Mestres da Poesia - Fernando Pessoa. Fernando Pessoa

Чтение книги онлайн.

Читать онлайн книгу Mestres da Poesia - Fernando Pessoa - Fernando Pessoa страница 8

Mestres da Poesia - Fernando Pessoa - Fernando Pessoa Mestres da Poesia

Скачать книгу

em cada lago a lua toda

      Brilha, porque alta vive.

      Cada coisa a seu tempo tem seu tempo

      Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.

      Não florescem no Inverno os arvoredos,

      Nem pela Primavera

      Têm branco frio os campos.

      À noite, que entra, não pertence, Lídia,

      O mesmo ardor que o dia nos pedia.

      Com mais sossego amemos

      A nossa incerta vida.

      À lareira, cansados não da obra

      Mas porque a hora é a hora dos cansaços,

      Não puxemos a voz

      Acima de um segredo,

      E casuais, interrompidas sejam

      Nossas palavras de reminiscência

      (Não para mais nos serve

      A negra ida do sol).

      Pouco a pouco o passado recordemos

      E as histórias contadas no passado

      Agora duas vezes

      Histórias, que nos falem

      Das flores que na nossa infância ida

      Com outra consciência nós colhíamos

      E sob uma outra espécie

      De olhar lançado ao mundo.

      E assim, Lídia, à lareira, como estando,

      Deuses lares, ali na eternidade

      Como quem compõe roupas

      O outrora compúnhamos

      Nesse desassossego que o descanso

      Nos traz às vidas quando só pensamos

      Naquilo que já fomos,

      E há só noite lá fora.

      Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo

      Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo,

      E ao beber nem recorda

      Que já bebeu na vida,

      Para quem tudo é novo

      E imarcescível sempre.

      Coroem-no pâmpanos. ou heras. ou rosas volúveis,

      Ele sabe que a vida

      Passa por ele e tanto

      Corta a flor como a ele

      De Átropos a tesoura.

      Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,

      Que o seu sabor orgíaco

      Apague o gosto ás horas,

      Como a uma voz chorando

      O passar das bacantes.

      E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,

      E apenas desejando

      Num desejo mal tido

      Que a abominável onda

      O não molhe tão cedo.

      Não a Ti, Cristo, odeio ou te não quero

      Não a ti, Cristo, odeio ou te não quero.

      Em ti como nos outros creio deuses mais velhos.

       Só te tenho por não mais nem menos

      Do que eles, mas mais novo apenas.

      Odeio-os sim, e a esses com calma aborreço,

      Que te querem acima dos outros teus iguais deuses.

       Quero-te onde tu estás, nem mais alto

       Nem mais baixo que eles, tu apenas.

      Deus triste, preciso talvez porque nenhum havia

      Como tu, um a mais no Panteão e no culto,

       Nada mais, nem mais alto nem mais puro

      Porque para tudo havia deuses, menos tu.

      Cura tu, idólatra exclusivo de Cristo, que a vida

      É múltipla e todos os dias são diferentes dos outros,

       E só sendo múltiplos como eles

       Estaremos com a verdade e sós.

      Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio

      Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.

      Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos

      Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.

      (Enlacemos as mãos).

      Depois pensemos, crianças adultas, que a vida

      Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,

      Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,

      Mais longe que os deuses.

      Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.

      Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.

      Mais vale saber passar silenciosamente

      E sem desassossegos grandes.

      Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,

      Nem invejas que dão movimentos demais aos olhos,

      Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,

      E sempre iria ter ao mar.

      Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,

      Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,

      Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro

      Ouvindo correr o rio e vendo-o.

      Colhamos

Скачать книгу