Mestres da Poesia - Florbela Espanca. August Nemo

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Mestres da Poesia - Florbela Espanca - August Nemo Mestres da Poesia

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style="font-size:15px;">      «Pela estrada da Vida vae andando;

      E, aos que vires passar, interrogando

      Acerca do Amor que hás de encontrar.»

      Fui pela estrada a rir e a cantar,

      As contas do meu sonho desfiando...

      E noite e dia, à chuva e ao luar,

      Fui sempre caminhando e perguntando...

      Mesmo a um velho eu perguntei: «Velhinho,

      Viste o Amor acaso em teu caminho?»

      E o velho estremeceu... olhou... e riu...

      Agora pela estrada, já cansados

      Voltam todos p'ra traz, desanimados...

      E eu paro a murmurar: Ninguém o viu!...»

      Impossível

      Disseram-me hoje, assim, ao ver-me triste:

      «Parece Sexta Feira de Paixão.

      Sempre a cismar, cismar, de olhos no chão,

      Sempre a pensar na dor que não existe...

      O que é que tem?! Tão nova e sempre triste!

      Faça por 'star contente! Pois então?!...»

      Quando se sofre o que se diz é vão...

      Meu coração, tudo, calado ouviste...

      Os meus males ninguém mos adivinha...

      A minha Dor não fala, anda sozinha...

      Dissesse ela o que sente! Ai quem me dera!...

      Os males de Anto toda a gente os sabe!

      Os meus... ninguém... A minha Dor não cabe

      Nos cem milhões de versos que eu fizera!...

      Livro de Sóror Saudade

      Irmã; Sóror Saudade, ah! se eu pudesse

      Tocar de aspiração a nossa vida,

      Fazer do mundo a Terra Prometida

      Que ainda em sonho às vezes me aparece!

      Américo Durão

      II n'a pas à se plaindre celui qui attend

      Un sentiment plus ardent et plus généreux.

      II n'a pas à se plaindre celui qui attend

      Le désir d'un peu plus de bonbeur, d'un

      Peu plus de beauté, d'un peu plus de justice.

       Maeterlinck - La Sagesse et la Destinée

      "Sóror Saudade"

      A Américo Durão

      Irmã, Sóror Saudade me chamaste...

      E na minh'alma o nome iluminou-se

      Como um vitral ao sol, como se fosse

      A luz do próprio sonho que sonhaste.

      Numa tarde de Outono o murmuraste,

      Toda a mágoa do Outono ele me trouxe,

      Jamais me hão de chamar outro mais doce.

      Com ele bem mais triste me tornaste...

      E baixinho, na alma da minh'alma,

      Como bênção de sol que afaga e acalma,

      Nas horas más de febre e de ansiedade,

      Como se fossem pétalas caindo

      Digo as palavras desse nome lindo

      Que tu me deste: "Irmã, Sóror Saudade..."

      O nosso livro

      A A.G.

      Livro do meu amor, do teu amor,

      Livro do nosso amor, do nosso peito...

      Abre-lhe as folhas devagar, com jeito,

      Como se fossem pétalas de flor.

      Olha que eu outro já não sei compor

      Mais santamente triste, mais perfeito

      Não esfolhes os lírios com que é feito

      Que outros não tenho em meu jardim de dor!

      Livro de mais ninguém! Só meu! Só teu!

      Num sorriso tu dizes e digo eu:

      Versos só nossos mas que lindos sois!

      Ah, meu Amor! Mas quanta, quanta gente

      Dirá, fechando o livro docemente:

      "Versos só nossos, só de nós os dois!..."

      O que tu és...

      És Aquela que tudo te entristece

      Irrita e amargura, tudo humilha;

      Aquela a quem a Mágoa chamou filha;

      A que aos homens e a Deus nada merece.

      Aquela que o sol claro entenebrece

      A que nem sabe a estrada que ora trilha,

      Que nem um lindo amor de maravilha

      Sequer deslumbra, e ilumina e aquece!

      Mar-Morto sem marés nem ondas largas,

      A rastejar no chão como as mendigas,

      Todo feito de lágrimas amargas!

      És ano que não teve Primavera...

      Ah! Não seres como as outras raparigas

      Ó Princesa Encantada da Quimera!...

      Fanatismo

      Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.

      Meus olhos andam cegos de te ver.

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