No Olho Do Furacão. Rebekah Lewis

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No Olho Do Furacão - Rebekah Lewis

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você sabe se a alma dele não é pura? Isso me parece uma suposição, se quiser saber. Ele com certeza parece um pirata de 1715, se alguma vez eu tivesse visto um. Eu aposto uma boa quantia com você de que a arma e a espada são autênticas. Quer apostar? – Ela arqueou a sobrancelha, e Christophe escondeu uma risada por trás de uma tosse fingida. A idade não tinha apagado o fogo dela, nenhum pouco.

      – Virou historiadora agora? – Josiah sacudiu a cabeça. – Além do mais, a senhora se lembra do que os nossos ancestrais estavam fazendo em 1715? Se ele estiver falando a verdade, o que não está, por que a senhora iria querer ficar sozinha com ele?

      Christophe cruzou as mãos atrás das costas e encontrou o olhar atravessado de Josiah com a cabeça erguida.

      – Eu nunca comprei ou possuí um escravo, se é isso o que está sugerindo. – Lá na Inglaterra, a prática não era comum. No máximo, servos podiam ser contratados para pagar um débito ou uma viagem pelo mar, mas era só quando chegaram às colônias que a prática cruel foi apresentada à sua família. Embora o pai tenha conseguido o cargo de governador, o que os fez mudar da Inglaterra, ele não tinha sido capaz de dissuadir os outros da prática bárbara, e a Coroa estava preocupada demais para ouvir qualquer coisa que o pai tinha a falar sobre o problema. Resumindo, o rei Jorge não se importava, contanto que as colônias continuassem leais e pegando os impostos devidamente. A situação não foi tão tranquila quanto ele desejava.

      – Isso não existe mais – disse a Sra. Baker, séria, a boca formando uma linha fina. – Tenho certeza de que isso não será um problema.

      Sem hesitar, ele respondeu com um sincero “não, senhora”. Nunca gostou da escravidão, e ficou feliz por ela ter acabado. Talvez a senhora até fosse lhe contar o desenrolar dos fatos, mas, ao perguntar, teria que aceitar que ele tinha, mesmo, viajado trezentos anos para o futuro.

      – Bom. O respeito ainda é difícil de conseguir, mesmo depois de tanto tempo. Os horrores que os homens podem impor aos outros são aterrorizantes. – Ela alisou uma ruga na longa saia preta, modesta comparada com o que as mulheres mais novas a bordo daquele navio vestiam, mas muito diferente dos vestidos que tinha crescido vendo as mulheres usarem. – Eu sei que você é um homem decente, está na sua aura, e você não olhou nenhuma vez para mim ou para Josiah como se estivéssemos passando de qualquer tipo de limite. Mas notei um momento de incerteza quando você olhou para isso aqui. – Ela ergueu a mão com o anel de diamante.

      – Ele deve ter pensado que a senhora o roubou. – Josiah passou um braço protetor em volta da mãe. – Homens daquele tempo teriam pensado.

      Revirando os olhos, Christophe apontou para o anel.

      – Se uma pessoa de uma classe inferior tivesse roubado algo assim, ela não teria a coragem de usá-lo à vista de todo mundo. Pensei que fosse um símbolo de status, confirmando em minha mente que eu não estava no navio de alguém que comete as atrocidades das quais você pensa que sou capaz. – Ele olhou para a Sra. Baker. – Entenderei, no entanto, se a senhora quiser seguir seu rumo e se me considerar culpado por associação.

      A Sra. Baker meneou a cabeça e deu um tapinha no rosto de Josiah.

      – Meu filho está sendo superprotetor, já que meu marido ficou em casa. Estou viajando para Nassau para visitar uns parentes, é bom ter um filho que trabalha em uma companhia de cruzeiro e que pode conseguir descontos para a mãe. – Ela estreitou os olhos para ele e então adicionou – As mulheres também têm direitos iguais agora. Você acha que pode lidar com uma mulher dizendo o que deve fazer, talvez até mesmo uma mulher de cor como eu, sem que seu orgulho seja ferido? – O fogo voltou para o espírito dela. Christophe gostou daquela mulher.

