Meu Irmão E Eu. Paulo Nunes

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Meu Irmão E Eu - Paulo Nunes

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partido para namorar. Quem olhasse, jamais imaginaria que fosse gay. A meu ver, só tinha um defeito, era obsessivo por mim. Na época em que morei em Nova Iorque, não foram poucas as vezes em que Aidan me procurou. Quase sempre se apresentava insistente e inconveniente. Como esquecer o vexame que ele me fez passar na minha festa de aniversário daquele mesmo ano, poucos meses antes daquele inesperado encontro em Monte Carlo? Lembro-me bem daquele dia. Um amigo chamado Richard convidou-me para a vernissage de um artista plástico latino. Depois, fomos jantar. Na volta, pegamos um táxi, e ele me deixou em frente ao prédio do meu irmão, seguindo para sua casa. Ao entrar no apartamento, emocionei-me:

      — Parabéns pra você! Parabéns pra você!... — cantavam algumas pessoas, sorrindo e olhando para mim.

      Na sala de estar estavam Marcus, Núbia, Arthur, dois ou três conhecidos do meu irmão, um garçom, e Aidan. Depois dos parabéns, dei um beijo de agradecimento em cada um. Arthur, meu sobrinho de cinco anos, segurava o bolo e dizia com voz angelical:

      — Tio, tem que fazer um pedido e apagar a velinha.

      Como resistir a tanta doçura deste menino? Pensei. Fiz o pedido e apaguei a vela sob aplausos discretos. Quando percebi as bebidas, a música tocando e Aidan me olhando, pensei: Preciso de Richard aqui, agora! Ele vai me salvar. Necessitava de apoio, caso Aidan aprontasse. E ele sempre aprontava comigo, principalmente em público. Tomei o celular e liguei para Richard.

      — Meu irmão fez uma festa surpresa aqui em casa. Por favor, volte rápido!

      Não podia deixar de dizer algumas palavras a todos, mas queria que Richard estivesse presente. Então, esperei. Passeei discretamente pelos convidados, agradecendo a presença, até chegar ao meu irmão.

      — Eu amo muito você, sabia? Obrigado! — disse a Marcus, abraçando-o e beijando-lhe o rosto.

      — Você sabe que papai não está aqui por causa da mamãe, não é, maninho?justificava ele.

      E, antes que eu dissesse algo, uma mão se apossou da minha cintura e pressionou meu corpo contra ela. Era Aidan.

      — O seu presente. Espero que goste — disse ele.

      Aidan estendeu diante dos meus olhos uma caixinha preta aveludada. No alto da caixinha, um cisne negro e um S ao lado em alto-relevo prateado chamava a atenção.

      — Será o que estou pensando? — perguntei, curioso, com meio sorriso nos lábios.

      — Abra-a! — respondeu, levando o copo de uísque à boca, tentando disfarçar a ansiedade.

      — Ah! Não acredito! — exclamei.

      Era um lindo par de abotoaduras.

      — Deixe-me mostrar uma coisa — falou ele, tirando a mão da minha cintura e, por trás de mim, mostrando os cristais Swarovski & Ônix Negro nas bordas das abotoaduras.

      — A vendedora me disse que é o último lançamento da marca para os homens. Imaginei que você ainda não tivesse — completou ele.

      E não tinha.

      — Obrigado, Aidan! Gostei muito! — disse, dando-lhe um beijo demorado no rosto, enquanto ele apertava minha cintura contra a dele, suavemente.

      O presente não impressionou somente a mim. Núbia, minha cunhada, aproveitou o momento para alfinetar meu irmão.

      — Nossa, Gaius! Que presente, hein? Também gostaria de ganhar um desses de vez em quando.

      Nossas risadas deixaram Marcus constrangido, mas ele conseguiu se safar elegantemente:

      — Claro, meu amor — comentou ele, dando um gole no champanhe, levemente envergonhado.

      Núbia era uma mulher de pouco mais de trinta anos. Tinha uma estatura mediana, cabelos curtos e pretos, que combinavam com seus olhos escuros. Sua pele clara e o corpo conservado, resultado de horas de ginástica na academia e de uma alimentação balanceada, faziam dela uma mulher bela e sexy. Tinha bom gosto para se vestir. Não trabalhava, e passava parte do dia cuidando do meu sobrinho, que sofria de asma, e precisava de atenção. A beleza dela com a de Marcus faziam deles um casal admirável.

      Estávamos ali, comemorando meu aniversário, enquanto bebíamos, comíamos alguns aperitivos servidos pelos garçons, e falávamos amenidades, entre uma risada e outra. Havia um clima amistoso e descontraído entre nós. Lembro-me que comentava que ainda me sentia imaturo para ir à faculdade, pois não sabia o que queria fazer. Era apaixonado por fotografias, e pensava em trilhar esse caminho profissionalmente. Não queria apressar-me, afinal estava fazendo apenas dezessete anos e ainda tinha tempo para discernir o que fazer da minha vida. Papai sempre tentou me levar para o mundo dos negócios, da administração, dos escritórios, mas, vendo a vida do meu irmão, nunca me senti atraído. E, realmente, papai nunca conseguiu o que queria. Enquanto falava, fui interrompido pela campainha.

      — É Richard! Com licença — disse, dando as costas a Marcus e Aidan, caminhando até a porta.

      — Meu amigo, que bom que veio. Vejo que trouxe alguém com você. Quem é? — perguntei, enquanto o abraçava.

      — Este é Pablo. Este é Gaius. A festinha está animada. Nós queremos beber — respondeu, entrando no apartamento com seu amigo Pablo.

      O garçom recebeu os casacos deles, e eu os levei até o meu irmão.

      — Pablo, este é o meu irmão Marcus, a esposa dele, Núbia, e um amigo da família, Aidan. Bom, Richard todos vocês já conhecem, não é? comentei, descontraidamente, fazendo as devidas apresentações.

      Aproveitei que todos estavam conversando e fui em busca do garçom, e pedi:

      — Por favor, desligue a música e me traga uma taça de champanhe.

      Pedi a atenção de todos para o discurso.

      — Um minuto, por favor. Hoje é um dia muito especial para mim...

      Uma voz estridente se sobressaiu à minha, interrompendo-me. Era Aidan, visivelmente bêbado.

      — Peço a todos que escutem o que eu tenho a dizer: Hoje é um dia muito importante para nós que somos amigos de Gaius. Afinal, quem não se lembra dos seus dezessete, não é? Bom, às vezes é melhor não lembrar.

      As gargalhadas o interromperam, mas ele continuou mirando em meus olhos e discursando:

      — Desejamos toda a felicidade do mundo a você, pois o amamos e lhe queremos bem.

      Neste momento, caminhou em minha direção.

      — Não é segredo para muitos aqui que gosto de você. Nunca escondi o que sinto, e sabe disso. Lamento que seus pais não estejam aqui para ouvir o que tenho a dizer. Mas quero falar diante do seu irmão: eu amo muito você, e quero passar todos os dias da minha vida ao seu lado.

      Ele segurou minha mão, olhou-me com os olhos marejados e perguntou:

      — Gaius, você quer namorar comigo?

      Não sabia se socava a cara de felicidade de Richard ou o rosto de bobo apaixonado de

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