringia a Satanás e seus anjos, de maneira que a naçào ficou sob o controle do chefe que haviam escolhido. Seus filhos tinham desdenhado a graça do Messias, que os teria habilitado a subjugar seus maus impulsos, e agora estes se tornaram os vencedores. Satanás suscitou as mais violentas e vis paixões da alma. Os homens não raciocinavam; achavam-se fora da razào, dirigidos pelo impulso e cega raiva. Tornaram-se satânicos em sua crueldade. Na família e na sociedade, entre as mais altas como entre as mais baixas classes, havia suspeita, inveja, ódio, contends, rebelião, assassínio. Não havia segurança em pane alguma. Amigos e parentes traíam-se mutuamente. Pais matavam aos filhos, e filhos aos pais. Os príncipes do povo nâo tinham poder para governarse. Desenfreadas paixões faziam-nos tiranos. Os judeus haviam aceitado falso testemunho para condenar o inocente Filho de YAHWEH. Agora as falsas acusações tornavam insegura sua própria vida. Pelas suas ações durante muito tempo tinham estado a diner: “Fazei que deixe de estar o Santo de Israel perante nós.” (Isaías 30:11.) Agora seu desejo foi satisfeito. O temor de Deus não mais os perturbaria. Satanás estava à frente da nação e as mais altas autoridades civis e religiosas estavam sob o seu domínio.
Os chefes das facções oponentes por vezes se uniam para saquear e torturar suas desgraçadas vítimas, e novamente caíam sobre as forças uns dos outros, fazendo impiedosa matança. Mesmo a santidade do templo não lhes refreava a horrível ferocidade. Os adoradores eram assassinados diante do altar, e o santuário contaminava-se com corpus de mortos. No entanto, em sua cega e blasfema presunção, os instigadores desta obra infernal publicamente declaravam que não tinham receio de que Jerusalém fosse destruída, pois era a própria cidade de Deus. A fim de estabelecer mais firmemente seu poder, subornaram profetas falsos para proclamar, mesmo enquanto as legiões romanas estavam sitiando o templo, que o povo devia aguardar o livramento de Deus. Afinal, as multidões apegaram-se firmemente à crença de que o Altíssimo interviria para a derrota de seus adversários. Israel, porém, havia desdenhado a proteção divina, e agora não tinha defesa. Infeliz Jerusalém! despedaçada por dissenções intestinas, com o sangue de seus filhos, mortos pelas mãos uns de outros, a tingir de carmesim suas ruas, enquanto hostis exércitos estrangeiros derribavam suas fortificações e lhes matavam os homens de guerra!
Todas as predições feitas pelo Messias relativas à destruição de Jerusalém cumpriram-se à letra. Os judeus experimentaram a verdade de Suas palavras de advertência: “Com a medida com que tiverdes medido, vos hão de medir a vós.” (Mateus 7:2.)
Apareceram sinais e prodígios, prenunciando desastre e condenação. Ao meio da noite, uma luz sobrenatural resplandeceu sobre o templo e o altar. Sobre as nuvens, ao pôr do Sol, desenhavam-se carros e homens de guerra reunindo-se para a bataIha. Os sacerdotes que ministravam à noite no santuário, aterrorizavam-se com sons misteriosos; a terra tremia e ouvia-se multidão de vozes a clamar: “Partamos daqui!” A grande porta oriental, tão pesada que dificilmente podia ser fechada por uns vinte homens, e que se achava segura por imensas barras de ferro fixes profundamente no pavimento de pedra sólida, abriu-se à meia-noite, independence de qualquer agente visível. — (História dos Judeus, de Milman, livro 13.)
Durante sete anos um homem esteve a subir e descer as ruas de Jerusalém, declarando as desgraças que deveriam sobrevir à cidade. De dia e de noite cantava ele funebremente: “Uma voz do oriente, uma voz do ocidente, uma voz dos quatro ventos! uma voz contra Jerusalém e contra o templo! uma voz contra os noivos e as noivas! uma voz contra o povo todo!” Este ser estranho foi preso e açoitado, mas nenhuma queixa lhe escapou dos lábios. Aos insultos e maus tratos respondia somente: “Ai! ai de Jerusalém!” “Ai! ai dos habitantes dela!” Seu clamor de aviso não cessou senão quando foi morto no cerco que havia predito.
