Mestres da Poesia - Mário de Andrade. Mário de Andrade

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Mestres da Poesia - Mário de Andrade - Mário de Andrade Mestres da Poesia

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style="font-size:15px;">      AS JUVENILIDADES AURIVERDES

      (numa grita descompassada)

      Malditos! Boçais! Cães! Piores que cães!

      Somos as Juvenilidades Auriverdes!

      A passiflora!... Vós, malditos! boçais!

      OS ORIENTALISMOS CONVENCIONAIS

      (fff)

      ... O corso aos domingos, o chá no Trianon...

      E as ......... cidades, as ......... cidades,

      as ......... cidades, as ......... cidades,

      e mil ......... cidades...

      AS JUVENILIDADES AURIVERDES

      (ffff)

      Seus borras! Seus bêbedos! Infames! Malditos!

      A passiflora! o espanto! a loucura! o d.....

      OS ORIENTALISMOS CONVENCIONAIS

      (fffff)

      ... e as perpetuidades

      Das celebridades das nossas vaidades;

      Das antiguidades às atualidades,

      Ao fim das idades sem desigualdades

      Quem há-de...

      AS JUVENILIDADES AURIVERDES

      (loucos, sublimes, tombando exaustos)

      Seus..............................!!!

      (A maior palavra feia que o leitor conhecer)

      Nós somos as Juvenilidades Auriverdes!

      A passiflora! o espanto!... a loucura! o desejo!...

      Cravos!... Mais cravos... para... a nossa...

      Silêncio. Os ORIENTALISMOS CONVENCIONAIS, bem como as SENECTUDES TREMULINAS e os SANDAPILÁRIOS

      INDIFERENTES fugiram e se esconderam, tapando os ouvidos à grande, à máxima Verdade. A orquestra evaporou-se, espavorida. Os maestri sucumbiram. Caiu a noite, aliás; e na solidão da noite das mil estrelas as JUVENILIDADES AURIVERDES, tombadas no solo, chorando, chorando o arrependimento do tresvario final.

      MINHA LOUCURA

      (suavemente entoa a cantiga de

      adormentar)

      Chorai! Chorai! Depois dormi!

      Venham os descansos veludosos

      Vestir os vossos membros... Descansai!

      Ponde os lábios na terra! Ponde os olhos na terra!

      Vossos beijos finais, vossas lágrimas primeiras

      Para a branca fecundação!

      Espalhai vossas almas sobre o verde!

      Guardai nos mantos de sombra dos manacás

      Os vossos vagalumes interiores!

      Inda serão um Sol nos ouros do amanhã!

      Chorai! Depois dormi! '

      A mansa noite com seus dedos estelares

      Fechará nossas pálpebras...

      As vésperas do azul...

      As milhores vozes para vosso adormentar!

      Mas o Cruzeiro do Sul e a saudade dos martírios...

      Ondular do vai-vem! Embalar do vai-vem!

      Para a restauração o vinho dos noturnos!...

      Mas em vinte anos se abrirão as searas!

      Virão os setembros das floradas virginais!

      Virão os dezembros do Sol pojando os grânulos!

      Virão os fevereiros do café-cereja!

      Virão os marços das maturações!

      Virão os abris dos preparativos festivais!

      E nos vinte anos se abrirão as searas!

      E virão os maios! E virão os maios!

      Rezas de Maria... Bimbalhadas... Os votivos...

      As preces subidas... As graças vertidas...

      Tereis a cultura da recordação!

      Que o Cruzeiro do Sul e a saudade dos martírios

      Plantem-se na tumba da noite em que sonhais...

      Importa?!... Digo-vos eu nos mansos

      Oh! Juvenilidades Auriverdes, meus irmãos:

      Chorai! Chorai! Depois dormi!

      Venham os descansos veludosos

      Vestir os vossos membros!... Descansai!

      Diuturnamente cantareis e tombareis.

      As rosas... As borboletas... Os orvalhos...

      O todo-dia dos imolados sem razão...

      Fechai vossos peitos!

      Que a noite venha depor seus cabelos aléns

      Nas feridas de ardor dos cutilados!

      E enfim no luto em luz, (Chorai!)

      Das praias sem borrascas, (Chorai!)

      Das florestas sem traições de guaranis

      (Depois dormi!)

      Que vos sepulte a Paz Invulnerável!

      Venham os descansos veludosos

      Vestir os vossos membros... Descansai!

       (quase a sorrir, dormindo)

      Eu... os desertos... os Caíns... a maldição...

      (As JUVENILIDADES AURIVERDES e MINHA LOUCURA adormecem eternamente surdas, enquanto das janelas de

      palácios, teatros, tipografias, hotéis — escancaradas, mas cegas — cresce uma enorme vaia de assovios, zurros,

      patadas.)

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