Mestres da Poesia - Fernando Pessoa. Fernando Pessoa

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Mestres da Poesia - Fernando Pessoa - Fernando Pessoa Mestres da Poesia

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colo, e que o seu perfume suavize o momento -

      Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,

      Pagãos inocentes da decadência.

      Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois

      Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,

      Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos

      Nem fomos mais do que crianças.

      E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,

      Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.

      Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à beira-rio,

      Pagã triste e com flores no regaço.

      Não só quem nos odeia ou nos inveja

      Não só quem nos odeia ou nos inveja

      Nos limita e oprime; quem nos ama

      Não menos nos limita.

      Que os deuses me concedam que, despido

      De afectos, tenha a fria liberdade

      Dos píncaros sem nada.

      Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada

      É livre; quem não tem, e não deseja,

      Homem, é igual aos deuses

      Não Tenhas

      Não tenhas nada nas mãos

      Nem uma memória na alma,

      Que quando te puserem

      Nas mãos o óbolo último,

      Ao abrirem-te as mãos

      Nada te cairá.

      Que trono te querem dar

      Que Átropos to não tire?

      Que louros que não fanem

      Nos arbítrios de Minos?

      Que horas que te não tornem

      Da estatura da sombra

      Que serás quando fores

      Na noite e ao fim da estrada.

      Colhe as flores mas larga-as,

      Das mãos mal as olhaste.

      Senta-te ao sol. Abdica

      E sê rei de ti próprio.

      Uns, com os olhos postos no passado

      Uns, com os olhos postos no passado,

      Vêem o que não vêem; outros, fitos

      Os mesmos olhos no futuro, vêem

      O que não pode ver-se.

      Porque tão longe ir pôr o que está perto —

      A segurança nossa? Este é o dia,

      Esta é a hora, este o momento, isto

      É quem somos, e é tudo.

      Perene flui a interminável hora

      Que nos confessa nulos. No mesmo hausto

      Em que vivemos, morreremos. Colhe

      O dia, porque és ele.

      Cada um cumpre o destino que lhe cumpre

      Cada um cumpre o destino que lhe cumpre.

      E deseja o destino que deseja;

      Nem cumpre o que deseja,

      Nem deseja o que cumpre.

      Como as pedras na orla dos canteiros

      O Fado nos dispõe, e ali ficamos;

      Que a Sorte nos fez postos

      Onde houvemos de sê-lo.

      Não tenhamos melhor conhecimento

      Do que nos coube que de que nos coube.

      Cumpramos o que somos.

      Nada mais nos é dado.

      Vós que, crentes em Cristos e Marias

      Vós que, crentes em Cristos e Marias,

      Turvais da minha fonte as claras águas

      Só para me dizerdes

      Que há águas de outra espécie

      Banhando prados com melhores horas

      Dessas outras regiões pra que falar-me

      Se estas águas e prados

      São de aqui e me agradam?

      Esta realidade os deuses deram

      E para bem real a deram externa.

      Que serão os meus sonhos

      Mais que a obra dos deuses?

      Deixai-me a Realidade do momento

      E os meus deuses tranqüilos e imediatos

      Que não moram no Vago

      Mas nos campos e rios.

      Deixai-me a vida ir-se pagãmente

      Acompanhada pelas avenas tênues

      Com que os juncos das margens

      Se confessam de Pã.

      Vivei nos vossos sonhos e deixai-me

      O altar imortal onde é meu culto

      E a visível presença

      Os meus próximos deuses.

      Inúteis procos do melhor que a vida,

      Deixai a vida aos crentes mais antigos

      Que a Cristo e a sua cruz

      E Maria chorando.

      Ceres, dona dos campos, me console

      E

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