Quase Perdida. Блейк Пирс
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– Já almoçou? – Ryan perguntou após servir o chá.
– Não, mas tudo bem…
Ignorando seus protestos, ele abriu a geladeira e tirou um prato cheio de frutas, bolinhos e sanduíches.
– Aos finais de semana, gosto de ter um estoque de lanches à disposição. Gostaria de poder dizer que isso é especialmente para você, mas é padrão para as crianças. Dylan tem doze anos e está começando a comer como um adolescente; Madison tem nove anos e pratica muitos esportes. Prefiro que eles devorem isso a porcarias ou doces.
– Onde estão as crianças? – Cassie perguntou, sentindo outra pontada de nervos ao pensar em conhecê-las. Com um pai tão divertido e autêntico, provavelmente seriam exatamente como Jess descrevera, mas precisava ter certeza.
– Eles desceram a estrada de bicicleta depois do almoço para visitar um amigo. Eu disse para aproveitarem ao máximo a tarde, antes que o clima mudasse. Devem estar de volta a qualquer minuto. Caso contrário, talvez eu tenha que buscá-los na Land Rover.
Pela janela, Ryan olhou de relance para o céu que escurecia.
– De todo modo, como te expliquei, estou desesperado por ajuda, por um tempo. Sou um pai solteiro agora, as crianças precisam do máximo de distração possível e o meu prazo de trabalho é inquebrável.
– O que você faz? – Cassie perguntou.
– Sou dono de uma frota de barcos de pesca e lazer que operam no porto da cidade. Esta é a época do ano em que os barcos passam por manutenção e estou com uma equipe de reparos no local nesse momento. Eles estão infernalmente ocupados e as primeiras tempestades da estação estão quase chegando. É por isso que o tempo está tão apertado; e minhas atuais circunstâncias não estão ajudando.
– Deve ser terrível ter passado por um divórcio, especialmente agora.
– Tem sido um período difícil.
Conforme Ryan deu as costas para a janela, com a mudança de luz, Cassie percebeu que ele não era só atraente, mas excepcionalmente bonito. Seu rosto era forte e esculpido e, a julgar pelos músculos definidos de seus braços, pensou que ele aparentava estar em extrema boa forma.
Cassie repreendeu-se por cobiçar com os olhos este pobre homem, alguém que atravessava um inferno emocional. Mesmo assim, tinha que admitir, ele possuía uma beleza atraente, tanto que ela precisou impedir a si mesma de encará-lo.
– Ryan, o único problema é que eu não tenho um visto de trabalho válido neste momento. Tenho um visto para a França, e fui totalmente liberada pela agência de au pair, mas não tinha me dado conta de que as coisas funcionavam de outro jeito aqui.
– Você foi indicada por uma amiga – Ryan disse, sorrindo. – Isso significa que você pode ficar conosco como hóspede. Pagarei em dinheiro, completamente fora dos registros, então você receberá livre de impostos, se estiver bom para você.
Cassie sentiu uma onda de alívio. Ryan compreendia a situação dela e estava disposto a acomodá-la sem problemas. Isso era um enorme peso tirado de seus ombros. Ela percebeu que poderia até mesmo ser o fator decisivo, precisando se refrear de aceitar o emprego de imediato. Relembrou-se de ser cuidadosa e esperar até ter conhecido as crianças antes de se comprometer.
– Por quanto tempo precisaria de mim?
– No máximo, três semanas. Isso me dará tempo para completar o projeto, e estaremos entrando em férias escolares, então teremos a chance de nos conectarmos enquanto família. Reconectarmos, devo dizer, como uma nova família. Dizem que o divórcio é a experiência de vida mais estressante, e acho que eu e as crianças podemos confirmar isso.
Cassie assentiu, com empatia. Tinha certeza de que os filhos dele deviam ter sofrido. Perguntou-se o quanto Ryan e sua esposa teriam brigado. Inevitavelmente, teria havido brigas. Dependia apenas se essas brigas teriam terminado em gritos e recriminações, ou em um silêncio tenso e fumegante.
Em sua experiência com ambos quando criança, não tinha certeza de qual era pior.
Enquanto a mãe de Cassie estava viva, ela tinha dado um jeito de manter a pior parte do temperamento de seu pai abafado. Cassie lembrava-se dos silêncios cheios de tensão de quando era mais nova, o que lhe permitira desenvolver um afinado sensor de conflitos. Podia entrar em um ambiente e perceber instantaneamente se as pessoas tinham brigado. Os silêncios eram tóxicos e causavam desgaste emocional porque nunca havia um fim para eles.
Se havia algo a ser dito em favor de brigas barulhentas era que elas eventualmente terminavam, ainda que fosse com vidro quebrado ou uma ligação para a emergência. Porém, isto causava outros traumas e cicatrizes duradouras. Também trazia uma sensação de medo, porque gritos e violência física mostravam que uma pessoa era capaz de perder o controle de si mesma e, portanto, não era confiável.
Em suma, este fora seu pai após a morte de sua mãe.
Cassie olhou ao redor da cozinha alegre e arrumada, tentando imaginar o que poderia ter acontecido aqui entre Ryan e sua esposa. As piores brigas, em sua experiência, aconteciam na cozinha e no quarto.
– Sinto muito por você ter tido que passar por isso – ela disse, suavemente.
Ryan observava-lhe atentamente e ela devolveu o olhar, encarando os penetrantes e pálidos olhos azuis.
– Cassie, você parece compreender – ele disse.
Ela pensou que ele perguntaria algo mais, mas, naquele momento, a porta de entrada se abriu.
– As crianças chegaram, bem na hora – ele soava aliviado.
Cassie olhou pela janela. Gotas de chuva respingavam no vidro e, assim que a porta bateu, um aguaceiro frio de inverno começou a desabar.
– Oi, pai!
Passos bateram no assoalho de madeira e uma jovem garota magricela, vestindo bermudas de ciclismo e um agasalho verde, entrou correndo na cozinha. Ela parou ao ver Cassie, examinando-a de cima a baixo, depois caminhou até ela para apertar sua mão.
– Olá. Você é a moça que vai cuidar de nós?
– Meu nome é Cassie. Você é Madison? – Cassie perguntou.
Madison assentiu e Ryan bagunçou os cabelos castanhos brilhantes de sua filha.
– Cassie ainda está decidindo se quer trabalhar para nós. O que você acha? Promete se comportar da melhor forma possível?
Madison deu de ombros.
– Você sempre nos diz para não prometer o que não podemos cumprir. Mas vou tentar.
Ryan riu e Cassie viu-se sorrindo com a honestidade atrevida da resposta de Madison.
– Onde o Dylan está? – Ryan perguntou.
– Está na garagem, colocando óleo na bicicleta. Estava rangendo na subida, depois a corrente caiu – Madison respirou fundo e andou até a porta da cozinha. – Dylan! – gritou. – Venha aqui!
Cassie ouviu um distante “Estou indo!”.
– Ele