Nenhum cristão pereceu na destruição de Jerusalém. O Messias fizera a Seus discípulos o aviso, e todos os que creram em Suas palavras aguardaram o sinal prometido. “Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos,” disse Yahshua, “sabei então que é chegada a sua desolação. Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, saiam.” (Lucas 21:20 e 21.) Depois que os romanos, sob Céstio, cercaram a cidade, inesperadamente abandonaram o cerco quando tudo parecia favorável a um ataque imediato. Os sitiados, perdendo a esperança de poder resistir, estavam a ponto de se entregar, quando o general romano retirou suas forças sem a minima razão aparente. Entretanto, a misericordiosa providência de Deus estava dirigindo os acontecimentos para o bem de Seu próprio povo. O sinal prometido fora dado aos cristãos expectantes, e agora se proporcionou a todos oportunidade para obedecer ao aviso do Salvador. Os acontecimentos foram encaminhados de tal maneira que nem judeus nem romanos impediriam a fuga dos cristãos. Com a retirada de Céstio, os judeus, fazendo uma surtida de Jerusalém, foram ao encalço de seu exército que se afastava; e, enquanto ambas as forças estavam assim completamente empenhadas em luta, os cristãos tiveram ensejo de deixar a cidade. Nesta ocasião o território também se havia desembaraçado de inimigos que poderiam ter-se esforçado para lhes interceptar a passagem. Na ocasião do cerco os judeus estavam reunidos em Jerusalém para celebrar a festa dos Tabernáculos, e assim os cristãos em todo o país puderam escapar sem ser molestados. Imediatamente fugiram para um lager de segurança - a cidade de Pela, na terra de Peréia, além do Jordão.
As forças judaicas, perseguindo a Céstio e seu exército, caíram sobre sua retaguarda com tal ferocidade que o ameaçaram de destruição total. Foi com grande dificuldade que os romanos conseguiram efetuar a retirada. Os judeus escaparam quase sem perdas, e com seus despojos voltaram em triunfo para Jerusalém. No entanto este êxito aparente apenas lhes acarretou males. Inspirou-lhes aquele espírito de pertinaz resistência aos romanos, que celeremente trouxe indescritível desgraça sobre a cidade sentenciada.
Terríveis foram as calamidades que caíram sobre Jerusalém quando o cerco foi reassumido por Tito. A cidade foi assaltada na ocasião da Páscoa, quando milhões de judeus estavam reunidos dentro de seus muros. Suas provisões de víveres, que a serem cuidadosamente preservadas teriam suprido os habitantes durante anos, tinham sido previamente destruídas pela rivalidade e vingança das facções contendoras, e agora experimentaram todos os horrores da morte à fome. Uma medida de trigo era vendida por um talento. Tão atrozes eram os transes da fome que homens roíam o couro de seus cinturões e sandálias, e a cobertura de seus escudos. Numerosas pessoas saíam da cidade à noite, furtivamente, para apanhar plantas silvestres qua cresciam fora dos muros da cidade, se bem que muitos fossem agarrados e mortos com severas torturas; e muitas vezes os que voltavam em segurança eram roubados naquilo que haviam rebuscado com tão grande perigo. As mais desumanas torturas eram infligidas pelos que se achavam no poder, a fim de extorquir do povo atingido pela necessidade os últimos e escassos suprimentos que poderiam ter escondido. E tais crueldades eram freqüentemente praticadas por homens que se achavam, aliás, bem alimentados, e que simplesmente estavam desejosos de acumular um depósito de provisões para o futuro.
Milhares pereceram pela fome e pela peste. A afeição natural parecia ter-se destruído. Maridos roubavam de sua esposa, e esposas de seu marido. Viam-se crianças a arrebatar o alimento da boca de seus pais idosos. A pergunta do profeta: “Pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria?” (Isaías 49:15) recebeu dentro dos muros da cidade condenada,