A Bíblia Sagrada - Vol. III. Johannes Biermanski
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Os chefes romanos esforçaram-se por infundir terror aos judeus, e assim fazê-los render-se. Os prisioneiros que resistiam ao cair presos, eram açoitados, torturados e crucificados diante do muro da cidade. Centenas eram diariamente mortos desta maneira, e essa horrível obra prolongou-se até que ao longo do vale de Josafá e no Calvário se erigiram cruzes em tão grande número que mal havia espaço para mover-se entre elas. De tão terrível maneira foi castigada aquela espantosa imprecação proferida perante o tribunal de Pilatos: “O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.” (Mateus 27:25.)
Tito, de boa vontade, teria posto termo à terrível cena, poupando assim a Jerusalém da medida completa de sua condenação. Ele se enchia de terror ao ver os corpos jazendo aos montes nos vales. Como alguém que estivesse em êxtase, olhava ele do cimo do Monte das Oliveiras ao templo magnificente, e deu ordem para que nenhuma de suas pedras fosse tocada. Antes de tentar ganhar posse desta fortaleza, fez ardente apelo aos chefes judeus para não o forçarem a profaner com sangue o lugar sagrado. Se saíssem e combatessem em outro local, nenhum romano violaria a santidade do templo. O próprio Josefo, com apelo eloqüentíssimo, suplicou que se rendessem, para se salvarem a si, a sua cidade e seu lugar de culto. Suas palavras, porém, foram respondidas com pragas amargas. Lançaram-se dardos contra ele, que era seu último mediador humano, enquanto persistia em instar com eles. Os judeus haviam rejeitado os rogos do Filho de YAHWEH e agora as advertências e rogos apenas os tornavam mais decididos a resistir até o último ponto. Debalde foram os esforços de Tito para salvar o templo; Alguém, maior do que ele, declarara que não fìcaria pedra sobre pedra.
A cega obstinação dos chefes dos judeus e os abomináveis crimes perpetrados dentro da cidade sitiada, excitaram o horror e a indignação dos romanos, e Tïto finalmente se decidiu a tomar o templo de assalto. Resolveu, contudo, que, sendo possível, deveria o mesmo ser salvo da destruição. Mas suas ordens foram desatendidas. Depois que ele se retirara para a sua tenda à noite, os judeus, dando uma surtida do templo, atacaram fora os soldados. Na luta, um soldado arremessou um facho através de uma abertura no pórtico, e imediatamente as salas revestidas de cedro, em redor da casa sagrada, se acharam em chamas.
Tito precipitouse para o local, seguido de seus generais e legionários, e ordenou aos soldados que apagassem as labaredas. Suas palavras não foram atendidas. Em sua fúria, os soldados lançaram tochas ardentes nas salas contínguas ao templo, e com a espada assassinavam em grande número os que ali tinham procurado refúgio. O sangue corria como água pelas escadas do templo abaixo. Milhares a milhares de judeus pereceram. Acima do ruído da batalha, ouviam-se vozes bradando: “Ichabod!” - foi-se a glória.
“Tito achou impossível sustar a fúria da soldadesca; entrou com seu oficiais e examinou o interior do edifício sagrado. O esplendor encheu-os de admiração; e, como as chamas não houvessem ainda penetrado no lugar santo, fez um último esforço para salvá-lo; e, apresentando-se-lhes repentinamente, de novo exortou os soldados a deterem a marcha da conflagração. O centurião Liberalis esforçou-se por impor obediência com o seu estado maior; mas o próprio respeito para com o imperador cedeu lugar à furiosa animosidade contra os judeus, ao excitamento feroz da batalha, e à esperança insaciável do saque. Os soldados viam tudo em redor dales resplandecendo de ouro, que fulgurava deslumbrantemente à luz sinistra das chamas; supunham que incalculáveis tesouros estivessem acumulados no santuário. Um soldado, sem ser percebido, arrojou uma tocha acesa por entre os gonzos da porta: o edifício todo em um momento ficou em chamas. O denso fumo e o fogo obrigaram os oficiais a retirar-se, e o nobre edifício foi abandonado à sua sorte.
