Breve História Da China. Pedro Ceinos Arcones
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A herdeira de Hemudu é a cultura de Liangzhu, que se desenvolveu entre 3.200 e 2.200 a. C. na área do Delta do Yangtze e da Baía de Hangzhou, expandindo consideravelmente sua influência nas regiões próximas. Liangzhu foi, possivelmente, o cenário do surgimento de uma daquelas federações tribais nas quais os líderes, instalados em uma capital, Mojiaoshan, iam acumulando cada vez mais riqueza e poder, direcionando a vida de outros centros secundários, que, por sua vez, tinham poder sobre as diferentes aldeias. Essa poderosa elite, cujas ricas tumbas e pequenas pirâmides foram encontradas em diferentes escavações, usa trabalho escravo e realiza sacrifícios humanos. Enquanto isso, a população cultiva arroz, produz cerâmica de qualidade e já usa barcos para pescar em larga escala rio adentro. Há artesãos com uma habilidade especial na escultura em jade, especialmente peças redondas chamadas "bi" (que simbolizam o céu) e outras peças quadradas chamadas "cong" (que simbolizam a terra). O fim da cultura de Liangzhu se deu possivelmente devido a contradições internas entre suas classes, acentuadas por um período de fortes inundações.
A abundância de objetos de jade descobertos nos principais locais dessas culturas, geralmente usados com um sentido ritual, sugere uma sociedade imbuída de um profundo senso religioso, no qual os xamãs desempenham um papel importante. Para alguns autores, poderia ser chamada de Idade do Jade, paralela àquela progressão política que iria da sociedade comunista à liderança dos xamãs e depois à dos primeiros chefes. Corresponderia, no campo material, ao uso de pedra polida, o jade e o bronze. Neolítico, Idade do Jade e Idade do Bronze.
Acredita-se que essas culturas do sul não tenham influenciado o processo civilizatório que se desenvolveu no centro da China, onde, por volta de 4.000 a. C., as culturas de Yangshao, Dawenkou e Hongshan tendem a se expandir e se interconectar. Essa interação se cristaliza no surgimento da cultura Longshan, por volta de 3.000 a. C., na qual se manifestam influências de todas as culturas do norte e que influencia o sul. Desse modo, vai sendo criada no centro da China uma cultura a partir da qual se inicia o processo de formação do Estado, que, nos séculos seguintes, levará à unidade territorial.
Na cultura Longshan, fica evidente um aumento da riqueza e do poder político, com maior importância do ritual, maior violência nas relações externas e internas, maior desenvolvimento da agricultura e da pecuária, bem como do artesanato em bronze, em que aparecem as figuras monstruosas chamadas “taotie”, de significado desconhecido, e de jade, com uma popularização dos desenhos “cong” (terra) e “bi” (céu). Restos de paredes de terra prensada foram encontrados ao redor de algumas de suas aldeias. Sua cerâmica é muito mais desenvolvida, e nela aparecem os tipos que serão usados posteriormente entre os chineses. A adivinhação começa aquecendo os ossos, pois eles creem na existência de espíritos da natureza, aos quais veneram como deuses. As pessoas estão enterradas com a cabeça para baixo. O boi e a ovelha passam a fazer parte dos animais domésticos.
Há várias centenas de localidades no norte da China onde foram descobertos restos da cultura Longshan, o que nos faz pensar em comunidades camponesas que têm algum contato umas com as outras, que enfrentam os mesmos desafios materiais e que se inter-relacionam por comércio, troca de esposas ou maridos e, ocasionalmente, guerra. A sociedade desse tipo era liderada por um chefe, geralmente um dos mais antigos do clã que compõe a aldeia. Com o tempo, a sociedade se torna hierárquica, e às vezes se constroem muros que separam a área dos nobres e a dos plebeus.
