Agentes Da Lei E Assaltantes. Katherine McIntyre
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Um maltrapilho, é isso.
Ellie chutou na direção da costa. Havia se afastado o suficiente dos tiras para guiá-los a becos e vielas sem rumo. Ela rezou para que os desgraçados não tivessem dado uma boa olhada em seu rosto. Com uma reputação em constante expansão na cidade, a última coisa de que ela precisava anexar ao final de sua miríade de títulos era o de assassina. A irmã, Theo, teria uma síncope.
Ela se atrapalhou com a parede de pedra à sua frente, deslizando as pontas dos dedos entorpecidos ao longo da superfície. As unhas se prenderam nas rachaduras, e ela encontrou apoio. Ellie se levantou da água, piscando para tirar a sujeira dos olhos enquanto escalava as pedras. As mãos doíam e todo o corpo ameaçava se revoltar, mas ela cerrou a mandíbula e continuou a subir. Os ventos fortes ao redor da cidade não lhe custaram um centavo antes, mas devido à maneira como suas calças e blusa colavam em sua pele, e pela água escorregando pelas costas e pernas, ela daria um braço por um fogo quente.
Ellie içou-se por cima da saliência. Nesta parte da cidade, os edifícios brilhavam, mas eles não a impressionavam com a metade do medo que as mansões no lado refinado de Londres. Uma lua torta piscava acima, estrangulada pela poluição que as colunas na distância próxima canalizavam para o céu. Um arrepio percorreu Ellie quando se empurrou para cima e lutou com os próprios membros amortecidos para ficar de pé.
A água jorrava dela como um lençol sendo torcido, espirrando no chão. Ellie olhou para sua blusa e colete: ainda um pouco manchados, mas pelo menos ela não parecia mais ter mergulhado os dedos em sangue para pintar. Algumas sombras mudaram, e suas mãos deslizaram para as facas que enfiara na cintura. Um sujeito com calças sujas tropeçou mais do que passou, mas o fluxo constante de murmúrios não era para ela.
Ellie puxou as facas, brandindo uma em cada mão. Enquanto se levantava, deslizou os nós dos dedos contra a bolsa de moedas para se assegurar do peso. O aluguel venceria mesmo se ela tivesse furtado o suficiente ou não, caso contrário, ela e a mãe estariam nas ruas. Dois rufiões mais altos tentaram passar por ela como se não estivessem avaliando o quanto ela poderia ser uma ameaça.
Ellie girou as facas e mostrou os dentes ao passar. Difícil ser ameaçadora ao parecer um rato afogado, mas ela faria o que podia. Os dois homens deram um olhar um pouco mais duro, mas ela não piscou. Predadores não evitavam o confronto, e ela nunca mais seria a presa.
Mesmo assim, o cheiro de terra compactada e o tec-tec-tec da água caindo a levaram de volta àquela época escondida no porão de Blair. Até hoje, ela se xingava por ter se distraído a ponto de ser pega por trapaceiros de quinta. A isca do tilintar frio e forte dos xelins a atraía todas as vezes. Ainda mais com a saúde de mamãe piorando.
Um dos homens farejou na direção dela, mas nenhum dos dois alcançou as pistolas salientes sob os coletes.
Ellie passou, gotas de água escorrendo pelas costas, braços e pernas. A cada passo, mais borrifadas no chão, como se ela trouxesse as próprias chuvas. Nesta parte da cidade, vivas e assobios estrondosos ecoavam dos bares, os camaradas tropeçando nas letras como se a noite se aproximasse do fim.
Casa.
Ela precisava voltar para casa para se certificar de que mamãe havia tomado o remédio. A mulher gostava de testar a paciência da filha, a cada dia, com suas inúmeras maneiras de evitar o xarope de tratamento. Porém, primeiro Ellie precisava fazer mais uma parada. Ela estava uma hora atrasada ao pegar a próxima remessa de remédios da mãe na casa abandonada de Gladstone. O farmacêutico do beco que vendia para os rudes de Islington não se arriscava. Dinheiro adiantado antes de colocar as mercadorias em engenhocas à prova de tecnomantes.
