As Investigações De João Marcos Cidadão Romano. Guido Pagliarino
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O desejo do jovem de fazer justiça ao assassino de seu pai, muito vivo nos primeiros dias, foi sendo gradualmente atenuado pelo tempo, o que certamente não leva ao esquecimento dos entes queridos falecidos, mas, em certo ponto, deixa que a memória só apareça às vezes e velada. Foi, portanto, inesperadamente que, no final do ano de 79816. Marcos teve o sonho perturbador de seu pai saindo da sepultura e insistindo para que visitasse seu túmulo e procurasse quem o matou. Aquele sonho tinha sido tão real que o induziram a considerá-lo uma visão enviada por Deus. A dor da perda do pai retornou quase tão intensa quanto no dia em que a carta de Barnabé chegou com a terrível notícia.
Na Bíblia e na tradição oral judaica, o sonho, todo sonho, tem grande importância, induzindo-nos a ver a realidade sob uma luz mais clara, revelando coisas que aparecem na penumbra durante a vigília ou que permanecem ocultas, mas o mais importante é o sonho em que figuras angelicais ou mortos falam, sejam eles visíveis ou não, todos considerados mensageiros de Deus. Desde o sonho de Jacó com a escada que liga o céu à terra atravessada por anjos ao premonitório de seu filho José, dos sonhos proféticos de Daniel aos modernos de José, suposto pai de Jesus e de outros seguidores do Nazareno, incluindo Saulo Paulo de Tarso, os antigos e novos acontecimentos, a expectativa do Messias e sua vinda estavam ligados pelo fio onírico, que, aliás, na vida cotidiana, ligava, segundo o sentimento geral, a pesada realidade terrena à eterna festa celestial, manifestando ensinamentos e revelando desejos divinos para as coisas cotidianas.
Marcos, então, convencido de que seu pai realmente havia falado com ele por ordem de Cristo, embora não tenha chegado a pedir o batismo ou a privar-se de seus bens como os cristãos, começou a trabalhar com Pedro como secretário e, conhecendo bem grego e latim, como intérprete e escriba.
Algumas semanas após o sonho, aconteceu outro evento extraordinário que Marcos entendeu como uma comprovação de visão onírica. Tínhamos acabado de entrar no ano novo, ainda reinava o imperador Cláudio, quando chegou a Pedro uma carta de Barnabé na qual o apóstolo anunciava sua chegada com Saulo. Eles dirigiam duas carroças com provisões de uma colheita feita em Antioquía em ajuda à Igreja mãe, que naquele momento se encontrava em grande necessidade devido a uma grande fome que eclodiu em todo o império e era particularmente grave em Jerusalém, onde a comida à venda era muito escassa. Expressava também a intenção de realizar uma viagem missionária com Saulo que atingiria várias cidades e a esperança de que seu primo Marcos, cujas habilidades práticas ele conhecia, os acompanhasse até Antioquía e, de lá, fosse na viagem como auxiliar administrativo.
Pedro chamou o genro e disse: “Meu filho, porventura me privarei da tua ajuda?”
“Eu fiz algo errado?” Marcos se chateou.
“Não, longe disso. O fato é que Barnabé fará uma viagem de evangelização com Saulo a muitas cidades, incluindo Perge, onde seu pai está enterrado…”
“… Perge?!”
“Sim. E seu primo gostaria que você o acompanhasse, a ele e a Saulo, como secretário e administrador. Você teria a oportunidade de visitar o túmulo de seu pai”. Pedro não sabia do sonho de Marcos, porque o genro o guardara para si, e, portanto, considerando o grande esforço e os graves perigos da viagem e temendo que ficasse relutante em aceitar, estava tentando convencê-lo.
Marcos, com o coração cheio de emoção, entendeu o convite de Barnabé como carimbo do Céu, em absoluta harmonia com o que agora havia se revelado uma profecia. Assim, com grande entusiasmo, certamente concordou.
“Essa não, hein?!”, entretanto, ele teve de ouvir de sua mãe, quando ela soube de sua partida iminente: “É uma jornada cheia de perigos! Você sabe muito bem que não me agrada que você viaje ao redor do mundo. O que aconteceu com seu pai não é suficiente para você?!”.
“Eu terei de visitar o túmulo mais cedo ou mais tarde, você não acha?”, Marcos respondeu em tom severo. “Que filho eu seria se o ignorasse pelo resto da vida?! E você também deve saber que Cristo não quer covardes. Mãe, nunca mais interfira”.
A mulher baixou a cabeça.
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