Mestres da Poesia - Mário de Andrade. Mário de Andrade

Чтение книги онлайн.

Читать онлайн книгу Mestres da Poesia - Mário de Andrade - Mário de Andrade страница 6

Mestres da Poesia - Mário de Andrade - Mário de Andrade Mestres da Poesia

Скачать книгу

style="font-size:15px;">      viu continuar, em surto resplendente,

      as civilizações do antigo oriente,

      nas águas batismais das energias novas,

      tudo é um imenso plaino devastado!

      O homem voltou ao seu estado primitivo:

      blasfema, odeia, trai, e sepulta-se vivo

      em trincheiras, sinistras como covas…

      Cruza os espaços, rebentando, atroa

      a cólera do obus;

      e no arruído, no choque e na fumaça,

      a civilização perde a coroa,

      e treme, e foge, e tomba e se espedaça,

      desertando da grande luz!…

      Diante de tanto mal e tanta ruína,

      de tanta inveja parda e estulta,

      diante desse ódio frio e cru,

      pálida, imóvel, trágica e divina,

      sobre a devastação que cresce e avulta,

      surgiu a minha dor, como um mármore nu.

      Surgiu, cresceu, e, imensamente branca,

      com o branco triste dos enfermos,

      na compunção atroz do seu sofrer,

      a minha dor sem lágrimas, nos ermos

      onde o último eco dos canhões estanca,

      gelou o íntimo gesto e nada quis dizer.

      Apenas, a sorrir, num sorriso que punge,

      pálida, imóvel, trágica e divina,

      olha sem ver para a devastação…

      A esperança talvez lhe santifica e unge

      o olhar, mas o sorriso, o sorriso que a mina,

      trai o penoso fel duma desilusão.

      Natal

      Natal… Hora de sinos badalando,

      de neve branquecendo pinheirais;

      hora de pés de criancinhas arrastando

      pela brancura lisa do caminho;

      hora do cândido velhinho…

      – Em Reims, os sinos não badalam mais!

      A neve, sempre a mesma,

      cai, continua de cair; e o vento

      – bruscas rajadas brancas – se desfralda,

      como túnica de avantesma,

      rasgando-se à desmantelada espalda

      do grande, velho monumento…

      – Em Reims, os sinos não badalam mais!

      Pelas ruas escurecidas

      andam caladamente os grupos uniformes…

      Não tem mais galas o natal! apenas

      no trabalhar dos hospitais,

      tratam da cura de feridas

      de hediondas chagas e lesões enormes,

      alvas mulheres silenciosas e serenas…

      Natal… Mas não há luzes nas capelas!…

      Nem pratas de lavrados castiçais

      onde luziluzam as velas!…

      Natal… Mas não há longas espirais

      de incenso, a se enroscar pelos altares!…

      No colo virgem de Maria,

      junto dos anjos tutelares,

      rindo, estendendo seus bracinhos nus,

      nem se lembraram – quem se lembraria! –

      nem se lembraram de repor Jesus!…

      – Em Reims, os sinos não badalam mais!

      Num silêncio de múmia, brancacenta,

      a noite corre… Batem doze badaladas.

      Onde estão as canções desabaladas

      dos sinos gárrulos?… – Friorenta,

      a grande catedral emudeceu:

      e para ela a alegria dos natais,

      toda a alegria dos natais morreu!…

      – Em Reims, os sinos não badalam mais!…

      Lovaina

      Abriam-se inda no ar alguns obuses,

      como flocos de paina;

      e, ao barulhar bramante do barulho,

      tetos tombavam, e brotavam luzes;

      onde fora Lovaina…

      – Mas no meio do entulho,

      nas avenidas e nas alamedas

      tresloucadas, sem rumo,

      onde ladrava, sob o fumo,

      a cainçalha das labaredas;

      mas pelas vastas praças atupidas

      de destroços heris de monumentos;

      nas ruas de comércio, onde mil vidas

      jaziam, envolvidas

      na mortalha dos desmoronamentos;

      mas nos palácios, nas mansardas,

      nos esqueletos das habitações,

      nas escolas estraçalhadas,

      nos átrios, nos terraços, nas escadas,

      no torvelim dos mortos e das fardas,

      na boca muda dos canhões,

      naquele hediondo incêndio triunfal:

      não calculei ao desastroso mal

      toda

Скачать книгу