Os ombros dela ficaram tensos enquanto caminhava, seu corpo preparado para uma briga a cada beco em que virava. Tão perto de Islington, o fedor familiar de mijo, suor e cerveja velha flutuou até ela com poder. Ellie apertou o cabelo com uma das mãos, a outra com a faca bem segura. Melhor um desgraçado ser atravessado pela lâmina dela, do que se tornar vítima da deles.
A morte era tão regular quanto a poluição nesta parte da cidade, mas a desfiguração precisa e metódica do cadáver em que ela tropeçara não era. Sussurros aumentaram ao longo das semanas enquanto os jornais circulavam histórias desse assassino, o Açougueiro da Rua Broad, desde o primeiro assassinato. E agora, os policiais podem tentar atribuir essas atrocidades a ela.
A condensação agarrava-se aos seus braços, as roupas úmidas ameaçando sufocá-la enquanto deslizava por outro beco úmido, o paralelepípedo apodrecendo sob seus sapatos. Os lampiões a gás lutavam para lançar seus raios na lama escura que se agarrava a essas ruas familiares. O clique gentil de seus passos cantava uma melodia própria, assim como o solavanco de um eventual autocarro pela rua, e os gritos ásperos e chamados de taverna em taverna.
Fantasmas passavam por essas ruas laterais, quer estivessem mortos, agonizantes ou marcados para morrer. Ellie era a terceira desde o momento em que apareceu neste mundo. Nenhum poder como a irmã, mais pobre do que um limpador de chaminés e de persuasão feminina: ela se casaria ou seria enviada às fábricas para sangrar na calçada como todos os outros definhando aqui.
A treliça quebrada da casa Gladstone destacava-se no final do beco.
Ellie apressou o passo. Neste ponto, ela desesperava-se para se livrar desta roupa encharcada.
O ar ficou tenso com o silêncio ao seu redor, e ela sacou a outra faca, de prontidão. A maioria se desviava da casa de Gladstone, tendo aprendido há muito tempo que não seria capaz de roubar ou mexer nessas caixas. Mesmo assim, alguns tentaram. Ela não passou por tudo que acabou de acontecer ao fugir dos gambés para ser apagada assim que entrasse na casa.
Ellie testou a maçaneta. A porta se abriu sem nenhum rangido. Para um prédio abandonado, a via principal permanecia intacta, mantida assim como um respeito silencioso aos poucos que se compadeceram e ofereceram remédios aos pobres. Em geral, uma dose de gim para a constituição era o máximo que os habitantes de seu cortiço podiam pagar.
As sombras caíam em cascata acima dela, nenhuma luz nesta casa de passagem. Ela enfiou a mão no bolso para pegar a lanterna que a irmã fizera para ela nas Indústrias Kylock. Alguns movimentos, e o dispositivo encapsulado fez tique-taque. Um fraco brilho de éter lançava raios esverdeados nas tábuas do piso à frente. O ar aqui cheirava a uma combinação de mofo e sabugueiro: rico e em decomposição, tudo de uma vez.
Ela contava os passos enquanto caminhava, atenta o tempo todo por uma respiração, um rangido ou um sussurro no escuro.
Ellie entrou na primeira sala, onde a mesa se estendia por toda a parede do fundo com uma dúzia de diferentes caixas de metal soldadas a ela. O remédio da mãe estava na de número seis hoje. Ela deu um passo à frente, passou o dedo pela costura superior para acordar a máquina e inserir o código de sete dígitos na longa fechadura de combinação presa ao lado da caixa. Após os primeiros quatro dígitos, um clique do mecanismo ecoou, e ela inseriu os outros de trás para frente.
A fechadura se abriu, e um suspiro escapou de seus lábios. Talvez ela pudesse escapar desta noite ilesa, afinal. Ellie enfiou a mão e guardou a garrafa no porta-moedas com o resto dos tesouros que ela roubou esta noite. O assobio de uma música escapou de seus lábios enquanto ela passeava pela porta da frente da casa de Gladstone.
Um clique soou à sua esquerda.
Um cano fulminou na direção dela, quase tão sombrio e feroz quanto o homem uniformizado empunhando a arma.