Mestres da Poesia - Florbela Espanca. August Nemo

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Mestres da Poesia - Florbela Espanca - August Nemo Mestres da Poesia

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quando despertei, nem uma vi

      Que da minh'alma, Alguém, tudo levou!

      Maria das Quimeras, que fim deste

      Às flores d'oiro e azul que a sol bordaste,

      Aos sonhos tresloucados que fizeste?

      Pelo mundo, na vida, o que é que esperas?...

      Aonde estão os beijos que sonhaste,

      Maria das Quimeras, sem quimeras?...

      Saudades

      Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?...

      Se o sonho foi tão alto e forte

      Que pensara vê-lo até à morte

      Deslumbrar-me de luz o coração!

      Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão!

      Que tudo isso, Amor, nos não importe.

      Se ele deixou beleza que conforte

      Deve-nos ser sagrado como o pão.

      Quantas vezes, Amor, já te esqueci,

      Para mais doidamente me lembrar

      Mais decididamente me lembrar de ti!

      E quem dera que fosse sempre assim:

      Quanto menos quisesse recordar

      Mais saudade andasse presa a mim!

      O que alguém disse

      "Refugia-te na Arte" diz-me Alguém

      "Eleva-te num vôo espiritual,

      Esquece o teu amor, ri do teu mal,

      Olhando-te a ti própria com desdém.

      Só é grande e perfeito o que nos vem

      Do que em nós é Divino e imortal!

      Cega de luz e tonta de ideal

      Busca em ti a Verdade e em mais ninguém!"

      No poente doirado como a chama

      Estas palavras morrem... E n'Aquele

      Que é triste, como eu, fico a pensar...

      O poente tem alma: sente e ama!

      E, porque o sol é cor dos olhos d'Ele,

      Eu fico olhando o sol, a soluçar...

      Ruínas

      Se é sempre Outono o rir das Primaveras,

      Castelos, um a um, deixa-os cair...

      Que a vida é um constante derruir

      De palácios do Reino das Quimeras!

      E deixa sobre as ruínas crescer heras,

      Deixa-as beijar as pedras e florir!

      Que a vida é um contínuo destruir

      De palácios do Reino das Quimeras!

      Deixa tombar meus rútilos castelos!

      Tenho ainda mais sonhos para erguê-los

      Mais alto do que as águias pelo ar!

      Sonhos que tombam! Derrocada louca!

      São como os beijos duma linda boca!

      Sonhos!... Deixa-os tombar... Deixa-os tombar.

      Crepúsculo

      Teus olhos, borboletas de oiro, ardentes

      Batendo as asas leves, irisadas,

      Poisam nos meus, suaves e cansadas

      Como em dois lírios roxos e dolentes...

      E os lírios fecham... Meu Amor, não sentes?

      Minha boca tem rosas desmaiadas,

      E as minhas pobres mãos são maceradas

      Como vagas saudades de doentes...

      O Silencio abre as mãos... entorna rosas...

      Andam no ar carícias vaporosas

      Como pálidas sedas, arrastando...

      E a tua boca rubra ao pé da minha

      É na suavidade da tardinha

      Um coração ardente palpitando...

      Ódio?

      A Aurora Aboim

      Ódio por Ele? Não... Se o amei tanto,

      Se tanto bem lhe quis no meu passado,

      Se o encontrei depois de o ter sonhado,

      Se à vida assim roubei todo o encanto,

      Que importa se mentiu? E se hoje o pranto

      Turva o meu triste olhar, marmorizado,

      Olhar de monja, trágico, gelado

      Com um soturno e enorme Campo Santo!

      Nunca mais o amar já é bastante!

      Quero senti-lo doutra, bem distante,

      Como se fora meu, calma e serena!

      Ódio seria em mim saudade infinda,

      Mágoa de o ter perdido, amor ainda!

      Ódio por Ele? Não... não vale a pena...

      Renúncia

      A minha mocidade há muito pus

      No tranqüilo convento da tristeza;

      Lá passa dias, noites, sempre presa,

      Olhos fechados, magras mãos em cruz...

      Lá fora, a Noite, Satanás, seduz!

      Desdobra-se em requintes de Beleza...

      E como um beijo ardente a Natureza...

      A

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