Ndura. Filho Da Selva. Javier Salazar Calle

Чтение книги онлайн.

Читать онлайн книгу Ndura. Filho Da Selva - Javier Salazar Calle страница 8

Ndura. Filho Da Selva - Javier Salazar Calle

Скачать книгу

algum lugar seria continuar pelo leito do rio, mas como segui-lo ao lado da margem me parecia muito perigoso, adentrei a selva mais uma vez para passar despercebido entre a folhagem e andar quatro a cinco metros paralelo ao rio. Era um mundo fechado, onde em qualquer direção não via mais que um muro verde impenetrável, sem saída alguma. Quando muito, via três ou quatro metros de distância diante de mim. Logo perdi o rio e, mais uma vez, encontrei-me a caminho de lugar nenhum.

      Estive andando a um ritmo às vezes forte e outras vezes mais suave durante toda a tarde com escassos momento de descanso. Justamente para recobrar um pouco o fôlego e escutar se ouviam-se mais disparos. Tive que aguentar permanentemente o som semelhante ao produzido quando se pisa em um charco que faziam meus tênis em cada passo que dava e esporádicos avisos de cãibra na panturrilha. A densidade da folhagem aumentava em alguns momentos, sumindo nas sombras de alguns lugares. Havia mosquitos por todos os lados, não deixavam de me incomodar como se fosse uma batalha sem fim. Às vezes me faziam lembrar os kamikazes japoneses da Segunda Guerra Mundial, lançando-me o ferrão como seu objetivo, sem lhes importar a vida. Os mosquitos eram iguais, jogando-se sobre meu corpo de forma contínua e sem lhes importar as baixas que causavam meus tapas, usando minhas mãos à guisa de artilharia antiaérea. Alguns eram tão grandes que mais que caças de combate pareciam gigantescos bombardeiros, cuja presença propriamente dita já causava apreensão no inimigo. Quando os via aproximarem-se ficava imediatamente tenso, preparado para me esquivar deles. Sempre havia algum com apetite e tinha uma infinidade de picadas pelos braços e pernas, ali onde minha roupa não cobria meu corpo. Algumas estavam inclusive sobre as próprias picadas que as formigas me haviam feito ao acordar. Era uma batalha que estava perdida de antemão, uma luta banal, inútil, já que eles não tinham fim e eu estava cada vez mais cansado. Incomodaram-me tanto que decidi cobrir as partes onde não tinha roupa com terra úmida, formando uma barreira impenetrável para eles. Essa ideia fugaz me salvou. Era difícil me movimentar, sobretudo quando secava, mas seus ataques contínuos eram piores. Graças a esse truque pude me esquecer dos insetos implacáveis durante um bom tempo. Se não consegui a vitória, ao menos uma trégua temporária. Além disso, tive o efeito surpreendente de conseguir que parassem de me picar onde as formigas haviam estado. Alguma sorte, afinal.

      Não parava de observar tudo ao meu redor, tinha a sensação constante de estar sendo seguido, que estava cada vez mais encurralado, acuado em uma selva ilimitada. Inclusive, parecia-me ouvir passos e vozes atrás de mim ou ver rostos rápidos de guerrilheiros olhando-me com frieza entre as árvores, vigiando sem cessar. A verdade é que não cheguei a ver ninguém com clareza, nem sequer pude verificar nenhum rastro de sua presença na região. Tinha a impressão de que as árvores se dobravam sobre minha cabeça, aprisionando-me mais e mais em uma cela de madeira viva. Não sabia se estava ficando paranoico ou o quê, mas tinha que conseguir me acalmar para sobreviver nesta selva desconhecida e mortal.

      Nesse deambular demente me deparei com um espetáculo dantesco. O que parecia ter sido uma família de primatas, do tamanho de um chimpanzé ou semelhante, jazia em uma clareira sem mãos, pés e cabeças em meio a grandes poças de sangue ressecado e rodeados por miríades de moscas e todo tipo de insetos e animais carniceiros. O fedor que expeliam era insuportável e não pude evitar o vômito que subiu instantaneamente pela garganta. Juntei coragem e voltei a olhar. Havia dois que deviam ser adultos e um menorzinho. Não parecia haver nenhuma cria. O que não sabia era por que não foram capturados, presos ou por que não foram levados para serem vendidos no mercado ilegal. Sabia que havia determinadas partes de animais que se vendiam muito bem como afrodisíacos nos países asiáticos: chifres de rinocerontes, ossos de tigres e coisas assim. Na melhor das hipóteses, seria algo desse tipo. Decidi me afastar desse lugar maldito o mais rápido possível. Essa descoberta não apenas me demonstrou mais uma vez a crueldade humana, mas também me fez ver que andava por zonas frequentadas por caçadores furtivos, certamente pouco amigáveis com estranhos.

