Mestres da Poesia - Florbela Espanca. August Nemo

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Mestres da Poesia - Florbela Espanca - August Nemo Mestres da Poesia

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style="font-size:15px;">      Vejo neles imagens retratadas

      De abandonos cruéis e desleais,

      Fantásticos desejos irreais,

      E todo o oiro e o sol das madrugadas!

      Mas não te invejo, Amor, essa indif'rença,

      Que viver neste mundo sem amar

      É pior que ser cego de nascença!

      Tu invejas a dor que vive em mim!

      E quanta vez dirás a soluçar:

      "Ah, quem me dera, Irmã, amar assim!...

      Meu mal

      A meu irmão

      Eu tenho lido em mim, sei-me de cor,

      Eu sei o nome ao meu estranho mal:

      Eu sei que fui a renda dum vitral,

      Que fui cipreste, caravela, dor!

      Fui tudo que no mundo há de maior:

      Fui cisne, e lírio, e águia, e catedral!

      E fui, talvez, um verso de Nerval,

      Ou. um cínico riso de Chamfort...

      Fui a heráldica flor de agrestes cardos,

      Deram as minhas mãos aroma aos nardos...

      Deu cor ao eloendro a minha boca...

      Ah! de Boabdil fui lágrima na Espanha!

      E foi de lá que eu trouxe esta ânsia estranha,

      Mágoa não sei de quê! Saudade louca!

      A noite desce...

      Como pálpebras roxas que tombassem

      Sobre uns olhos cansados, carinhosas,

      A noite desce... Ah! doces mãos piedosas

      Que os meus olhos tristíssimos fechassem!

      Assim mãos de bondade me beijassem!

      Assim me adormecessem! Caridosas

      Em braçados de lírios, de mimosas,

      No crepúsculo que desce me enterrassem!

      A noite em sombra e fumo se desfaz...

      Perfume de baunilha ou de lilás,

      A noite põe embriagada, louca!

      E a noite vai descendo, sempre calma...

      Meu doce Amor tu beijas a minh'alma

      Beijando nesta hora a minha boca!

      Caravelas

      Cheguei a meio da vida já cansada

      De tanto caminhar! Já me perdi!

      Dum estranho país que nunca vi

      Sou neste mundo imenso a exilada.

      Tanto tenho aprendido e não sei nada.

      E as torres de marfim que construí

      Em trágica loucura as destruí

      Por minhas próprias mãos de malfadada!

      Se eu sempre fui assim este Mar-Morto,

      Mar sem marés, sem vagas e sem porto

      Onde velas de sonhos se rasgaram.

      Caravelas doiradas a bailar...

      Ai, quem me dera as que eu deitei ao Mar!

      As que eu lancei à vida, e não voltaram!...

      Inconstância

      Procurei o amor que me mentiu.

      Pedi à Vida mais do que ela dava.

      Eterna sonhadora edificava

      Meu castelo de luz que me caiu!

      Tanto clarão nas trevas refulgiu,

      E tanto beijo a boca me queimava!

      E era o sol que os longes deslumbrava

      Igual a tanto sol que me fugiu!

      Passei a vida a amar e a esquecer...

      Um sol a apagar-se e outro a acender

      Nas brumas dos atalhos por onde ando...

      E este amor que assim me vai fugindo

      É igual a outro amor que vai surgindo,

      Que há de partir também... nem eu sei quando...

      O nosso mundo

      Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos

      Como um divino vinho de Falerno!

      Poisando em ti o meu amor eterno

      Como poisam as folhas sobre os lagos...

      Os meus sonhos agora são mais vagos...

      O teu olhar em mim, hoje, é mais terno...

      E a Vida já não é o rubro inferno

      Todo fantasmas tristes e pressagos!

      A vida, meu Amor, quer vivê-la!

      Na mesma taça erguida em tuas mãos,

      Bocas unidas hemos de bebê-la!

      Que importa o mundo e as ilusões defuntas?...

      Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?...

      O mundo, Amor?... As nossas bocas juntas!...

      Prince charmant

      A Raul Proença

      No lânguido esmaecer das amorosas

      Tardes que morrem voluptuosamente

      Procurei-O no meio de toda a gente.

      Procurei-O em horas silenciosas

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