Mestres da Poesia - Florbela Espanca. August Nemo

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Mestres da Poesia - Florbela Espanca - August Nemo Mestres da Poesia

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do meu viver

      Pois que tu és já toda a minha vida!

      Não vejo nada assim enlouquecida...

      Passo no mundo, meu Amor, a ler

      No mist'rioso livro do teu ser

      A mesma história tantas vezes lida!...

      "Tudo no mundo é frágil, tudo passa...

      Quando me dizem isto, toda a graça

      Duma boca divina fala em mim!

      E, olhos postos em ti, digo de rastros:

      "Ah! podem voar mundos, morrer astros,

      Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

      Alentejano

      À Buja

      Deu agora meio-dia; o sol é quente

      Beijando a urze triste dos outeiros.

      Nas ravinas do monte andam ceifeiros,

      Na faina, alegres, desde o sol nascente.

      Cantam as raparigas meigamente.

      Brilham os olhos negros, feiticeiros.

      E há perfis delicados e trigueiros

      Entre as altas espigas d'oiro ardente.

      A terra prende aos dedos sensuais

      A cabeleira loira dos trigais

      Sob a bênção dulcíssima dos céus.

      Há gritos arrastados de cantigas...

      E eu sou uma daquelas raparigas...

      E tu passas e dizes: "Salve-os Deus!"

      Que importa?...

      Eu era a desdenhosa, a indif'rente.

      Nunca sentira em mim o coração

      Bater em violências de paixão

      Como bate no peito à outra gente.

      Agora, olhas-me tu altivamente,

      Sem sombra de Desejo ou de emoção,

      Enquanto a asa loira da ilusão

      Dentro em mim se desdobra a um sol nascente.

      Minh'alma, a pedra, transformou-se em fonte;

      Como nascida em carinhoso monte

      Toda ela é riso, e é frescura, e graça!

      Nela refresca a boca um só instante...

      Que importa?... Se o cansado viandante

      Bebe em todas as fontes... quando passa?...

      Fumo

      Longe de ti são ermos os caminhos,

      Longe de ti não há luar nem rosas;

      Longe de ti há noites silenciosas,

      Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

      Meus olhos são dois velhos pobrezinhos

      Perdidos pelas noites invernosas...

      Abertos, sonham mãos cariciosas,

      Tuas mãos doces plenas de carinhos!

      Os dias são Outonos: choram... choram...

      Há crisântemos roxos que descoram...

      Há murmúrios dolentes de segredos...

      Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!

      E ele é, ó meu amor pelos espaços,

      Fumo leve que foge entre os meus dedos...

      O meu orgulho

      Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera

      Não me lembrar! Em tardes dolorosas

      Lembro-me que fui a Primavera

      Que em muros velhos faz nascer as rosas!

      As minhas mãos outrora carinhosas

      Pairavam como pombas... Quem soubera

      Porque tudo passou e foi quimera,

      E porque os muros velhos não dão rosas!

      O que eu mais amo é que mais me esquece...

      E eu sonho: "Quem olvida não merece...

      E já não fico tão abandonada!

      Sinto que valho mais, mais pobrezinha:

      Que também é orgulho ser sozinha,

      E também é nobreza não ter nada!

      Os versos que te fiz

      Deixa dizer-te os lindos versos raros

      Que a minha boca tem pra te dizer!

      São talhados em mármore de Paros

      Cinzelados por mim pra te oferecer.

      Têm dolências de veludos caros,

      São como sedas brancas a arder...

      Deixa dizer-te os lindos versos raros

      Que foram feitos pra te endoidecer!

      Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...

      Que a boca da mulher é sempre linda

      Se dentro guarda um verso que não diz!

      Amo-te tanto! E nunca te beijei...

      E, nesse beijo, Amor, que eu te não dei

      Guardo os versos mais lindos que te fiz!

      Frieza

      Os teus olhos são frios como as espadas,

      E claros como os trágicos punhais,

      Têm brilhos cortantes de metais

      E

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