Mestres da Poesia - Mário de Andrade. Mário de Andrade

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Mestres da Poesia - Mário de Andrade - Mário de Andrade Mestres da Poesia

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humana,

      o destino infeliz duma raça espartana,

      o fim terrível duma geração!

      Se houve crime nefando,

      não lhe medi a imensidade:

      só, dentre as ruínas da universidade,

      eu vi os grandes livros fumegando!

      Os carnívoros

      Quando a paz vier de novo, nova e franca,

      passar nestas estradas e caminhos,

      novas aves talvez e novos ninhos

      hão-de agitar-se pela manhã branca…

      Novos ventos virão da serra,

      úmidos, rindo-se, esfuziar no prado;

      e novamente, regoando a terra,

      ir-se-á, rangindo, o arado…

      Pouco tempo depois, pela estrada, os viandantes

      verão, cobrindo os campos marginais,

      os brocados trementes, ampliondeantes,

      as roupagens custosas dos trigais…

      Virão novas colheitas,

      virão risadas a remir fadigas,

      virão manhãs de acordar cedo,

      virão as tardes feitas

      de conversas à sombra do arvoredo,

      virão as noites de bailados e cantigas!…

      Toda a população ir-se-á nos vales

      colher o trigo novo e lourejante;

      e, na pressa afanosa, bem distante

      lhe passará da idéia tanta luta,

      tantos passados males!

      Pelo campo ceifado, à Ave-Maria,

      na tarde enxuta

      e fria,

      enquanto o vento remurmura, meigo e brando,

      mulheres de Millet, robustas e curvadas,

      irão glanando, irão glanando…

      Tudo será colheita e riso. – Então,

      depois de tantas fomes e misérias,

      de tantas alegrias apagadas,

      de tantas raivas deletérias,

      os celeiros de novo se encherão.

      Mas o trigo abastoso dos celeiros

      relembrará o sangue, a vida,

      os penosos momentos derradeiros

      duma geração toda destruída…

      Olhai! hoje o trigal é mais verde e mais forte!

      O chão foi adubado a carne e sangue…

      Que importa haja caído um exército exangue,

      se deu a vida ao trigo tanta morte!

      Este é o trigo que é pão e alento!

      Vós que matastes com luxúria e sanha,

      vinde buscar o prêmio: é o alimento…

      Ei-lo: em raudal, em nuvem, em montanha!

      Este é o trigo que nutre e revigora!

      É para todos! Basta abrir as mãos!

      Vinde buscá-lo!… – Vamos ver agora,

      quem comerá a carne dos irmãos!

      Este livro é teu, Saudade do lar; única fada que, espero, concitará os homens ao mútuo perdão, fazendo das trincheiras e das arenas de batalha a mais trágica das solidões.

      Paulicéia Desvairada

      Mestre querido.

      Nas muitas horas breves que me fizestes ganhar a vosso lado dizíeis da vossa confiança pela arte livre e sincera... Não de mim, mas de vossa experiência recebi a coragem da minha Verdade e o orgulho do meu Ideal. Permiti-me que ora vos oferte este livro que de vós me veio. Prouvera Deus! nunca vos pertube a dúvida feroz de Adriano Sixte... Mas não sei, Mestre, se me perdoareis a distância mediada entre estes poemas e vossas altíssimas lições... Recebei no vosso perdão o esforço do escolhido por vós para único discípulo; daquele que neste momento de martírio muito a medo inda vos chama o seu Guia, o seu Mestre, o seu Senhor.

      Mário de Andrade

      14 de dezembro de 1921

      S. PAULO

      Prefácio interessantíssimo

       "Dans mon pays de fiel et d'or j'en suis la loi”. E. Verhaeren

      1 Leitor: Está fundado o Desvairismo.

      2 Este prefácio, apesar de interessante, inútil.

      3 Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões. Para quem me aceita são inúteis ambos. Os curiosos terão prazer em descobrir minhas conclusões, confrontando obra e dados. Para quem me rejeita trabalho perdido explicar o que, antes de ler, já não aceitou.

      4 Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste Prefácio Interessantíssimo.

      5 Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a seriedade. Nem eu sei.

      6 E desculpe-me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. Sou passadista, confesso. Ninguém pode se libertar duma sô vez das teorias-avós que bebeu; e o autor deste livro seria hipócrita si pretendesse representar orientação moderna que ainda não compreende bem.

      7 Livro evidentemente impressionista. Ora, segundo modernos, erro grave o Impressionismo. Os arquitetos fogem do gótico como da arte nova, filiando-se, para além dos tempos históricos, nos volumes elementares: cubo, esfera, etc. Os pintores desdenham Delacroix como Whistler, para se apoiarem na calma construtiva de Rafael, de Ingres, do Greco. Na escultura Rodin é ruim, os imaginários africanos são bons. Os músicos desprezam Debussy, genuflexos diante da polifonia catedralesca de Palestrina e João Sebastião Bach. A poesia...

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