O príncipe cruel. Jane Porter

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O príncipe cruel - Jane Porter Sabrina

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Que aconteceu?

      – Caíste do teu iate.

      – Um iate?

      – Sim, estavas com uns amigos.

      – Onde estou? – perguntou ele sem deixar de falar em italiano.

      – Em Khronos, uma pequena ilha de Anafi.

      – Não conheço.

      – Ninguém conhece. É propriedade privada e tem um centro de investigação da Fundação Internacional de Vulcanologia… – calou-se quando comprovou que não a estava a ouvir e tinha uma expressão contraída. – Dói-te?

      – Sim, a cabeça…

      Ela tocou-lhe na testa com a mão e, felizmente, já estava mais fria.

      – Ontem à noite tinhas febre, mas acho que já passou. Se conseguires beber, podes tentar tomar um pouco de sopa….

      – Não tenho fome. Só quero algo para a dor.

      – Tenho uns comprimidos que devem servir, mas acho que antes deverias comer qualquer coisa.

      Ele olhou para ela com os olhos semicerrados, como se não a tivesse percebido. Além disso, a barba incipiente endurecia-lhe o queixo. Era impressionante ao longe, mas de perto era devastador. Olhou-a nos olhos e ela sentiu a pulsação acelerada.

      – Já se passou quase um dia desde que te tirei do mar…

      – Como cheguei aqui? – interrompeu-a ele.

      – O barco, o iate…

      – Não percebo isso do iate – ele sentou-se entre rabugices de dor e levou uma mão à têmpora, onde a ferida estava a sangrar outra vez. – Quando estive eu num iate?

      – Seguramente, desde a semana passada ou mais – ela sentou-se de cócoras para o observar. – Não te lembras?

      De que te lembras?

      Ele pensou até que por fim encolheu com impaciência os seus ombros bronzeados

      – De nada – respondeu ele num tom taxativo.

      – Não te lembras de quem és? – perguntou ela boquiaberta. – Não sabes o teu nome e idade?

      – Não, mas sei que preciso de uma casa de banho. Podes dizer-me onde é?

      Ele fez-lhe muitas perguntas mais tarde e ela tentou dissimular a angústia que lhe causava que tivesse perdido a memória. Preparou um jantar simples e falou com ele enquanto servia os vegetais grelhados e o frango com limão e alho e levava os pratos para a mesa de madeira.

      – Acho que deves ser italiano. Foi o primeiro idioma em que me respondeste.

      – Não me sinto italiano, mas pode uma pessoa sentir ser de uma dada nacionalidade?

      – Não sei – ela sentou-se à frente dele, – embora imagine que se por acaso despertasse noutro lugar que não o meu iria ficar admirada com os costumes.

      – Fala-me das pessoas com quem eu estava.

      – Eram da tua idade. Algumas raparigas pareciam mais jovens e todos pareciam… privilegiados.

      Ele não disse nada.

      – Todos estavam a divertir-se muito – prosseguiu ela, – menos tu.

      Ele voltou a olhar para ela com os olhos semicerrados.

      – Não sei se estavas aborrecido ou preocupado, mas passavas mais tempo sozinho do que os outros. Eles deixavam-te em paz e isso levou-me a pensar que eras o cabecilha.

      – O cabecilha? – repetiu ele num tom trocista. – Do quê? De um bando de ladrões?

      – Não precisas ser desagradável.

      Ela ia para levantar-se, mas ele agarrou-lhe o pulso.

      – Não te vás.

      Ela olhou para a sua mão. Sentia a calor da sua pele e teve de dominar um estremecimento. Estava esgotada de tanto cuidar dele e de preocupar-se. Tinham sido um dia e uma noite intermináveis.

      – Só tento ajudar-te – comentou ela, libertando-se.

      – Desculpa. Senta-te, por favor.

      As palavras eram amáveis, mas o tom era autoritário. Era evidente que estava habituado a ser obedecido. Sentou-se devagar e agarrou o garfo, mas estava demasiado cansada para comer. Podia notar que a observava e isso não facilitava as coisas. Além disso, já sabia a cor dos seus olhos, eram azul-turquesa, como o mar.

      – Pensava que tinhas fome – comentou ela ao ver que não tinha provado sequer a comida.

      – Estou à tua espera.

      – Perdi o apetite.

      – Foi a companhia…?

      – A companhia é boa – ela esboçou um sorriso. – Acho que estou demasiado cansada.

      – Imagino que tenhas passado a noite inteira preocupada comigo.

      Sim. Não sabia se ele sobreviveria. Havia sempre complicações após um quase afogamento.

      – No entanto, sobreviveste e aqui estás.

      – Sem memória e sem nome.

      – Bom, poderíamos arranjar-te um nome.

      – Poderíamos…

      – Poderíamos dizer nomes a ver se algum te soa bem – ele olhou para ela fixamente e a ela sentiu o estômago encolher-se. – Eu direi nomes e tu vais dizer-me se gostas de algum.

      – De acordo.

      – Mateo, Marcos, Lucas, Juan…

      – Tenho quase a certeza de que não sou um apóstolo.

      – Portanto, conheces a Bíblia…

      – Sim, mas não gosto deste sistema. Quero o meu nome, ou então não ter nome. Fala-me de ti. Que fazes numa ilha deserta?

      – Não está deserta. Fica aqui uma das cinco estações da Fundação Internacional de Vulcanologia. O meu pai é vulcanólogo. Viemos para ficar um ano, mas estamos cá há oito.

      – Onde está ele agora?

      – No Havai. É professor catedrático na Universidade do Havai. Combina o ensino com o trabalho no terreno. Está em Honolulu, mas voltará no final do mês, dentro de nove dias.

      – E deixou-te sozinha?

      – Parece-te estranho?

      – Sim.

      –

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