Confissões de amor. Sara Craven
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– Ena! – exclamou Susie. – Ou seja, ganha muito bem e ainda por cima é ecologista. Querida, estou impressionada. Não se diz que quando alguém nos salva a vida, ficamos a pertencer-lhe para sempre?
– Isso são tolices – retorquiu Alanna. – E aqui ninguém pertence a ninguém. Estamos apenas a conhecer-nos. E a festa é apenas mais um passo nesse processo.
– Para ver se a avó dá a sua bênção? – Susie torceu o nariz. – Acho que não gostaria disso.
– Bom, até pode gostar de mim. Além disso, é um fim de semana no campo e eu estou a pensar relaxar e deixar-me levar. E não vou para a cama com o Gerard – acrescentou. – Para o caso de teres alguma dúvida quanto a isso. Em Whitestone Abbey há quartos separados.
Susie sorriu.
– E decerto rezam juntos à tarde – disse. – Mas talvez ele saiba onde encontrar um palheiro – ergueu o seu copo. – A ti, minha orgulhosa beleza. E que o fim de semana torne realidade todos os teus sonhos.
Alanna sorriu e bebeu outro golo do seu sumo amargo de laranja e limão. Afinal, isso podia mesmo acontecer.
E talvez ela pudesse por fim começar a esquecer o seu pesadelo secreto. Começar a viver a sua vida plenamente sem se martirizar com a recordação da vergonha que a transformara numa reclusa voluntária.
Toda a gente cometia erros e era ridículo que levasse tão a sério aquele seu lapso. Embora fosse algo que nada tinha a ver com ela, não precisava de continuar a censurar-se por isso nem permitir que tal envenenasse a sua existência meses a fio.
– Mas porquê? – perguntava-lhe Susie com frequência. – Está na hora de nos divertirmos, portanto, esquece os teus autores e os seus malditos manuscritos por uma noite e vamos sair as duas. Todos gostariam muito de te ver. Estão sempre a perguntar por ti.
E Alanna utilizava invariavelmente a desculpa do trabalho, datas limite, cada vez mais responsabilidades… E a possibilidade muito real de a empresa ser comprada, o que levaria, quase inevitavelmente, a despedimentos.
Explicava, de um modo muito razoável que, para garantir o seu emprego, tinha de dedicar-se plenamente a ele, o que para ela não era nenhum sacrifício porque adorava o que fazia.
E, ainda por cima, tinha criado para si esta persona de profissional do escritório, uma mulher calada, dedicada e amavelmente distante. Prendia a sua nuvem de cabelo cor de mogno escuro com um gancho de prata na base da nuca. Tinha deixado de realçar os seus olhos verdes e as suas longas pestanas com sombra e rímel, restringindo o seu uso de maquilhagem a um toque de batom, mas tão discreto que parecia quase invisível.
E só ela sabia a razão pela qual tinha adotado aquela camuflagem deliberada. Nem sequer tinha dito a Susie. Ela era a sua melhor amiga desde os tempos da escola e agora era também a sua colega de apartamento. Tinha-lhe proporcionado alegremente o refúgio que precisava para fugir do seu estúdio, que não passava de um quarto com cozinha dentro e uma casa de banho partilhada, e agora mostrava-se completamente deliciada com o aparente renascimento de Alanna.
Embora não pensasse abandonar aquela versão atual de si mesma. Tinha-se habituado a ela e dizia-se que era melhor prevenir que remediar.
E Gerard parecia gostar dela tal como ela era, embora talvez pudesse mudar um pouco de rumo sem o surpreender demasiado.
Dependendo, claro, de como corresse tudo na festa da sua avó.
O convite tinha-a surpreendido. Gerard era inegavelmente encantador e atento, mas a sua relação até ao momento podia qualificar-se de contida. Embora ela não tivesse nada a objetar quanto a isso, muito pelo contrário.
No primeiro dia tinha aceitado jantar com ele porque se tinha posto em perigo para a salvar e teria parecido uma falta de educação recusar.
E tinha descoberto que podia relaxar-se e desfrutar de uma noite agradável na sua companhia. Só ao terceiro encontro é que ele lhe deu um beijo de boa noite, até então limitara-se a roçar-lhe os lábios.
Não tinha sido precisamente um beijo Martini, como lhe chamava Susie. Para seu alívio, Alanna não se tinha excitado. E ao mesmo tempo, dava-lhe confiança pensar que não tinha nenhuma objeção séria a ele voltar a beijá-la. E quando o fez, gostou de aperceber-se de que começava a gostar.
– Andamos a sair junto – disse-se, um pouco divertida com a sua ideia de um cortejo antiquado, mas também agradecida. – E desta vez – acrescentou com fervor, – não meterei a pata na poça.
De qualquer modo, era consciente de que o próximo fim de semana em Whitestone Abbey podia ser um ponto de inflexão na relação e que ela talvez não estivesse preparada para isso.
Por outro lado, recusar o convite podia ser um erro ainda maior.
Com essa ideia, gastara uma parte das suas poupanças num vestido azul marinho, cingido e que lhe chegava até aos tornozelos em camadas alternadas de seda e rendas, recatado o suficiente, na sua opinião, para agradar à avó mais exigente, mas que realçava ao mesmo tempo as suas estreitas curvas de um modo que Gerard poderia apreciar.
E que usaria durante o coquetel do sábado para amigos e vizinhos e no jantar formal da família que decorreria a seguir.
– Espero que não te aborreças mais que a conta – tinha-lhe dito Gerard. – Noutros tempos, a minha avó seria capaz de dançar toda a noite, mas acho que começa a sentir o peso da idade. Mas não imagines uma velhota de rendas com cheiro a lavanda. Ainda monta a cavalo todos os dias antes de tomar o pequeno-almoço, seja verão ou inverno. Tu montas a cavalo?
– Já o fiz – tinha respondido ela. – Até de ter saído de casa para ir para a universidade e dos meus pais terem decidido mudar-se para uma casinha com jardim, uma que podiam tratar em vez de cuidarem de um prado imenso e de um estábulo.
– Traz botas – tinha-lhe dito ele com um sorriso. – Emprestamos-te um chapéu e vou mostrar-te toda a zona como manda a lei!
Alanna tinha-lhe retribuído o sorriso.
– Isso seria maravilhoso – comentara, cada vez mais convencida de que a quase octogenária Niamh Harrington devia ser uma mulher formidável.
Já para não falar do resto da família.
– A mãe do Gerard é viúva e o seu falecido pai era o filho mais velho da senhora Harrington e o único varão – disse-lhe Susie nessa noite enquanto jantavam no apartamento. Contou com os dedos. – Depois há a sua tia Caroline e o tio Richard, com o seu filho e a sua esposa, mais a sua tia Diana, o seu esposo Maurice e as suas duas filhas, uma casada e a outra solteira.
– Meu Deus! – murmurou Susie. – Espero, para o teu bem, que usem etiquetas com os nomes. Crianças?
Alanna espetou uma gamba com o garfo.
– Sim, mas com amas. Tenho a impressão de que a senhora Harrington não aprova os métodos modernos de educação das crianças. Também teve uma terceira filha chamada Marianne – acrescentou, – mas ela e o seu esposo morreram e não me parece que esperem que o filho assista à celebração.
– Melhor assim – retorquiu Susie. – Já são demasiados