Mestres da Poesia - Fernando Pessoa. Fernando Pessoa

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Mestres da Poesia - Fernando Pessoa - Fernando Pessoa Mestres da Poesia

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de haver o mundo

      Passa no sopro da aragem

      Que um momento o levantou

      Um vago anseio de viagem

      Que o coração me toldou.

      Será que em seu movimento

      A brisa lembre a partida,

      Ou que a largueza do vento

      Lembre o ar livre da ida?

      Não sei, mas subitamente

      Sinto a tristeza de estar

      O sonho triste que há rente

      Entre sonhar e sonhar.

      Fernando Pessoa, ele mesmo.

      O Verdadeiro Segredo Maçônico

      O verdadeiro Segredo Maçônico…

      É um segredo de vida

      e não de ritual

      e do que se lhe relaciona.

      Os Graus Maçônicos comunicam àqueles que os recebem,

      sabendo como recebe-los,

      um certo espírito,

      uma certa aceleração da vida

      do entendimento

      e da intuição,

      que atua como uma espécie

      de chave mágica dos próprios símbolos,

      e dos símbolos

      e rituais não maçônicos,

      e da própria vida.

      É um espírito,

      um sopro posto na Alma,

      e, por conseguinte,

      pela sua natureza,

      …incomunicável.

      Autopsicografia

      O poeta é um fingidor

      Finge tão completamente

      Que chega a fingir que é dor

      A dor que deveras sente.

      E os que leem o que escreve,

      Na dor lida sentem bem,

      Não as duas que ele teve,

      Mas só a que eles não têm.

      E assim nas calhas de roda

      Gira, a entreter a razão,

      Esse comboio de corda

      Que se chama coração.

      Não sei quantas almas tenho

      Não sei quantas almas tenho.

      Cada momento mudei.

      Continuamente me estranho.

      Nunca me vi nem achei.

      De tanto ser, só tenho alma.

      Quem tem alma não tem calma.

      Quem vê é só o que vê,

      Quem sente não é quem é,

      Atento ao que sou e vejo,

      Torno-me eles e não eu.

      Cada meu sonho ou desejo

      É do que nasce e não meu.

      Sou minha própria paisagem,

      Assisto à minha passagem,

      Diverso, móbil e só,

      Não sei sentir-me onde estou.

      Por isso, alheio, vou lendo

      Como páginas, meu ser

      O que segue não prevendo,

      O que passou a esquecer.

      Noto à margem do que li

      O que julguei que senti.

      Releio e digo: «Fui eu?»

      Deus sabe, porque o escreveu.

      Abdicação

      Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços

      E chama-me teu filho... eu sou um rei

      que voluntariamente abandonei

      O meu trono de sonhos e cansaços.

      Minha espada, pesada a braços lassos,

      Em mãos viris e calmas entreguei;

      E meu cetro e coroa – eu os deixei

      Na antecâmara, feitos em pedaços

      Minha cota de malha, tão inútil,

      Minhas esporas de um tinir tão fútil,

      Deixei-as pela fria escadaria.

      Despi a realeza, corpo e alma,

      E regressei à noite antiga e calma

      Como a paisagem ao morrer do dia.

      Liberdade

      Ai que prazer

      Não cumprir um dever,

      Ter um livro para ler

      E não fazer!

      Ler é maçada,

      Estudar é nada.

      O Sol doira

      Sem literatura.

      O rio corre, bem ou mal,

      Sem edição original.

      A brisa, essa,

      De tão naturalmente matinal,

      Como tem tempo não tem pressa...

      Livros são papéis pintados com tinta.

      Estudar

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