No Olho Do Furacão. Rebekah Lewis
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Ficou feliz por ter notícias da amiga. Ela a visitara várias vezes durante o dia, mas o quarto ficava solitário sem ela.
– Tudo bem. Estou feliz por você estar se sentindo melhor.
Becky Ann continuou a falar.
– Mal posso esperar até atracar nas Bermudas amanhã. Vou aproveitar ao máximo a terra firme enquanto eu posso. Uma pena não termos mais um dia em Nassau. – Ela mudou de assunto, abruptamente. – Por favor, diga que você ao menos conversou com algum cara enquanto eu estava fora de serviço. Não me diga que se trancou no quarto enquanto eu estava presa nesse lugar chato.
Ela bufou.
– É claro que conversei. – Verdade seja dita, Christophe foi o único. Becky Ann não precisava saber desse pequeno detalhe. – Eu estava com medo demais de ser jogada pela amurada caso você me pegasse escondida no quarto. – Como eu estou agora.
– E por que eu estou com a sensação de que você está dormindo? – Becky Ann arfou. – Não foi com o bartender, foi? Isso é trapaça. Se eles estão trabalhando para o cruzeiro, não conta. Você deveria se envergonhar, mocinha. Não me importo se você já tem vinte e oito anos, eu vou te dar uns tapas na bunda.
Serena não tinha nenhuma sombra de dúvida de que Becky Ann ia levar aquela ameaça a cabo. Uma vez a amiga a avisou que se ela não parasse de usar só calça jeans e blusas grandes demais quando saísse, que ela iria lhe fazer cócegas até que ela fizesse xixi nas calças. Então, em uma tarde, depois de passar no mercadinho, Serena, que estava usando roupas confortáveis, foi para a casa, e acabou sendo emboscada assim que abriu a porta. Ela não tinha feito xixi nas calças, por pouco. Foi igual a um foguete para o banheiro.
– Era um cara fantasiado de pirata lá no convés. Suponho que ele trabalhava para o navio. – Não tinha ouvido o que o cara falou para ele lá no corredor, mas presumiu que ele tinha se encrencado por abandonar a posição. Bem feito, mesmo tendo sido ela quem o tirou de lá.
– Serena! – gemeu Becky Ann. – Você precisa conversar com homens disponíveis, não com os que são pagos para te ajudar.
A lembrança do mal entendido no corredor a fez se encolher. Ficou irritada por alguém ter pensado que ela era uma prostituta. Ela mal podia manter contato visual com ele, então como diabos poderia seduzi-lo a troco de dinheiro?
– Pera lá. – A voz de Becky Ann se partiu na última palavra. – Pirata? Ele era gostoso? Ele parecia com o Billy Bones? Charles Vane? Você sabe muito bem que eu amo Black Sails, e é sua obrigação como minha amiga me dar cada detalhezinho. E também dar para ele, já que eu estou sendo feita de refém pela minha própria saúde. Vou ter que viver indiretamente através de você, gata. Vá dar uns pegas nele e me liga. Eu vou esperar.
Revirando os olhos, ela se deitou na cama e descreveu Christophe, deixando de fora o jeito como eles se separaram, esperando que a amiga não percebesse o quanto tinha sido afetada por aquele homem.
– Você. Beijou. O. Cara? Estou tão orgulhosa! – Dava para perceber só pela voz que ela estava pegando no seu pé.
– Hum… não fique. Ele é um idiota, e não vai voltar a acontecer. – Infelizmente, o corpo não estava concordando com a mente. E ela se inquietou, precisando parar de imaginar as mãos dele, os lábios, ou os olhos azuis tão fixos nela e prometendo coisas sujas sobre as quais só um pirata poderia saber tanto.
Um suspiro exasperado veio do outro lado da linha.
