Vida De Aeromoça. Marina Iuvara

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Vida De Aeromoça - Marina Iuvara

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cabelos eram escuros e lisos, com corte chanel. Os olhos eram pretos, muito profundos e sensuais, e o porte físico era enxuto e bem modelado.

      Valentina gostava de dormir tarde, melhor se a noite fosse acompanhada de seu drink favorito: Montenegro com gelo. De manhã, demorava no banheiro porque as lentes de contato davam muito trabalho.

      Éramos muito próximas.

       Hoje fomos convidadas para a festa de boas-vindas na casa daqueles pilotos que vivem na rua Masotta, perto de casa! – disse Eva.

       Por que não damos um pulo? – eu disse.

       Sim! – concordou Valentina.

       Estou curiosa para conhecer nossos vizinhos.

      Ludovica foi logo montar um penteado, e eu provei quase todos os vestidos do armário, me perguntando se eu algum dia conseguiria fechar o zíper lateral daquelas lindas calças azuis. Eva usou seu novo óleo essencial de lírio-do-vale, e Valentina correu para se maquiar.

      Alegres, demos os primeiros passos em direção àquele mundinho à parte, até então desconhecido: o reino dos "voláteis", diferente dos meros "passageiros", como costumam distinguir aqueles que trabalham nos aviões.

      O que logo percebemos "neles" foi a familiaridade com lugares que nós só sonhávamos em visitar e a facilidade que tinham de alcançá-los graças ao hábito de viajar; a capacidade de se adaptar em qualquer lugar do mundo, devida ao conhecimento da população e dos territórios, da cultura e das tradições; a profusão de amizades que conseguiam manter em diversos lugares, pois os frequentavam constantemente; a mente aberta, necessária para estar em contato com o mundo e seus habitantes, assim como muitas manias e fixações que cada um carregava consigo naquela segunda casa que era a mala de viagem.

       Uma vez volátil, sempre volátil – disseram-nos baixinho, como se fosse uma verdade oculta, uma marca que carregaríamos para sempre.

      Compreendemos que começar a "voar" seria como viver duas vidas paralelas que vão se alternando sempre que se sai para trabalhar. É como falar uma língua nova, incompreensível aos demais, onde o mundo é a sua casa, e a casa é o seu mundo.

      Descobrimos que havia eventos quase todas as noites. Éramos uma espécie de grande família que se reunia entre os que retornavam de voos e descansavam entre um turno e outro. Mas, se era preciso partir no dia seguinte, nos prometíamos ir dormir cedo para evitar aquela horrível dor de cabeça e náusea matinais que, no voo, ficam muito piores por causa da altitude e do ar condicionado.

      Durante o trabalho, era necessário estar impecável. Os voos e os passageiros a enfrentar seriam uma dura prova, isso sabíamos bem.

      Depois de ter assinado o contrato com a empresa, na grande sala de um majestoso edifício e, com grande surpresa, designado o destinatário do seguro de vida em caso de falecimento, constatamos emocionadas que logo nós também seríamos voantes "voláteis"

      O primeiro voo

      O primeiro voo é inesquecível para todos.

      Fui designada para um bate e volta em Paris. Eu estava emocionada, desajeitada ao entrar naquele avião completamente vazio, pronto para receber nossa bagagem antes dos passageiros. Finalmente, comecei a conhecer os segredos dos galleys, que são uma espécie de cozinha de bordo onde estão os fornos para esquentar as refeições, a geladeira para manter as bebidas frescas, todos os carrinhos com os mantimentos, a área destinada ao lixo, os equipamentos necessários para o bom funcionamento do voo. Nessa área, é preparado todo o serviço antes que ele comece. Para as aeromoças, é o lugar mais íntimo, o único lugar suficientemente reservado, que permite alguns poucos minutos de distância dos passageiros, graças a uma cortina que concede alguns preciosos momentos de privacidade nos voos muito longos: as confidências e revelações geralmente vêm à tona ali, no "baú de segredos" das aeromoças.

      Verifiquei, além da bagagem, que tudo tinha sido limpo corretamente, que o serviço de catering tinha abastecido corretamente todos os carrinhos, os fornos e a geladeira, que os equipamentos e as luzes de emergência estavam em funcionamento.

      Eu era o oposto de minhas colegas, tão desinibidas e seguras nos movimentos, já veteranas, como se diz.

      No curso, tínhamos visto todos os alçapões, os carrinhos e as gavetas armazenados dentro do avião. Era uma infinidade, todos completamente cheios de materiais necessários para o bom andamento do voo.

      Decidi abri-los todos para ver o que continham e memorizá-los para utilizá-los com mais rapidez.

      Fechei-os e logo esqueci a posição e o conteúdo de todos, pois eram muitos, e todos idênticos quando vistos de fora.

      Repeti isso várias vezes. Às vezes a sorte me ajudava a adivinhar onde estava o que eu procurava, às vezes me rendia na busca de copos de plástico depois de uma vitória parcial sobre os pacotes de café e leite em pó. Acho que os tapa-olhos mudavam de lugar a cada voo, como se fosse um truque de mágica: depois de encontrá-los em uma gaveta, via-os em algum outro lugar.

      Eu olhava minha saia que cobria o joelho, a meia-calça lisa e cor de pele que, até então, nunca tinha usado, os sapatos de salto alto, que combinavam com a bolsa, uma blusa bem engomada, lenço no pescoço, jaqueta frisada e o obrigatório crachá.

      Tudo aquilo estava agora no meu corpo. Vesti aquele uniforme pela primeira vez, do jeito mais correto que consegui. Meu nome estava naquela plaquinha, o que era uma grande honra, e eu a usava com orgulho, entusiasmo, até certa solenidade: era o início de um sonho magnífico.

      Queria tirar outra foto e mandar para Stefania. O sorriso desta foto seria sincero, ao contrário daquele nas fotos tiradas para a seleção. Além disso, diria que sentia saudades dela e que gostaria que ela estivesse comigo.

      Naquele momento, o nervosismo e a emoção do primeiro voo me deixaram dura.

      A cor da jaqueta do uniforme era muito parecida com a das poltronas, e eu me sentia mais próxima delas do que de uma aeromoça "de verdade".

      Felizmente, tudo ocorreu bem e, acredito, ninguém percebeu minha apreensão durante todo o voo. Talvez tenha aparecido durante minha primeira demonstração dos procedimentos de segurança.

      Todos os olhos estavam sobre mim, e eu não estava preparada para enfrentar de maneira natural aqueles inúmeros olhares que se voltavam para mim.

      Senti um rubor nas faces, e as mãos começaram a suar, a tremer um pouco, quando demonstrei como afivelar o cinto de segurança.

      Nunca tinha tido nenhum problema para encaixar fivela metálica na fenda, mas, naquela situação, ficou difícil. Tentei segurar o tremor dos dedos que me impedia de encontrar o buraco certo.

      Já com o suor escorrendo, consegui terminar aquela estranha demonstração, como uma dança seguida de movimentos de mãos.

      Sentia-me como uma atriz em um filme mudo que seguia o texto lido e transmitido pelos alto-falantes do avião, enfatizando com gestos as instruções dadas.

      Durante os anúncios de boas-vindas, foi estranho ouvir minha voz ecoar por todo o avião, e só depois de muitos voos fui conseguindo modulá-la melhor, tentando evitar inflexões dialetais, principalmente o "ó" aberto. Os anúncios deviam seguir uma fonética estrita e fechada, e que eu precisava sempre

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