Desatinos do coração. Julia James

Чтение книги онлайн.

Читать онлайн книгу Desatinos do coração - Julia James страница 5

Автор:
Серия:
Издательство:
Desatinos do coração - Julia James Sabrina

Скачать книгу

Passávamos o verão em Espanha quando eu era pequena – disse, desviando o olhar. – Quando o meu pai ainda era vivo e a minha mãe não estava doente.

      – É bom ter boas lembranças da infância, sobretudo, das férias familiares – murmurou Anatole.

      Mas ele não as tinha. As férias escolares do internato suíço exclusivo em que vivia desde os sete anos eram passadas em casa de amigos ou na mansão enorme dos Kyrgiakis em Atenas com a única companhia dos empregados. Os pais estavam demasiado ocupados com as suas próprias vidas.

      Quando chegara à adolescência, passara algumas semanas com o tio, o irmão mais velho do seu pai. Vasilis nunca mostrara nenhum interesse pelos negócios ou pelas finanças. Era um erudito que adorava perder-se em bibliotecas e museus. Usava o dinheiro dos Kyrgiakis para financiar investigações arqueológicas e projetos artísticos. Desaprovava a conduta imoral do irmão no amor, mas nunca o criticava abertamente. Era um solteiro empedernido e Anatole achava que era amável, mas distante. Com o tempo, começara a valorizar a sua sensatez.

      – Bom, à tua primeira viagem à Grécia. De certeza que irás algum dia – replicou, voltando ao momento e brindando suavemente com Tia.

      Bebeu um gole pequeno enquanto olhava para o homem que tinha à frente e que a apanhara na rua para a levar para o seu apartamento lindo e beber champanhe… pela primeira vez na sua vida.

      Custava-lhe acreditar que aquilo estava realmente a acontecer. Talvez aquele único gole de champanhe a tivesse tornado ousada, porque disse precipitadamente:

      – É incrivelmente amável da tua parte!

      «Amável?» Aquela palavra não condizia com Anatole. O que estava a fazer era deixar-se levar pelo que lhe apetecia fazer. Voltou a levantar a taça. Naquele momento, não se importava. Tinha a atenção fixa naquela mulher linda tão jovem, tão fresca e tão cativante na sua naturalidade. Não estava a pôr em prática nenhuma artimanha para o atrair, não lhe fazia olhinhos nem pedia nada dele.

      Anatole sorriu e a expressão suavizou-se.

      – Bebe um pouco mais – indicou. – Temos a garrafa toda. – Bebeu um gole da taça e encorajou-a a fazer o mesmo.

      Tia bebeu enquanto olhava para a vista maravilhosa.

      – E diz-me – pediu Anatole, enchendo as taças –, o que queres fazer na vida? Sei que tomar conta de idosos é importante, mas suponho que não queiras fazê-lo para sempre, pois não?

      Ao fazer aquela pergunta, apercebeu-se de nunca conhecera alguém do seu estrato social. Todas as mulheres com quem lidava eram profissionais de alto perfil ou filhas do papá com dinheiro. Espécies completamente diferentes daquela jovem que tinha um trabalho triste e árduo.

      Tia mordeu o lábio inferior, sentindo-se um pouco incomodada.

      – Bom, passava muito tempo fora da escola porque tinha de cuidar da minha mãe e nunca passava nos exames, portanto, não pude ir para a universidade. E, embora esteja a tentar poupar, ainda não consigo comprar uma casa própria.

      – Não tens família que te ajude? – Anatole franziu o sobrolho.

      Ela abanou a cabeça.

      – Vivia com o meu pai e a minha mãe.

      Tia olhou para ele. Bebera quase uma taça inteira de champanhe e sentia-se atrevida. Talvez aquilo fosse um sonho, mas ia desfrutar até ao fim.

      – E tu? – perguntou. – As famílias gregas costumam ser numerosas, não é?

      Anatole sorriu sem vontade.

      – A minha, não – declarou. – Eu também sou filho único. – Olhou para a taça de champanhe. – Os meus pais divorciaram-se e estão casados com outras pessoas agora. Não os vejo muito.

      Porque não queria. Nem eles. A única reunião fixa da família Kyrgiakis era a reunião anual de acionistas. Era quando se encontravam: Ele, os pais, o tio e algum primo afastado.

      – Ena, é uma pena – murmurou ela, com simpatia.

      Sentiu um calafrio desagradável. Não gostava de pensar que os homens de fantasia como aquele podiam ter famílias disfuncionais como as pessoas normais. Vivendo em lugares tão magníficos como aquele e bebendo champanhe, não poderiam ter os mesmos problemas do que as pessoas normais.

      – Não é para tanto. – Anatole voltou a sorrir. – Estou habituado.

      Interrogou-se distraidamente porque estavam a falar da sua família. Nunca falava do assunto com as mulheres. Consultou o relógio. Deviam entrar. O jantar chegaria em breve e Anatole não queria pensar na sua família nem em nada que o incomodasse. Até Vasilis, por muito amável que fosse, vivia no seu próprio mundo, feliz com os seus livros e as suas atividades filantrópicas no mundo das artes.

      Deixou a convidada entrar primeiro. Começava a escurecer e acendeu as luzes do terraço, iluminando as plantas verdes com uma luz ténue.

      – Que bonito! – exclamou Tia. – Parece uma paisagem de contos de fadas.

      Sentiu-se imediatamente muito infantil por ter dito aquilo, embora fosse verdade, mas Anatole riu-se. O telefone fixo tocou para anunciar que o jantar estava a caminho e, cinco minutos mais tarde, estavam ambos sentados a comer o primeiro prato, uma terrina delicada de peixe branco.

      – Isto está delicioso – garantiu ela, com o rosto iluminado, enquanto comia.

      Disse o mesmo sobre o frango banhado em molho com batatas douradas e feijões verdes. Uma receita simples, mas maravilhosamente bem cozinhada.

      – Come – encorajou-a Anatole, com um sorriso indulgente, enquanto lhe servia mais champanhe.

      Recordou-se que devia ter cuidado e não lhe dar mais do que devia.

      E ele também não devia abusar. Ainda tinha de chegar ao hotel para passar a noite. Mas esse momento ainda não chegara e continuaria a desfrutar de cada instante da sua noite em comum.

      Uma sensação de bem-estar apoderou-se dele. Manteve deliberadamente o tom da conversa informal, sendo quase sempre a falar, para tentar que Tia se sentisse o mais relaxada e confortável possível.

      – Se alguma vez fosses à Grécia de férias, o que gostarias de fazer? Torrar na praia ao sol? Ou preferes fazer turismo? Podem fazer-se as duas coisas, tanto em terra firme como nas ilhas. E, se gostas de história antiga, não há melhor lugar no mundo do que a Grécia, na minha opinião.

      – Não sei nada sobre história antiga – confessou ela, corando ligeiramente.

      Sentiu-se incomodada quando lhe recordou a sua falta de cultura. Não queria que a realidade se misturasse com aquele conto de fadas maravilhoso que estava a viver.

      – Certamente, ouviste falar do Pártenon – declarou ele. – É o templo mais famoso do mundo e é na Acrópole de Atenas.

      – Sim, vi fotografias – disse Tia, contente por reconhecer aquilo.

      Anatole sorriu e começou a dar-lhe informação sobre aquele lugar e outros sítios de interesse turístico da sua terra natal.

Скачать книгу