Entrevistas Do Século Breve. Marco Lupis

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Entrevistas Do Século Breve - Marco Lupis

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mudar, aumente. A menos que você não seja um cínico ou um filho da puta. Depois existem as coisas que geralmente os jornalista não me perguntam. É que aqui na Selva, às vezes temos que comer os ratos, beber a urina dos companheiros para não morrer de sede nas longas transferências... é isso.

      

      

       O que lhe falta? O que deixou?

       Falta o açúcar. E um par de meias secas. Ter sempre os pés molhados, dia e noite, no frio, é uma coisa que não desejo a ninguém. E depois o açúcar: é a única coisa que a Selva não lhe dá, é preciso fazê-lo vir de longe, pelo cansaço físico seria necessário. Para aqueles de nós que veem da cidade, certas lembranças são uma espécie de masoquismo. Então, nos repetimos: «Você se lembra dos sorvetes de Coyoacàn ? E os tacos da Division del Norte ?». Lembranças. Aqui se captura-se um faisão ou um outro animal, é preciso esperar três ou quatro horas para que fique pronto. E se a tropa está desesperada de fome e o come cru, no dia depois é diarreia para todos. Aqui a vida é diferente, se vê tudo de uma outra forma... Ah, sim, me perguntou o que deixei na cidade. Um bilhete de metrô, uma montanha de livros, um caderno cheio de poesias... e alguns amigos. Não tantos, alguns.

      

      

       Quando mostrará o seu rosto?

       Não sei, acho que o nosso capuz tenha também um significado ideológico positivo, corresponde à concepção desta nossa revolução, que não é individual e que não tem um chefe. Com o capuz somos todos Marcos.

      

      

       Porém, para o governo, você esconde o rosto porque tem algo a esconder…

       Eles não entenderam nada. Mas o verdadeiro problema não é nem o governo, são sim as forças reacionárias do Chiapas, os criadores e os latifundiários da área, com as suas “guardas brancas” privadas. Não acredito que exista muita diferença entre a tradicional abordagem racista de um branco da África do Sul perante um negro e aquele de um proprietário de terras do Chiapas em relação a um Índio. Aqui a expectativa de vida para um Índio é de 50-60 anos para os homens e 45-50 para as mulheres.

      

      

       E as crianças?

       A mortalidade infantil é altíssima. Agora vou lhe contar também a história de Paticha. Uma vez, há um tempo, deslocando-nos de uma zona à outra da Selva, acontecia atravessar uma pequena comunidade, muito pobre, onde sempre nos acolhia um companheiro zapatista com uma menina de três-quatro anos. Ela se chamava Patricia, mas ela pronunciava o seu nome “Paticha”. Eu lhe perguntava o que queria fazer quando ficasse grande e ela me respondia sempre: «guerrilheira». Uma noite, a encontramos com febre alta. Não tínhamos antibióticos e ele deveria estar com quarenta ou mais de febre. Os panos molhados secavam sobre ela como se fosse uma estufa. Ela morreu entre os meus braços. Patricia não tinha uma certidão de nascimento. E nem teve uma de morte. Para o México, nunca existiu, nem a sua morte nunca ocorreu. É isso, esta é a realidade dos Índios do Chiapas.

      

      

       O Movimento Zapatista colocou em crise Todo o sistema político mexicano, mas não venceu.

       O México precisa de democracia e de pessoas acima das partes que a garantam. Se a nossa luta for útil para alcançar este objetivo, não terá sido uma luta em vão. Mas o Exército Zapatista nunca se converterá em um partido político. Desaparecerá. E o dia em que isto acontecer, significará que teremos democracia.

      

      

       E se isto não ocorrer?

       Militarmente, estamos cercados. A verdade é que dificilmente o governo irá querer ceder porque o Chiapas e a selva Lacandona em particular, boiam literalmente sobre um mar de petróleo. E o petróleo do Chiapas é a garantia que o Estado mexicano deu aos Estados Unidos para os bilhões de dólares que os EUA lhes emprestaram. Não pode mostrar aos americanos que não tem o controle da situação.

      

      

       E vocês?

       Nós, em vez disso, não temos nada a perder. E a nossa é uma luta pela sobrevivência e para uma paz digna.

       A nossa é uma luta justa.

      

      

      2

      Peter Gabriel

      

      

       O duende do Rock

      

      

      

      

      

      

      

      

      

      

       A cada sua (rara) exibição, o lendário fundador e líder dos Genesis confirma que o seu apetite para cada forma de ensaio musical, cultural e tecnológico é realmente ilimitado.

       Encontrei Peter Gabriel para esta entrevista exclusiva no curso da manifestação musical «Sonoria», três dias milaneses totalmente dedicados ao rock. Em duas horas de grande música, Gabriel cantou, dançou e saltou como uma mola, envolvendo o público em um espetáculo que, como sempre, foi bem além de um simples concerto de rock.

       No fim do concerto me convidou a subir com ele na limusine que o levava embora e enquanto corríamos para o aeroporto, me falou sobre ele, dos seus projetos futuros, do empenho social contra o racismo e a injustiça ao lado da Amnesty International, da sua paixão pelas tecnologias multimídia e os segredos do novo disco, «Secret World Live», que estava para lançar em todo o mundo.

      

      

       O fim do racismo na África do Sul, o fim do apartheid; foi também uma vitória do rock?

      

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