Mestres da Poesia - Mário de Andrade. Mário de Andrade

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Mestres da Poesia - Mário de Andrade - Mário de Andrade Mestres da Poesia

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saias cor-de-rosa e gravatas cor-de-rosa!...

      Balcões na cautela latejante, onde florem Iracemas

      Para os encontros dos guerreiros brancos... Brancos?

      E que os cães latam nos jardins!

      Ninguém, ninguém, ninguém se importa!

      Todos embarcam na Alameda dos Beijos da Aventura!

      Mas eu... Estas minhas grades em girândolas de jasmins,

      Enquanto as travessas do Cambuci nos livres

      Da liberdade dos lábios entreabertos!...

      Arlequinal! Arlequinal!

      As nuvens baixas muito grossas,

      Feitas de corpos de mariposas,

      Rumorejando na epiderme das árvores...

      Mas sobre estas minhas grades em girândolas de jasmins,

      O estelário delira em carnagens de luz,

      E meu céu é todo um rojão de lágrimas!...

      E os bondes riscam como um fogo de artifício,

      Sapateando nos trilhos,

      Jorrando um orifício na treva cor de cal...

      — Batat' assat’ô furnn!...

      Paisagem nº 2

      Escuridão dum meio-dia de invernia...

      Marasmos... Estremeções... Brancos...

      O céu é toda uma batalha convencional de confetti brancos;

      e as onças pardas das montanhas no longe...

      Oh! para além vivem as primaveras eternas!

      As casas adormecidas

      parecem teatrais gestos dum explorador do polo

      que o gelo parou no frio...

      Lá para as bandas da Ipiranga as oficinas tossem...

      Todos os estiolados são muito brancos.

      Os invernos de Paulicéia são como enterros de virgem...

      Italianinha, toma al tuo paese!

      Lembras-te? As barcarolas dos céus azuis nas águas

       verdes...

      Verde — cor dos olhos dos loucos!

      As cascatas das violetas para os lagos...

      Primaveral — cor dos olhos dos loucos!

      Deus recortou a alma de Paulicéia

      num cor de cinza sem odor...

      Oh! para além vivem as primaveras eternas!...

      Mas os homens passam sonambulando...

      E rodando num bando nefário,

      vestidas de eletricidade e gasolina,

      as doenças jocotoam em redor.

      Grande função ao ar livre!

      Bailado de Cocteau com os barulhadores de Russolo!

      Opus 1921

      São Paulo é um palco de bailados russos.

      Sarabandam a tísica, a ambição, as invejas, os crimes

      e também as apoteoses da ilusão...

      Mas o Nijinsky sou eu!

      E vem a Morte, minha Karsavina!

      Quá, quá, quá! Vamos dançar o fox-trot da desesperança,

      a rir, a rir dos nossos desiguais!

      Tu

      Morrente chama esgalga,

      Mais morta inda no espírito!

      Espírito de fidalga,

      Que vive dum bocejo entre dois galanteios

      E de longe em longe uma chávena da treva bem forte!

      Mulher mais longa

      Que os pasmos alucinados

      Das torres de São Bento!

      Mulher feita de asfalto e de lamas de várzea,

      Toda insultos nos olhos,

      Toda convite nessa boca louca de rubores!

      Costureirinha de São Paulo,

      Ítalo-franco-luso-brasílico-saxônica,

      Gosto dos seus crepusculares,

      Crepusculares e por isso mais ardentes,

      Bandeirantemente!

      Lady Macbeth feita de névoa fina,

      Pura neblina da manhã!

      Mulher que és minha madrasta e minha mãe!

      Trituração ascencional dos meus sentidos!

      Risco de aeroplano entre Mogi e Paris!

      Pura neblina da manhã!

      Gosto dos teus desejos de crime turco

      E das tuas ambições retorcidas como roubos!

      Amo-te de pesadelos taciturnos,

      Materialização da Canaã do meu Poe...

      Never more!

      Emílio de Menezes insultou a memória do meu Poe...

      Oh! Incendiária dos meus aléns sonoros!

      Tu és o meu gato preto!

      Tu me esmagaste nas paredes do meu sonho!

      Este sonho medonho!

      E serás sempre, morrente chama esgalga,

      Meio fidalga, meio barregã,

      As alucinações crucificantes

      De todas as auroras do meu jardim!

      Paisagem nº 3

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