Uma bala com o meu nome. Susana Rodríguez Lezaun
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— Comer caviar e tomar banho em champanhe.
Ampliou o seu sorriso sem parar de olhar para os meus olhos.
— É uma delas?
— Uma de quem?
— Uma snobe.
Quase me engasguei com o canapé.
— Foi a impressão que dei? — perguntei. Ele não respondeu. Continuou a olhar para mim como se tentasse ler a resposta na minha mente. — Não, claro que não, não sou uma snobe. Nem sequer sou rica. Estou aqui porque trabalho no museu. Sou restauradora de arte.
— Deve ser uma profissão apaixonante.
— É, ainda que, às vezes, signifique ter de vir a eventos aborrecidos como este e ver como os convidados maltratam todas estas obras de arte. Tudo é possível pelo orçamento do próximo ano!
Levantei o meu copo teatralmente e bebi um gole. A vodca estava deliciosa.
— O meu turno acaba às onze — disse, em voz baixa, com os olhos cor de cobalto fixos nos meus. Por um instante, achei que tentava hipnotizar-me. E talvez conseguisse. — Se lhe pareço um descarado, é livre para me esbofetear, mas fui convidado para uma festa e adoraria que me acompanhasse. Uma festa a sério. Música, dança, bebida, diversão…
Não consegui evitá-lo. Talvez fosse por causa do efeito do álcool ou porque a sua proposta, na verdade, parecia uma piada, mas a questão é que deixei escapar uma gargalhada que fez com que os convidados mais próximos virassem a cabeça para olhar para mim. O empregado jovem observou-me, perturbado. Era muito bonito, portanto, imagino que não estaria habituado a ser rejeitado, mas eu também não estava habituada a ver que se riam de mim.
— Não queria ofendê-la, lamento — murmurou, visivelmente envergonhado.
Vi-o a corar e senti-me malvada. O jovem só tentava ser atencioso. E seduzir-me, é verdade, mas eu participara com muito gosto no jogo do cortejo.
— Não — contradisse, finalmente —, eu é que lamento. Não queria ser indelicada, nem ferir os seus sentimentos. Foi muito amável comigo durante toda a noite, mas não é obrigado a entreter-me fora das suas horas de trabalho. Agradeço, mas não é necessário.
— Engana-se — declarou, quando já começara a afastar-me dele. — Não é uma obrigação. Antes pelo contrário, para mim, seria uma honra se me acompanhasse a essa festa. Não costumo convidar desconhecidas e muito menos mulheres com tanta classe como a senhora, mas estou convencido de que é fascinante e de que poderíamos divertir-nos muito juntos.
Como num romance barato, senti a intensidade do seu olhar e a tensão da sua boca enquanto esperava pela minha resposta e, sem conseguir evitá-lo, imaginei os lábios dele na minha pele.
— Porque não? — repliquei, sem conseguir acreditar nas minhas palavras.
O jovem relaxou a expressão e mostrou um sorriso de galã.
— Obrigado, tentarei fazer com que se divirta e com que se esqueça de tudo isto — declarou, apontando para a sala com um movimento da cabeça.
Sorri e deixei-me levar pela emoção do momento.
— Para começar, terá de parar de me tratar com tanta cerimónia. O meu nome é Zoe. Zoe Bennett.
— Eu sou o Noah Roberts e acabaste de me fazer o homem mais feliz do mundo.
Não sei se exagerava ou se realmente se alegrava por eu o acompanhar. Nesse momento, não parei para pensar em nada senão no meu ego, que brilhava como uma supernova por causa dos elogios. Era altamente improvável que houvesse um homem mais atraente no museu naquele momento e acabara de me convidar para o acompanhar a uma festa. Não só me convidara, como insistira.
Faltava quase uma hora para as onze da noite, portanto, fui buscar uma nova vodca com limão (A terceira? A quarta?) e dei várias voltas pela sala, sorrindo, generosa, beijando alguma face e conversando animadamente com todos os benfeitores que encontrei pelo caminho. Cada vez que me virava, encontrava Noah a olhar para mim com um sorriso nos lábios. Era o mais parecido com estar no paraíso. Sentia-me atraente, bonita, graciosa, desejada, sensual… Era o maior aumento de autoestima que experimentara em toda a minha vida e tencionava aproveitá-lo até às últimas consequências.
Deixei que passassem uns minutos depois das onze antes de abandonar o museu. Entretive-me a despedir-me de Gideon e da esposa que, sem dúvida, bebera mais champanhe do que devia e olhava para mim por trás da cortina alcoólica que lhe toldava os olhos, e saí para a noite quente, mexendo subtilmente as ancas. Não sabia onde Noah estaria, mas esperava que conseguisse ver-me a emergir como uma deusa de onde quer que estivesse à minha espera. Um segundo depois, o jovem materializou-se ao fundo da escada e esboçou um dos seus sorrisos perfeitos. Estendeu uma mão para mim e, como um cavalheiro impecável, ajudou-me a chegar até ao chão. Beijou-me os nós dos dedos e conduziu-me para o portão da entrada, onde nos esperava um táxi. Abriu a porta, esperou que me acomodasse e fechou-a, antes de dar rapidamente a volta ao veículo e sentar-se ao meu lado.
Livrara-se do seu uniforme de empregado e vestira umas calças de ganga, um casaco escuro e uma camisa branca. Uma gravata de ganga completava o traje e dava-lhe um ar sofisticado que me deixava com falta de ar.
Deu uma morada de uma rua próxima do porto ao motorista. Nessa zona, havia vários locais da moda de que ouvira falar mais de uma vez, mas que nunca visitara. As minhas amizades escassas limitam-se a pessoas relacionadas com a minha profissão e quase não conheço ninguém fora desse mundinho. Nunca fui íntima de quem sua ao meu lado no ginásio, nem mantenho contacto com as minhas amigas da secundária ou da universidade. Essa foi uma época da minha vida bastante anódina, que aconteceu por acontecer, sem eventos destacáveis e que está bem onde está: Esquecida.
— Obrigada por me convidares — agradeci, para quebrar o gelo.
— Eu é que tenho de te agradecer por aceitares. Passei o tempo todo a recear que te arrependesses e decidisses não vir.
— Era por isso que olhavas tantas vezes para mim? Para evitar que me escapulisse sem ser vista?
Noah riu-se com vontade.
— Não! — exclamou, entre gargalhadas. — Os meus olhos dirigiam-se para ti. Eras a mulher mais bonita da festa.
Sentia-me lisonjeada, mas não podia permitir que o meu ego arruinasse a noite.
— Sei que não é verdade, mas obrigada na mesma — redargui, com um sorriso tímido. Ficava lindamente a Audrey Hepburn e esperava que tivesse o mesmo efeito na minha cara. — Onde vamos?
— Ao Rock Club. Antes, era um antro, mas o meu amigo Deke Carter remodelou-o por completo e transformou-o no centro da noite de Boston. Inaugurou-o há três meses e, depois disso, encheu todas as noites. Hoje, dá uma festa privada e convidou-me há vários dias. Não tencionava ir, mas pareceu-me a desculpa perfeita para passar mais tempo contigo.
— Não acho que o meu vestido seja o mais adequado para um bar de rock…
— Estás linda e muito adequada.
Sorri novamente e fixei a minha