– Você nunca mais o verá depois que voltarmos. É seu aniversário, e essa aventura não vai terminar em casamento ou em bebês, caso você use camisinha. Vá se divertir e depois dê um perdido nele. Parando para pensar, essa coisa de brincar de pirata é excitante pra caralho. Você pode pedir para ele te amarrar e te ameaçar a andar pela prancha caso você se negue a entregar os espólios.
Aquilo nunca iria acontecer. Perturbada, ela pigarreou antes de começar a fantasiar com tudo o que Becky Ann tinha dito.
Serena não era extrovertida, e de jeito nenhum usaria alguém para fazer sexo e então agir como se nada tivesse acontecido. Não estava no seu sangue. Gastar tanta energia com um cara com quem queria ter intimidade significava que ela se jogaria de cabeça, e as primeiras impressões não foram muito favoráveis para Christophe. Ela sequer sabia por que estava deixando Becky Ann colocar essas ideias na sua cabeça.
Ele é muito atraente. Se não fosse aquele fiasco…
Para!
Alguém falou no fundo da ligação e Becky Ann disse que precisava desligar. Depois de prometer esperar por ela para desembarcarem na minha seguinte, Serena desligou. Momentos mais tarde, brincando com os dedões e tendo pensamentos indecentes sobre o homem que a insultara, ela gemeu e rolou para fora da cama.
Christophe era o culpado por ela estar inquieta e sem poder dormir mesmo se tentasse. Não tinha trazido um livro porque acreditava que Becky Ann estaria com ela durante a viagem toda, e elas se divertiriam muito para que tivesse tempo de ler.
O relógio mostrava que faltavam quinze minutos para a uma da manhã. Os bares estariam abertos, e uma boa taça enorme de algo feito com rum iria relaxá-la o bastante para que dormisse. Não estava desejando rum só porque ainda sentia o gosto da bebida na língua depois de ter beijado Christophe. Era só que gostava de rum, e aquele era um cruzeiro pelo Caribe, afinal de contas.
Serena pegou a chave, abriu a porta e foi para o corredor. Não havia ninguém lá. Só para garantir, seguiu pelo lado oposto do que Christophe tinha ido e seguiu para o bar da piscina. Ainda tinha vários drinques de crédito na conta do cruzeiro e planejava fazer um estrago antes de ir para a cama. Sozinha.
Seu companheiro uniformizado não falou muito, mas Christophe achou bom. Sem saber qual era a patente do homem, observou a parte de trás da cabeça dele. O cabelo escuro era curto, e o uniforme muito branco contrastava com o tom mais escuro da pele. O uniforme era bem diferente de qualquer um que ele já tinha visto, e, em vez de botas, ele usava um calçado mais simples, e branco. Nenhuma arma estava a vista, mas uma estranha caixa preta estava presa na camisa dele.
O homem irradiava autoridade, no entanto, e foi isso o que deteve Christophe. Tinha certeza de que não estava em um navio que pertencesse às colônias ou à Inglaterra, pois nada parecia familiar. Mas até descobrir onde estava e onde pretendiam aportar, não presumiria nada. Não depois do que aconteceu com a rapariga mais cedo. Suas circunstâncias viriam à luz em algum momento.
Era o que esperava.
Uma porta se abriu e a cabeça de uma mulher mais velha com a pele escura e cabelo grisalho apareceu.
– Josiah Baker, eu não disse que estava te esperando para… – a voz dela foi se apagando e ela estudou Christophe da cabeça aos pés. – Quem é esse? – Ela devia ser a mãe de Josiah. Era difícil saber se eles eram parecidos, já que a idade tinha mascarado as feições dela.
O homem colocou a mão no ombro da senhora enquanto ela se atrapalhava no corredor segurando a bengala com força na mão esquerda, um anel de diamante no dedo anelar. Com certeza não era um navio das colônias. Ele suspirou aliviado por causa da evidência da relação deles. Suspeitava que o trabalho de Josiah no navio era pago, como qualquer trabalho deveria ser. Aqueles que trabalhavam como criados mereciam salário e também o privilégio de