Uma vingança deliciosa. Jane Porter
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Читать онлайн книгу Uma vingança deliciosa - Jane Porter страница 4
Passou junto da mesa de centro em ferro forjado e vidro para ficar perto da lareira. Sentia as pernas frágeis, os músculos tensos.
Com um olhar fugaz em direcção à biblioteca, esticou uns dedos trémulos para captar algum calor do fogo.
«Raptada» repetiu em silêncio. Tinham-na raptado. Ainda não tinha acabado de assimilar aquilo. Alguma vez o faria?
Lembrou-se de descer do avião e sair com os outros passageiros, para descobrir uma sala cheia. Lembrava-se de ter observado as pessoas à procura de Dante ou de um motorista. Dante tinha-lhe prometido que alguém iria recebê-la. Mas não viu o seu cunhado nem ninguém que tivesse um cartaz. Havia mães com os seus filhos, homens de negócios com os seus telemóveis… mas ninguém que a fosse buscar.
De repente, os olhos tinham-se-lhe humedecido ao recordar o desgosto que sentia. Geralmente algo assim não a afectava, mas não tinha sido um mês normal. O seu pai piorava de dia para dia. Já parecia ter esquecido tudo e era terrível vê-lo murchar diante dos seus olhos. Tinha sido um homem inteligente, carinhoso, sempre generoso com os outros.
Tinha procurado na mala os óculos de sol para ocultar as lágrimas. Já tinha chorado durante quase todo o voo e também nessa altura os óculos de sol lhe tinham sido úteis. A verdade é que tinha chorado tanto no último mês, que as lágrimas se tinham esgotado.
Respirou fundo e tentou concentrar-se em algo positivo. Tinha ido ver Daisy. Faltava pouco para rever a sua irmã. Assim que estivessem juntas, as coisas seriam melhores. Foi nesse momento que se aproximou dela um homem de preto, sério, de olhar penetrante e nariz afilado.
– Menina Collingsworth? – tinha perguntado com uma voz de impossível profundidade. Zoe lembrou-se que o seu agente de viagens lhe tinha dito que os homens argentinos, uma mistura de paixão latina e sofisticação europeia, tinham uma aparência letal. Embora não considerasse aquele homem de uma aparência clássica, era arrebatador… não, fascinante, de um modo primitivo.
– Sou Zoe – tinha respondido com o coração acelerado. Esteve acordada toda a noite e estava excessivamente cansada. Nunca tinha saído de Kentucky e tinha sentido emoções contraditórias sobre a viagem à Argentina. Queria ver Daisy, mas odiava levar o seu pai para um lar. A verdade é que só ia permanecer duas semanas, mas tinha sido terrível interná-lo.
– Tem alguma mala? – perguntou o homem.
– Só uma. É grande, por isso facturei-a.
– Se me der o papel, vou buscá-la.
Estendeu a mão larga, com dedos compridos e bem formados. Parecia relaxado e ela entregou-lhe o papel. Foram para a zona de bagagens e ele levantou a mala grande como se não pesasse nada. No exterior esperava-os uma limusina que os conduziu até ao helicóptero.
Só depois de descolar e de ela começar a fazer-lhe perguntas sobre Daisy e a gravidez, sobre a estância dos Galván, a vida nas pampas, é que ele lhe disse para deixar de falar.
De facto, as palavras exactas foram: «Não fales, faz o que te disserem e tudo correrá bem». Respirou fundo e contemplou o fogo, com as suas dançarinas chamas vermelhas e douradas.
Voltou a tremer, naquele momento com mais violência e o calor não bastava. Não podia parar. Era incapaz de controlar os nervos.
Ouviu-o caminhar atrás dela, o som de vidro, de líquido a escorrer, outra vez de vidro. Servia uma bebida. Que tipo de raptor tinha livros encadernados em pele, arte moderna e garrafas de brandi? Que tipo de homem é que era ele?
Lutou contra o medo. Tinha que haver uma boa explicação. As pessoas não raptavam as outras sem um objectivo, sem um plano.
– Bebe isto.
A voz fria e dura atravessou os seus pensamentos e fê-la levantar a vista do fogo para as suas feições talhadas de expressão inexplicavelmente sombria.
– Não bebo.
– Vais aquecer.
Observou o copo em forma de globo cheio com um líquido de cor âmbar e encolheu-se.
– Não gosto do sabor.
– Quando tinha a tua idade, também não costumava gostar. Estás a tremer. Vai ajudar-te. Confia em mim.
Confiar nele? Era o último homem na face da terra em quem confiaria. Tinha-a afastado de Daisy, de Dante, da reunião que tinha desejado. A sua garganta ameaçou fechar-se e a ira tomou conta dela.
Virou-se para ele com os braços cruzados.
– Quem és? Nem sequer sei o teu nome.
– Lazaro Herrera.
O nome saiu como algo fluido, complexo, sensual.
Lazaro Herrera.
Era um nome que encaixava com ele, que ligava com a música e o poder.
– Acho que vou aceitar a bebida – sussurrou.
Ao dar-lha, os seus dedos roçaram-se.
– Bebe devagar.
O contacto abrasou-a e esteve quase a deixar cair o copo.
– Porque é que fazes isto?
– Tenho motivos – encolheu os ombros.
– Mas o que é que eu fiz? Nem sequer me conheces.
– Não é por ti.
– Então, porque é? – elevou a voz.
– Por vingança.
Capítulo 2
Olhou-o com medo e o único som que se ouvia na casa era o crepitar da lenha. Tremeu com tanta violência, que o brandi se entornou. Sentia a boca seca. Engoliu a saliva com dificuldade enquanto tentava pensar em algo que dizer.
Vingança. Vingança… contra quem?
Não podia perguntar-lhe porque sabia que não estava preparada para a verdade. De alguma maneira, sabia que a resposta afectaria Daisy porque a sua irmã tinha casado na aristocracia argentina, tinha-se transformado em parte desse mundo e dessa cultura, dessa outra vida.
Levou o copo aos lábios e bebeu um gole pequeno. Sentiu o brandi fresco na boca, mas ficou quente ao engoli-lo. O calor bateu-lhe no estômago e acabou por se estender até às suas extremidades. Lazaro Herrera tinha razão numa coisa. O licor ajudou. Deu-lhe firmeza e coragem. Fechou os dedos em volta do copo.
– Isto tem alguma coisa a ver com os Galván?
– És muito perceptiva.
– Queres dinheiro?
– Não é o que toda a gente quer?
Mas a resposta não parecia verdadeira, nem o sarcasmo.