      Sentia-me demasiadamente afetado por tudo o que estava acontecendo. Houve um momento em que finalmente me deu uma forte cãibra na panturrilha direita, o que me obrigou a parar para esticá-la enquanto apertava a boca com força por causa da dor e me retorcia no chão. Tive que permanecer sentado por um bom tempo até que pudesse me mover outra vez e fiquei incomodado pelo resto do dia. Diversas vezes pensei que a puxada voltaria e tive que parar para esticar a perna. Quando começou a anoitecer, estava completamente esgotado e não havia avançado muito por causa do ritmo lento que tive que assumir. Sobretudo, minhas pernas estavam exaustas de tanto caminhar, o joelho e a panturrilha doloridos e os pés dormentes. Observando do ponto de vista positivo, a minha barriga de cerveja que havia começado a se formar já estava me deixando. Já era alguma coisa. Não deveria perder meu senso de humor, isso talvez viesse a me salvar. Era a única coisa que me sobrava. Isso e minha vontade de sobreviver. Elena, o que eu não daria agora por um abraço seu, pelo seu sorriso! Ou por uma daquelas refeições maravilhosas que você me preparava!

      Sentei-me sobre um tronco caído e comi todo o marmelo que me sobrava, com um grande gole d’água. Ao meu redor,

      sobrava apenas um quinto da garrafa e nada de comida. Esta terceira noite passaria novamente sobre uma árvore. Depois da experiência com as formigas não acreditava que conseguiria pegar no sono, já que as formigas estão tanto no chão como nas árvores, muito menos me agradava a ideia de que os canalhas dos disparos me encontrassem dormindo. Como na primeira noite, busquei uma árvore adequada e quando a encontrei, encarapinhei-me sobre o galho escolhido, subindo por uma trepadeira. Quando coloquei a mão nela tive que retirá-la rapidamente pois senti uma picada aguda. A trepadeira era espinhosa. Esfreguei a mão dolorida e procurei outra árvore. Quando a encontrei, subi com muito cuidado e me dispus a passar outra noite mais neste inferno. Tirei os tênis e as meias e rezei para que estivessem secos na manhã seguinte, ainda que duvidasse bastante, já que o ar estava quase permanentemente úmido. Meus pés estavam enrugados e de uma cor verde-amarronzada escura. Sequei-os como pude, mas a sensação de mal-estar persistiu. Tentei me aquecer, mas não houve jeito nem com a manta, nem me esfregando o corpo. As picadas dos mosquitos e das formigas me molestavam sem parar, mas não podia fazer nada. O único que me aliviava essas moléstias era quando passava barro úmido pelo corpo para evitar as picadas; nesses momentos o ardor constante se via transformado em uma reconfortante sensação que não sabia como descrever. Nas pernas sentia uma dor constante sem conseguir localizar, o mesmo que nas costas. O braço direito estava dormente devido ao esgotamento de estar todo o dia fazendo movimentos de machadadas com a vara. Estava tão esgotado que dormi logo. Meu último pensamento foi a esperança de que ao acordar no dia seguinte estivesse um café da manhã me esperando com um copão de leite com mel e um par de torradas cheias de manteiga e geleia de morangos ou de amoras.

      

      

      Um ruído muito próximo me despertou e quase caí no chão com o susto. Agora sim. Haviam me descoberto, estava acabado. Tanto esforço para nada, havia deixando que me pegassem desprevenido, descuidado e agora ia pagar caro. Agarrei-me fortemente ao galho e olhei aterrorizado em todas as direções, procurando pelos rebeldes, gritando não atire, não atire! Mas não vi nada. Se tivessem sido eles, teriam disparado ou ao menos me feito descer da árvore, mas era um alarme falso. Queria saber que tipo de animal havia passado por ali, estava um pouco obcecado.

      – Será que não posso acordar um dia com tranquilidade?, –resmunguei em voz alta–. Não podem me deixar tranquilo um momento?

      A verdade era que não importava. Desci e me espreguicei dando grandes bocejos. Havia dormido umas boas horas seguidas, mas as costas me doíam uma barbaridade. Além disso, conforme me limpei um pouco voltei a notar as picadas contínuas nas pernas e braços, onde as formigas e os mosquitos haviam fincado o ferrão. Isso de dormir em um galho não deveria ser muito bom para o corpo, mas às vezes me parecia preferível ao chão, onde estava à disposição de toda pessoa ou animal que passasse por ali. Olhei com atenção minhas pernas e braços e vi que algumas

Скачать книгу