Desatinos do coração. Julia James

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Desatinos do coração - Julia James Sabrina

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desde o começo, que dar uma família estável ao seu único filho não era importante para eles. Agora que já estava na vintena, parecia que o seu único propósito era encher as arcas dos Kyrgiakis para financiar o seu estilo luxuoso de vida e os seus divórcios caros.

      Anatole estudara Gestão numa boa universidade, tinha um mestrado numa das escolas de negócios mais importantes do mundo e contava com um cérebro privilegiado para os negócios, portanto, podia levar a cabo aquela tarefa com bastante facilidade e sabia que ele também beneficiaria disso. Trabalhar arduamente, viver arduamente, esse era o seu lema… e manter-se afastado dos laços tóxicos do casamento.

      Franziu o sobrolho ao pensar novamente em Romola. Pensava que, por ser uma profissional da Bolsa, não teria a ambição de se casar com ele, mas, no fim, descobrira que era tal como todas as outras: Queria tornar-se a esposa de Anatole Kyrgiakis.

      Que desespero. Uma dúzia de veículos mais à frente, viu como o semáforo ficava verde. Um instante depois, os carros começaram a mexer-se e Anatole carregou no acelerador.

      E, naquele instante, uma mulher apareceu à frente do carro.

      Tia tinha os olhos cheios de lágrimas. Estivera com o idoso senhor Rodgers até ao fim da sua longa doença e falecera naquela manhã. A sua morte recordara-lhe o falecimento da própria mãe há menos de dois anos. Agora, enquanto arrastava a mala velha, soube que tinha de chegar à agência antes de fechar. Precisava que a atribuíssem a um novo paciente, porque, como era cuidadora interna, não tinha casa própria. Tinha de atravessar a rua para chegar à agência e, como a passadeira era longe, decidiu fazê-lo entre o trânsito, que se mexia muito devagar.

      Levantou a mala pesada, seguindo um impulso repentino, e saiu da calçada…

      Com uma velocidade de reação que não sabia que tinha, Anatole carregou no travão e tocou a buzina. Contudo, apesar da sua rapidez, ouviu o impacto de algo sólido a bater contra o carro. Viu a mulher a cair à frente dele. Disse um palavrão, ligou os piscas e saiu com um nó no estômago. Na rua, havia uma mulher de joelhos, segurando uma mala que tinha ficado por baixo do para-choques. A mala abrira-se e havia roupa por todo o lado.

      A mulher levantou a cabeça e olhou fixamente para Anatole. Aparentemente, não se apercebia do perigo que correra.

      – Em que raios estavas a pensar? – queixou-se ele, com fúria. – Como podes ter atravessado assim?

      A mulher parou de olhar fixamente para ele e começou a chorar. A raiva de Anatole desapareceu imediatamente e baixou-se ao seu lado.

      – Estás bem? – Parecia claro que não, porque a mulher continuou a soluçar.

      Anatole ajudou-a a levantar-se e agarrou na roupa caída, pondo-a na mala. Depois, segurou-lhe o braço.

      – Vamos para a calçada – disse.

      Ela começou a endireitar-se. Levantou a cabeça. As lágrimas caíam pelas faces e não parava de soluçar. Mas Anatole não prestava atenção a isso. Quando se levantou, o seu cérebro registou duas coisas: A mulher era muito mais jovem do que achara ao princípio e, embora estivesse a chorar, era impressionantemente bonita. Era loira, com o rosto em forma de coração, olhos azuis, boca cor-de-rosa…

      Sentiu-se como se um elevador descesse no seu interior e, depois, subisse, ganhando forma e mudando tudo. A sua expressão mudou.

      – Estás bem – declarou, num tom de voz amável. – Quase te atropelei, mas não te aconteceu nada.

      – Lamento muito! – Ela soluçou.

      – Não faz mal. – Anatole abanou a cabeça. – Não há danos. Exceto a tua mala.

      Quando a mulher se apercebeu do estado da mala, fez uma careta. Tomando uma decisão repentina, Anatole pôs a mala no porta-bagagem do seu carro e abriu a porta do passageiro.

      – Vamos, entra. Eu levo-te! – ordenou, consciente de que os carros de trás não paravam de buzinar com impaciência.

      Pô-la no carro, apesar dos seus protestos. Depois, sentou-se ao volante e pôs-se a caminho, questionando-se distraidamente se teria tido tanto trabalho no caso de a pessoa que passara à frente do carro não ser uma loira impressionante….

      – Diz-me, onde vamos?

      – Eh… – A jovem olhou através do para-brisas com um ar ausente. – Para aquele lado da rua.

      Tia continuava sem parar de chorar, mas, agora, havia mais qualquer coisa que a ocupava. Era incapaz de desviar o olhar do homem que tinha ao lado. Engoliu em seco.

      Tinha o cabelo preto como o azeviche e o rosto parecia esculpido. Os olhos pareciam chocolate escuro, maçãs do rosto altas… Tia sentia um nó no estômago e não sabia para onde olhar, mas queria continuar a fazê-lo, porque parecia tirado de um sonho. Era o homem mais incrível que alguma vez vira.

      Algo que também não tinha muito mérito, já que passara os seus anos de adolescente a cuidar da mãe e, agora, cuidava de idosos e doentes. Nunca tivera oportunidade nem tempo para aventuras românticas, namorados ou diversão. Os seus únicos romances eram os que aconteciam na sua mente, tecidos com o tempo passado a olhar pelas janelas, sentada à cabeceira de camas e a tratar de todas as tarefas de uma cuidadora interna.

      Contudo, agora, naquele preciso instante, estava com um homem que parecia saído das suas fantasias românticas. Era tudo o que sonhara. Tia engoliu em seco.

      – Estás melhor? – perguntou ele, esboçando um sorriso.

      Tia assentiu e, de repente, sentiu-se consciente de que, embora o homem parecesse saído de um dos seus sonhos tórridos, aquilo não era o que procurava, mas exatamente o contrário.

      Sentiu-se dolorosamente consciente do aspeto que devia ter para ele com os olhos vermelhos, o nariz congestionado, as lágrimas a cair pelas faces, o cabelo despenteado e sem maquilhagem. Além disso, usava umas calças de ganga velhas e uma camisola larga. Que desastre.

      Quando o semáforo ficou verde, Anatole virou pela rua lateral que lhe indicara.

      – Agora, por onde? – Passou-lhe pela mente que desejava que fosse mais longe. Porém, desprezou aquele pensamento. Apanhar mulheres na rua, nesse caso literalmente, não era uma boa ideia. Mas, enquanto a levava ao seu destino, bem podia falar com ela. – Lamento que estejas tão compungida, mas espero que tenhas aprendido que não podes atravessar a rua assim.

      – Lamento muito – repetiu ela, num tom rouco. – E também lamento estar a chorar assim. Não é culpa tua. Bom, um pouco… Quando gritaste…

      – Foi o choque – explicou Anatole, olhando para ela de soslaio. – Tinha medo de te ter matado. Não era a minha intenção fazer-te chorar.

      Ela abanou a cabeça.

      – Não chorava por isso, mas pelo pobre senhor Rodgers – corrigiu ela, precipitadamente. – Morreu esta manhã. Eu estava lá, tomava conta dele. Era idoso, mas de todas as formas… foi muito triste. Fez-me pensar em quando a minha mãe morreu…

      A jovem interrompeu-se bruscamente e Anatole ouviu o seu soluço contido.

      – Lamento – disse, pensando que era a única coisa que podia dizer. – Morreu recentemente?

      –

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