      Soltando uma risada, ele disse:

      – Eu tinha uma mãe, uma preceptora e duas irmãs. Cresci com mulheres me dizendo o que fazer. – Embora ele entendesse por que ela tinha trazido aquele assunto à tona. Os homens do seu tempo estavam acostumados a terem todo o controle. Tudo começava a soar mais real a cada vez que pensava por aquele ângulo.

      Josiah abriu a boca como se quisesse continuar argumentando com a mãe quanto a associação com ele, mas a caixa preta soltou mais alguns ruídos, e a Sra. Baker abriu a porta. Xingando baixinho, Josiah atirou:

      – Vou voltar daqui a pouco. Desrespeite a minha mãe e nós teremos um problema sério. – Com aquilo, ele deu meia-volta e saiu pisando duro pelo corredor.

      Ele fez sinal para ela entrar antes dele. Christophe pode ter se adaptado à vida de pirata, mas não tinha esquecido de como ser um cavalheiro. Na maioria das vezes. Ele se encolheu, lembrando-se do ultraje no rosto da mulher quando ele se ofereceu para pagar pelos serviços dela. Cristo, ele tinha sido um idiota pretensioso.

      Assim que entrou, Christophe olhou ao redor da pequena cabine para um. Parecia mais com um quarto de pousada do que com uma cabine de barco. Uma pousada muito elegante que não existia em 1715. A mobília estava pregada. O puro luxo dos lençóis, das pinturas e da mobília foi chocante, tudo parecia tão limpo e intrincado! A janela de um dos lados ia do chão ao teto, e o guarda-corpo do outro lado dava a entender que ela se abria como uma porta para que se pudesse desfrutar da vista do oceano. Tão diferente de quaisquer alojamentos ou porões de navio em que ele já viajou. Precisou manter as mãos cruzadas para se impedir de sair olhando e tocando todas as superfícies.

      – Há quanto tempo você tem estado… navegando? – Ela escolheu as palavras com cuidado.

      – Não muito. – Por alguma razão, ele achou que fosse importante justificar a sua aparência. Nada de uniforme militar, mas armado. Muito parecido com um pirata da sua época. – Eu fui forçado à pirataria há mais ou menos um ano. Ganhei o respeito dos meus homens e fui subindo de posição. E escapei no momento em que o nosso navio foi atacado.

      Ela fez que sim e se sentou no banco construído na parede ao lado da janela.

      – Ouvi falar dessa época. Eles foram terríveis, e você fez o que tinha que fazer. – Ela começou a brincar com a barra da blusa azul brilhante, mas não deixou de olhar para ele, sentando-se ereta, como se tentasse decifrar o tipo de pessoa que ele era. Como se a alma dele fosse tão digna quanto as histórias sugeriam.

      A Sra. Baker se acomodou mais no assento e tirou os chinelos. As unhas dos pés estavam pintadas de vermelho. Ela mexeu os dedos quando o viu olhando. Embora ela fosse velha, a mulher tinha um sorriso lindo.

      – Uma pena eu não ser uns quarenta anos mais jovem. – A alegria coloria a voz dela. – Sempre sonhei em viajar no tempo ou conhecer alguém que tenha viajado. Eu teria arrasado com o seu mundo, jovem. Você não ia saber o que te atingiu.

      Ele não era de corar fácil, mas ouvir uma senhora dizendo aquilo para ele quase levou o rubor às suas bochechas. Como respondia a uma coisa assim?

      A senhora riu.

      – Ah, bem. A maior parte da minha família se mudou de Nassau para o Mississippi há umas duas gerações e trouxe com eles histórias de outras pessoas que diziam ter visto viajantes do tempo. As histórias eram passadas de mãe para filha, histórias de acontecimentos misteriosos que aconteciam no Triângulo do Diabo.

      Christophe tremeu e olhou para a enorme janela. Nunca tinha acreditado nas superstições que rodeavam aquela misteriosa parte do Atlântico. Veleiros inteiros nunca mais foram vistos, nem histórias eram contadas sobre eles, e a julgar pelo o que aconteceu com o Calypso, ele imaginou que teriam sido vítimas de pirataria ou dos perigos da intempérie. Uma tempestade de arrasar com um navio nem sempre chegava à terra, e muitas vezes os detritos do naufrágio eram

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