“Era um espetáculo pavoroso aos romanos; e que seria ele para os judeus? Todo o cimo da colina que dominava a cidade, chamejava como um vulcão. Urn após outro caíram os edifícios, com tremendo fragor, e foram absorvidos pelo ígneo abismo. Os tetos de cedro assemelhavam-se a lençóis de fogo; os pináculos dourados resplandeciam como pontes de luz vermelha; as torres dos portais enviavam para cima altas colunas de chama e fumo. As colinas vizinhas se iluminavam; e grupos obscuros de pessoas foram vistas a observar com horrível ansiedade a rnarcha da destruição; os muros e pontos elevados da cidade alta ficaram repletos de rostos, alguns pálidos, com a agonia do desespero, outros com expressão irada a ameaçar uma vingança inútil. As aclamaçóes da soldadesca romana, enquanto corriam de uma para outra parte, e o gemido dos insurgentes que estavam perecendo nas chamas, misturavam-se com o rugido da conflagração e o rumor trovejante do madeiramento que caía. Os ecos das montanhas respondiam ou traziam de volta os gritos do povo nos pontos elevados; ao longo de todo o muro ressoavam alaridos e prantos; homens que estavam a expirar pela fome reuniam sua força restante para proferir um grito de angústia e desolação.
“O morticínio, do lado de dentro, era até mais terrível do que o espetáculo visto de fora. Homens e mulheres, velhos e moços, insurgentes e sacerdotes, os que combatiam e os que imploravam rnisericórdia, eram retalhados em indiscriminada carnificina. O número de mortos excedeu ao dos matadores. Os legionários tiveram de trepar sobre os montes de cadáveres para prosseguir na obra de extermínio.” - (História dos Judeus, de Milman, livro 16.)
Depois da destruição do templo, a cidade inteira logo caiu nas mãos dos romanos. Os chefes dos judeus abandonaram as torres inexpugnáveis, e Tito as achou desertas. Contemplou-as com espanto e declarou que Deus lh'as havia entregue em suas mãos; pois engenho algum, ainda que poderoso, poderia ter prevalecido contra aquelas estupendas ameias. Tanto a cidade como o templo forum arrasados até aos fundamentos, e o terreno em que se erguia a case sagrada foi lavrado como um cameo. (Jeremias 26:18.) No cerco e morticínio que se seguiram, pereceram mais de um milhão de pessoas; os sobreviventes foram levados como escravos, como tais vendidos, arrastados a Roma para abrilhantar a vitória do vencedor, lançados às feras nos anfiteatros, ou dispersos por toda a terra como vagabundos sem lar.
Os judeus haviam forjado seus próprios grilhões; eles mesmos encheram a taça da vingança. Na destruição complete que lhes ocorreu como nação, e em todas as desgraças que os acompanharam depois de dispersos, nào estavam senão recolhendo a messe que suas próprias mãos semearam. Diz o profeta: “Para tua perda, ó Israel, te rebelaste contra Mim,” “pelos teus pecados tens caído” (Oséias 13:9; 14:1). Seus sofrimentos são muitas vezes representados como sendo castigo a eles infligido por decreto direto da parte de Deus. É assim qua o grande enganador procura esconder sua própria obra. Pela obstinada rejeiçào do amor e misericórdia divina, os judeus fizeram com que a proteção de Deus fosse deles retirada, e permitiu-se a Satanás dirigi-los segundo a sua vontade. As horríveis crueldades executadas na destruiçào de Jerusalém são uma demonstração do poder vingador de Satanás sobre os que se rendem ao seu controle.
Não podemos saber quanto devemos ao Messias pela paz e proteçáo de que gozamos. E o poder de Deus que impede que a humanidade passe completamente para o domínio de Satanás. Os desobedientes e ingratos têm grande motivo de gratidão pela misericórdia e longanimidade de Deus, que contém o cruel e pernicioso poder do maligno. Quando, porém, os homens passam os limites da clemência divina, a restrição é removida. Deus não fica em relaçáo ao pecador como executor da sentença contra a transgressão; mas deixa entregues a si mesmos os que rejeitam Sua misericórdia, para colherem aquilo que semearam. Cada raio de luz rejeitado, cada advertência desprezada ou desatendida, cada paixão contemporizada, cada transgressão da lei de YAHWEH, é uma semente lançada, a qual produz infalível messe. O Espírito de YAHWEH, persistentemente resistido, é afinal retirado do pecador, e então poder algum permanece para dominar as más paixões da alma, e nenhuma proteçáo contra a maldade e inimizade de Satanás. A destruição de Jerusalém constitui tremenda e solene advertência a todos os que estão tratando levianamente