O Escritor (Português Do Brasil). Danilo Clementoni

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O Escritor (Português Do Brasil) - Danilo Clementoni

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mais assustado. — É um sistema para ativar um procedimento à distância.

      — Mas que procedimento? Qual? — o gordo continuou, enquanto sacudia o garoto como se estivesse chacoalhando Margaritas.

      — Não sei bem — o jovem tentou responder. — Mas acho que ativamos algo bem peculiar e perigoso, tendo em vista os sistemas de proteção que precisei contornar.

      — Explique — disse o gordo, ainda sacudindo o garoto.

      — Se me soltar, vou te mostrar.

      — Ok. Mas seja convincente, senão o maior pedaço de você que restar só será visível por microscópio.

      O garoto endireitou a sua camisa, arrumou os longos cabelos que não eram lavados há um bom tempo e foi até o posto de trabalho com dois teclados e uma série de computadores desmantelados pela metade. Ele digitou rapidamente vários comandos incompreensíveis, e depois de alguns segundos, uma imagem tridimensional do estranho objeto que lentamente revolvia sobre si mesmo apareceu num monitor gigantesco pendurado no teto.

      — Este é o nosso misterioso controle remoto.

      — Ah, agora virou um controle remoto?

      — Bom, considerando a sua função, acho que seguramente podemos chamá-lo assim.

      — Prossiga — disse o magrelo, enquanto se acomodava numa cadeira maltrapilha, para poder observar melhor o grande monitor.

      — Certo, o maior problema era como reativá-lo. Tive muitas dificuldades, porque provavelmente, além de estar desligado, o dono não queria que ninguém jamais ligasse de novo.

      — Viu, não foram as pilhas que pifaram, seu tonto — exclamou o gordo, falando com o seu comparsa.

      — Não, não há pilhas dentro — o nerd continuou. — Acho que funciona por meio de uma fonte externa de alimentação, uma espécie de fluxo eletromagnético, que é capaz de captar e transformar em energia pura.

      — Interessante — o magrelo comentou. — Mas qual é o alcance?

      — Teoricamente, talvez centenas de milhares de quilômetros.

      — Diacho — o gordo exclamou enquanto segurava o estranho objeto na mão. — Está dizendo que essa coisinha seria capaz de transmitir um sinal daqui para a Lua?

      — Acho que sim, e provavelmente já fez isso.

      — E o que deve ter transmitido?

      — Aí é que vem a parte interessante — continuou o garoto, enquanto trazia uma nova imagem para o grande monitor. — Esses são os símbolos que apareceram na frente dele depois de ser reativado.

      — Parece um tipo de linguagem antiga — comentou o magrelo. — Tenho certeza que já vi antes.

      — De fato, é cuneiforme. Os sumérios a usavam há milhares de anos antes de Cristo.

      — E como foi parar num instrumento tecnológico tão avançado?

      — É a linguagem dos nossos visitantes alienígenas.

      — Está dizendo que aqueles brutamontes que nos capturaram falam cuneiforme? — perguntou o gordo, um pouco surpreso.

      — Bem, — o garoto tentou explicar, — não se fala cuneiforme, exatamente. É um tipo de escrita. Mas acho que é a linguagem deles.

      — E conseguiu traduzir?

      — Na verdade, para enviar o comando, tive de inserir uma espécie de senha. Na prática, ao tocar os símbolos na ordem correta, acessei o modo operacional.

      — Basicamente, igual ao sistema de desbloquear o celular?

      — Sim, mais ou menos — disse o nerd sorrindo, contente que os dois sujeitos finalmente compreenderam o que ele estava falando.

      — Você fez um trabalho excelente — disse o gordo, parecendo satisfeito.

      — Sim, mas ainda não entendemos a função real dele — retrucou o magrelo, meio decepcionado.

      — Eu poderia arriscar um palpite que acho que seria bem realista — disse o garoto, de mansinho.

      — Então, está esperando o quê? Fale — respondeu o gordo, movendo-se a alguns centímetros do nariz do outro.

      — Acho que é um sistema para ativar o procedimento de autodestruição de uma espaçonave, incluindo sabe lá mais quantas funções.

      Os dois comparsas se olharam surpresos por um instante, e então, como se alguém lhes tivesse dado o presente mais maravilhoso do mundo, o mais gordo exclamou: — Por favor, me diga que os mandamos pelos ares.

      — Com toda a probabilidade, os alienígenas tiveram tempo de se salvarem, mas seu veículo deve ter tido um fim terrível.

      — Filho, você é um gênio — exclamou o gordo. Então ele retirou um pendrive USB do bolso, e acrescentou: — Ponha todos os dados que têm dessa coisa e depois cancele tudo. Se descobrirmos que guardou um único byte...

      — Eu sei, eu sei. Vão fazer picadinho de mim.

      — Muito bem. Sabia que era um cara esperto.

      O processo de copiar durou apenas alguns segundos. Então, depois de remover o pendrive USB do computador, o nerd entregou ao gordo, que rapidamente arrancou de suas mãos. Também depois de apanhar o estranho objeto e colocar ambos no bolso direito das calças, ele disse ao seu cúmplice: — Vamos andando, meu velho, talvez nossos sonhos estejam prestes a se concretizar.

      Eles quase chegaram à soleira quando o jovem exclamou: — Ei, não se esqueceram de algo?

      — Do que está falando? — perguntou o sujeito magrelo e alto.

      — Ahh... o resto do meu dinheiro.

      — Dinheiro? — respondeu o gordo. — Agradeça ao Senhor por não termos quebrado o seu pescoço — e ele bateu a porta atrás de si.

      A Constelação de Touro - Planeta Kerion

      A quase sessenta e cinco anos-luz da Terra, um gigante vermelho chamado Aldebaran ilumina tenuemente um planeta árido conhecido pelo nome de Kerion. Sua superfície, que atualmente apresenta apenas desertos áridos, paisagens rochosas, profundos desfiladeiros secos e mesetas lisas, nem sempre fora assim. O planeta começou o seu lento declínio há cerca de dez mil anos, quando por razões ainda desconhecidas, o fluido metálico que formava o seu núcleo começou a reduzir lenta, mas inexoravelmente, a sua velocidade de rotação, provocando uma relativa diminuição progressiva do seu campo magnético.

      Hoje em dia, a atmosfera de Kerion, outrora composta essencialmente de nitrogênio e quase vinte por cento de metano, é praticamente inexistente. Na realidade, os raios nocivos da sua estrela, sem a proteção do poderoso campo magnético planetário, gradualmente a dissolveram e a reduziram para cerca de 0.1 por cento do que era no passado. Mares de hidrocarbonetos ocupavam quase metade do planeta. Lagos de metano e áreas incontáveis de água gelada estavam

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