Para além da verdade. Robyn Donald
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– Claro que não – murmurou, afastando o olhar. – Gosta, então, do número quarenta e sete? – perguntou, tentando desesperadamente parecer uma artista sofisticada a vender o seu produto. – De facto, é uma peça interessante.
Não pôde dizer mais nada sobre a peça ainda que tivesse dado a vida por ela. Excepto talvez que era da mesma cor que os seus olhos.
– Uma peça lindíssima – respondeu ele, olhando para os seus lábios.
O coração de Rowan deu uma volta. Era tão subtil como um martelo, mas o facto de ser tão directo despertou uma resposta imediata em todas as células do seu corpo.
«Magia negra», pensou, procurando o número quarenta e sete. Tinha bom gosto, era uma das melhores peças.
– Gostei muito de fazer aquele jarrão – disse, sentindo mais uma vez um nó na garganta.
– Onde aprendeu a trabalhar com a cerâmica?
– No Japão.
– No Japão?
Ela encolheu os ombros, mas satisfez a curiosidade dele.
– O artista que mais admiro no mundo vive numa aldeiazinha próximo de Nara, por isso fui aprender com ele.
Sentia-se como se estivesse debaixo de um potente foco de luz. Pesavam-lhe as pernas e tinha a pele tão sensível que a seda da camisola quase a queimava.
– Foi assim, tão simples?
– Bem, não foi simples… No princípio, ele recusou-se a receber-me. Era natural. É um dos ídolos do Japão enquanto eu era uma estranha sem credenciais, uma mulher ocidental de vinte anos.
– Como o convenceu a dar-lhe aulas? – perguntou Wolfe.
A frieza do seu tom de voz transmitiu-lhe um calafrio de apreensão pela espinha acima.
– Acampei na frente da sua casa e, por fim, aceitou ver alguns dos meus trabalhos. Mas achou-os horrorosos, e estive um mês a fazer peças até que me aceitasse como aluna.
– Reconheceu a sua persistência. E reconheceu o seu talento, de contrário não a teria deixado acampar em frente da sua casa.
– Era um homem exigente – ela sorriu. – E exigia absoluta obediência.
– E isso pareceu-lhe difícil?
O tom rouco da voz dele fê-la estremecer. Só podia compará-lo ao prazer que sentia quando trabalhava com a argila.
– Muito.
– Mas conseguiu domar o seu espírito independente.
– Ou conseguia ou vinha-me embora. Ensinou-me como lhe tinham ensinado a ele. No dia em que me recusei a fazer o que ele queria, disse-me que tinha chegado a hora de me vir embora. Despedimo-nos muito formalmente, mas escrevi-lhe todas as semanas até à sua morte.
– Quantos anos esteve com ele?
– Cinco.
Wolfe Talamantes estava demasiado perto. Com outro homem não tinha tido aquela sensação, mas era demasiado alto, demasiado imponente.
– Quanto tempo tem de ficar aqui? – perguntou então.
– O quê?
– Quanto tempo tem de ficar nesta ínsipida recepção. E não me diga que lhe parece maravilhosa. Estou a observá-la há um bocado e está aborrecida. Já jantou?
– Não, mas…
– Então venha jantar comigo.
Rowan olhou-o sentindo o pulso acelerado. O seu instinto feminino advertia-a para que recusasse, uma vez que se apercebia do seu aspecto de pirata… e os piratas não aceitavam um não como resposta.
Uma convicção mais escondida dizia-lhe que não era só o interesse sexual de um homem por uma mulher, mas sim algo mais profundo. Apesar da atracção que havia entre eles, intuía uma obscura contradição.
Talvez fosse impressão sua…
– Não me olhe com essa cara. Suponho que já a terão convidado para jantar outras vezes. Inclusive, no Japão.
– Nunca nenhum desconhecido me convidou.
Wolfe sorriu. Um sorriso despreocupado de um homem seguro de si mesmo.
– Apresentou-nos uma amiga comum!
Rowan tentou desculpar-se.
– Vou jantar com Bobo. Pode vir connosco, se quiser…
– Vamos perguntar-lhe – interrompeu-a ele, procurando Bobo com o olhar.
A sua marchant falava com um grupo de pessoas, mas aproximou-se deles quando Rowan lhe fez um sinal.
– Aconteceu alguma coisa?
– Acabo de convidar Rowan para jantar, mas ela diz que não pode porque tem de jantar contigo – e Wolfe sorriu.
Bobo também esboçou um sorriso de orelha a orelha.
– Acontece que a mim também acabam de me convidar, por isso ela pode ir contigo. Mas antes de te ires embora, Rowan, vem cumprimentar Georgie.
Entretanto aproximara-se da proprietária da galeria, que estava a partilhar os seus conhecimentos artísticos com vários convidados. Rowan sentiu os olhos verdes do homem cravados nas suas costas.
Georgie cumprimentou-a efusivamente, anunciando que metade das peças já tinham sido vendidas e apresentou-a à sua corte de admiradores.
Afastando-a pouco depois de forma profissional, Bobo conduziu-a a um gabinete privado.
– Sabes quem é Wolfe Talamantes?
– Não – admitiu Rowan. – O nome não me diz nada…
– Claro, tu não lês os jornais – suspirou a sua agente.
– Leio os títulos no café – discordou ela.
– Estes artistas… Toda a gente na Nova Zelândia conhece Wolfe Talamantes.
– Quem é? Uma estrela de rock, um actor de cinema?
Capítulo 2
– Wolfe Talamantes é meio americano, meio mexicano.
– Ah, por isso tem um apelido tão esquisito.
– É um magnata da tecnologia e incrivelmente rico – explicou Bobo. – Imensamente rico, multimilionário.