Meu Irmão E Eu. Paulo Nunes

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Meu Irmão E Eu - Paulo Nunes

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de amor, pois só assim me sinto pleno.”

       Paulo Nunes. Escritor.

      Livremente inspirado em uma história verídica.

      Meus três homens

      __________________

      Alguns culparão a minha beleza. Outros não verão beleza em nada. Sinceramente, nem eu mesmo consigo dizer ao certo o que é a minha vida. Meu nome é Gaius Barrys, e resolvi escrever a minha história.

      Era véspera de Natal. Estávamos todos à mesa: papai, Marcus, Núbia, Arthur e eu. A cadeira vazia da mamãe era uma lembrança constante da dor que sua morte causou a todos nós. Tentávamos aceitar que, talvez, tenha sido melhor que ela tivesse partido, embora ainda nos doesse o peito a sua ausência. Foi o primeiro Natal sem ela, e muitos outros seriam como aquele: tristes. Dispensei a sobremesa, mil-folhas recheado com creme pâtissière, e pedi licença a todos para ir ao meu quarto.

      — Gaius, Emmanuelle fez a sobremesa que você mais gosta. Coma pelo menos um pouco, filho — solicitou meu pai na tentativa de manter-me mais tempo à mesa, enquanto eu arrastava a cadeira e me levantava.

      — Desculpe, pai. Com licença — respondi, saindo da mesa.

      Naquela noite, somente a companhia do meu travesseiro e o carinho do meu irmão podiam suavizar aquela dor que não cansava de maltratar meu coração. Já não suportava mais. Caí no choro e me entreguei à saudade e à revolta. Onde está Marcus? Onde está meu irmão? Pensei em meio às lágrimas. Ele não estava ali, mas sei que logo chegaria.

      No dia seguinte à ceia, sob o tímido sol que me invadia os olhos, percebi um caminhar elegante. As imagens não eram nítidas. Havia um homem em meu quarto. Ele segurava em suas mãos algo vermelho e pendular.

      — Quem é? — perguntei, ainda sonolento.

      — Hora de acordar, maninho — respondeu Marcus, deitando na cama e me abraçando por trás.

      — O que você trouxe?

      — Uma tulipa. Sei que você gosta. Feliz Natal! Eu amo você! e me beijou a nuca.

      Não me contive, deixei escapar uma fina lágrima e solucei.

      — Olhe! Sei que não está sendo fácil para você, e nem para mim, mas temos que reagir. Não pode se entregar. Olhe para mim. Mamãe não ficaria feliz se o visse assim, sofrendo tanto.

      Encarei seus olhos e respondi:

      — Marcus, não estou conseguindo. Não estou conseguindo! Você entende o que digo? — gritei.

      — Gaius, você tem que conseguir. Nós estamos aqui. Papai, Núbia, Arthur, eu... Todos vamos ajudar você. Sei que era muito apegado à mamãe, mas ela se foi. Olhe! Deixe-me fazer uma pergunta: Você queria que ela continuasse sofrendo daquele jeito? Não foi melhor ela ter partido em paz? questionou ele na tentativa de acalentar-me e acalmar-me.

      — Por favor, abrace-me. Abrace-me, meu irmão! — e, chorando, estendi os braços para recebê-lo em meu peito.

      Quando esta história que estou contando começou, meu irmão não morava em Monte Carlo. Os negócios da House’s Barrys o prendiam em Nova Iorque, embora fosse da vontade dele e da esposa morar em Mônaco conosco. Mas quando se é dono de uma das maiores redes de imobiliárias dos Estados Unidos, os deveres sempre precedem os desejos. Assim aconteceu com meu pai a vida inteira e, à época, acontecia com ele. Ele tinha vontade de estar conosco, mas não podia. Marcus estava nos visitando com a família apenas para as festas de fim de ano. Antes disso, só nos encontramos no enterro da mamãe e no início do ano, quando eu ainda morava com ele em Nova Iorque para terminar os estudos. Naquele mesmo ano, depois de concluir o colegial, resolvi sair da vida agitada de Manhattan para cuidar de mamãe, abandonando, assim, o convívio prazeroso com ele. Depois que ela morreu, precisava do meu irmão mais que nunca. E, como sempre, ele nunca hesitou em me salvar. E lamento que isso tenha mudado com o tempo.