As últimas fases desta cultura Longshan, entre o ano 2400 e 1900 a.C., são a base das culturas dinásticas que surgirão nos séculos seguintes. Na verdade, a cultura camponesa de Longshan permanece praticamente inalterada durante as dinastias Xia (século XXI – XVI a.C.) e Shang (século XVI – XII a.C.), em que plantações, casas, animais de estimação e a maneira de construir são praticamente os mesmos. O que mais se transforma são os centros de poder.
O processo de transformações políticas que deram origem aos primeiros estados da China central parece ter se desenvolvido nas aldeias culturais de Longshan. Inicialmente, supõe-se que algumas aldeias se reuniam encontrado ocasionalmente para realizar uma tarefa juntas. Poderia ser para se defender de um inimigo comum, proteger-se das inundações do rio Amarelo, como sugere a mitologia, ou outro trabalho mencionado nos textos clássicos. Poderiam até se formar confederações ocasionais por qualquer desses motivos, que se dissolveriam logo depois, uma vez que a tarefa para a qual elas foram criadas fosse concluída. Também é possível que algumas dessas tarefas tenham tornado necessário, pelo menos aos olhos de seus próprios habitantes, manter essas federações de aldeias.
As recentes escavações de Longshan mostram uma hierarquia de assentamentos humanos, com a existência de centros primários, cercados por centros secundários e estes, por sua vez, pelas aldeias. Os chefes temporários estão assumindo o controle do poder e da produção excedente. As federações das aldeias tendem a se tornar permanentes sob o controle desses chefes. Os excedentes agrícolas também permitem a manutenção de escravos, geralmente inimigos da guerra, cujo trabalho esses chefes aproveitam para seu benefício. Nos centros primários, onde residem os chefes, foram descobertos restos de paredes, estruturas sacrificiais, bronzes, escrituras, artefatos oraculares, jade etc. O surgimento do bronze, nas últimas fases da cultura Longshan, acelera o surgimento dessa aristocracia inicial, que consolida seu poder pelas armas.
O sul da Mongólia, que era uma área eminentemente agrícola naqueles anos, sofre uma série de mudanças climáticas que o tornam cada vez mais árido e frio. Essas mudanças climáticas acabam com a agricultura na área, que mais tarde testemunhará a migração de populações nômades dedicadas à pecuária.
As descobertas arqueológicas nos mostram que a competição entre os diferentes grupos parece ter sido a causa do aumento do tamanho dos assentamentos humanos, que continuaram a se desenvolver até terminar com a criação dos primeiros Estados, centros de artesanato e comércio. Esses primeiros Estados, resultado da federação de aldeias, já se tornavam um fenômeno permanente no norte da China, criando um ambiente propício ao surgimento de estruturas políticas mais complexas, como a mais tarde denominada dinastia Xia.. Embora ainda existissem muitas aldeias que mantêm seu estilo de vida simples à margem das federações, parece que a tendência é encontrar relações mais próximas entre as aldeias de uma determinada área, possivelmente com base no parentesco, na identificação étnica ou cultural, embora também possa se basear na proximidade e na identidade de interesses.
Os historiadores chineses consideram que, no quadro da crescente hierarquização da cultura de Longshan, em um determinado momento, por volta do ano 2600 a. C., uma federação mais ou menos estável de tribos organizadas surgiu em torno de um líder conhecido como Imperador Amarelo (Huangti), considerado o pai da nação chinesa. Essa consideração não deixa de ter fatores políticos, e o próprio governo, que deseja consolidar a existência da China na mais remota antiguidade, lançou um projeto que visa identificá-la até o mais remotamente possível. Ainda existem muitas dúvidas sobre a real existência do Imperador Amarelo, mas, como a maioria dos feitos que as lendas atribuem a ele aconteceu de fato em uma época que coincide mais ou menos com o que se diz ter vivido, pode-se falar da existência do conceito "Imperador Amarelo", referindo-se a uma pessoa, um grupo de pessoas ou mesmo uma época. Alguns autores sugerem que ele procedia das montanhas Kunlun, a oeste, ainda reverenciadas