Mestres da Poesia - Mário de Andrade. Mário de Andrade
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Читать онлайн книгу Mestres da Poesia - Mário de Andrade - Mário de Andrade страница 14
E o contraste boçal do lavrador
que sem amor afia a foice...
Estes meus parques do Anhangabaú ou de Paris,
onde as tuas águas, onde as mágoas dos teus sapos?
“Meu pai foi rei!
— Foi. — Não foi. — Foi. — Não foi."
Onde as tuas bananeiras?
Onde o teu rio frio encanecido pelos nevoeiros,
contando histórias aos sacis?...
Meu querido palimpsesto sem valor!
Crônica em mau latim
cobrindo uma écloga que não seja de Virgílio!...
A caçada
A bruma neva... Clamor de vitórias e dolos...
Monte São Bernardo sem cães para os alvíssimos!
Cataclismos de heroísmos... O vento gela...
Os cinismos plantando o estandarte;
enviando para todo o universo
novas cartas-de-Vaz-Caminha!...
Os Abéis quase todos muito ruins
a escalar, em lama, a glória...
Cospe os fardos!
Mas sobre a turba adejam os cartazes de Papel e Tinta
como grandes mariposas de sonho queimando-se na luz...
E o maxixe do crime puladinho
na eternização dos três dias... Tripudiares gaios!...
Roubar... Vencer... Viver os respeitosamente, no cre-
[púsculo...
A velhice e a riqueza têm as mesmas cãs.
A engrenagem trepida... A bruma neva...
Uma síncope: a sereia da polícia
que vai prender um bêbedo no Piques...
Não há mais lugares no boa-vista triangular.
Formigueiro onde todos se mordem e devoram...
O vento gela... Fermentação de ódios egoísmos
para a caninha-do-O' dos progredires...
Viva virgem vaga desamparada...
Malfadada! Em breve não será mais virgem
nem desamparada!
Terá o amparo de todos os desamparos!
Tossem: O Diário! A Platea...
Lívidos doze-anos por um tostão
Também quero ler o aniversário dos reis...
Honra ao mérito! Os virtusosos hão-de sempre ser louvados
e retratificados...
Mais um crime na Moóca!
Os jornais estampam as aparências
dos grandes que fazem anos, dos criminosos que fazem
[danos...
Os quarenta-graus das riquezas! O vento gela...
Abandonos! Ideais pálidos!
Perdidos os poetas, os moços, os loucos!
Nada de asas! nada de poesia! nada de alegria!
A bruma neva... Arlequinal!
Mas viva o Ideal! God save the poetry!
— Abade Liszt da minha filha monja,
na Cadillac mansa e glauca da ilusão.
passa o Oswald de Andrade mariscando gênios entre a multidão!...
Noturno
Luzes do Cambuci pelas noites de crime...
Calor!... E as nuvens baixas muito grossas,
Feitas de corpos de mariposas,
Rumorejando na epiderme das árvores...
Gingam os bondes como um fogo de artifício,
Sapateando nos trilhos,
Cuspindo um orifício na treva cor de cal...
Num perfume de heliotrópios e de poças
Gira uma flor-do-mal... Veio do Turquestã;
E traz olheiras que escurecem almas...
Fundiu esterlinas entre as unhas roxas
Nos oscilantes de Ribeirão Preto...
— Batat’ assat'ô furnn!...
Luzes do Cambuci pelas noites de crime!...
Calor... E as nuvens baixas muito grossas,
Feitas de corpos de mariposas,
Rumorejando na epiderme das árvores...
Um mulato cor de ouro,
Com cabeleira feita de alianças polidas...
Violão. "Quando eu morrer..." Um cheiro pesado de
[baunilhas
Oscila, tomba e rola no chão...
Ondula no ar a nostalgia das Baías...
E os bondes passam como um fogo de artificio,
Sapateando nos trilhos,
Ferindo um orifício na treva cor de cal...
— Batat' assat’ô furnn!...
Calor!... Os diabos andam no ar
Corpos de nuas carregando...
As lassitudes dos sempres imprevistos!
E as almas acordando às mãos dos enlaçados!
Idílios sob os plátanos!...
E o ciúme universal