      Naquela manhã de Natal, depois de abraçar-me, Marcus me convidou para passear. Disse-me que Monte Carlo estava abarrotada de turistas por causa das festas de fim de ano. Tinha a clara intenção de me animar. Realmente, havia um agradável clima de celebração, afinal era Natal, e, também, estava fazendo calor naquele fim de ano, mesmo que estivéssemos no inverno. Depois que tomamos café, ele sugeriu que inaugurássemos o presente que eu tinha ganhado de papai há alguns dias, uma BMW Z4 preta. Meu irmão sempre foi apaixonado por carros. Então, aceitei o convite, e fomos ao Monte Carlo Beach, sentindo o vento bater em nosso rosto. Era contagiante a alegria do meu irmão, pois trocava a música, abria o capô do carro, cantava, sorria... Feliz estava igual a uma criança com brinquedo novo. Conseguiu-me arrancar algumas discretas risadas ao quase atropelar um casal de turistas. Que susto tive, meu Deus! Ele estava feliz, e eu, vendo-o tão entusiasmado, fui possuído por esse mesmo sentimento.

      Chegando ao clube, fomos direto às mesas em torno da piscina. Que bom que a piscina é aquecida e coberta. Pensei. E, logo, pedimos um kir royal ao garçom. Algumas horas se passaram, enquanto conversávamos descontraidamente. Disse-me que gostaria de ter mais tempo para visitar ao papai e a mim mais vezes.

      — Eu gosto daqui... Monte Carlo é melhor que Nova Iorque para se viver. Espero que possa vir morar com vocês daqui a alguns anos — disse ele.

      Em suas palavras, vi-o desejoso de alguma coisa que não tivesse ligação com o trabalho, o que não era comum. Marcus era mais velho que eu, e meu único irmão. Era um homem de quem não se deveria esperar extroversão e sentimentalismos. Nunca se permitia dizer o que queria, pensava, sentia... Era formal, tímido, discreto, responsável e, talvez, misterioso, além de ser possuidor de uma beleza serena. As responsabilidades dos negócios o fizeram assim, um pouco diferente de mim. Recordo-me que, depois de almoçarmos, pedimos mais um kir e falávamos em entrar na piscina. Foi quando eu o vi. Ele vinha em nossa direção. E a sua presença mudou todo o curso daquele dia.

      — Você não sabe quem está vindo até nós — comentei em voz baixa, mas sem dar tempo ao meu irmão de tentar adivinhar.

      E antes que Marcus olhasse para trás, uma mão molhada tocou o seu paletó azul royal.

      — Meu amigo! Não sabia que estava aqui! — exclamou Marcus ao vê-lo.

      Era Aidan. E logo senti que deveria sair daquele clube o mais rápido possível. Marcus se surpreendeu, mas demonstrou estar feliz de tê-lo encontrado, sendo civilizado com ele.

      — Você, por aqui? Pensei que não gostasse de Mônaco. Senta conosco? — perguntou Marcus.

      — E não gosto! Mas estava entediado em Nova Iorque e resolvi passar o ano novo aqui. Olá, Gaius! — disse, olhando-me.

      E, logo, sentou-se ao meu lado, depois de me beijar o rosto.

      — Oi, Aidan! Como vai? — retribuí, meio envergonhado.

      — Ao seu lado, bem melhor — respondeu, sorrindo.

      Aidan era um velho amigo do meu irmão. Talvez, o único que teve de verdade. Estudaram o colegial

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