O príncipe cruel. Jane Porter

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O príncipe cruel - Jane Porter Sabrina

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a lamber-me as feridas, mas estou aqui porque quero. Não me sinto esquisita aqui, em Khronos, não duvido de mim e isso é bom.

      – Estás a dizer que a sociedade te incomoda.

      – Sim – ela levou o prato e o garfo para o pequeno lavatório da diminuta cozinha, – mas cresci à margem da sociedade e isso é o natural.

      – Nunca viveste numa cidade?

      – Em Honolulu?

      – É uma cidade a sério?

      Ela voltou-se e olhou para ele de sobrolho franzido.

      – Claro. Honolulu tem uma história fascinante. No Havai há mais coisas que não só as praias e o surf. No entanto, não lhe disse que já não gostava de voltar, que havia demasiados carros e pessoas, e era por isso que tinha ficado em Khronos enquanto o seu pai estava lá.

      – Vocês eram uns doze na praia – prosseguiu ela enquanto se sentava. – Sete homens e cinco mulheres. O iate era enorme, um dos maiores que já vi. O teu grupo ia à praia durante o dia para banhar-se e apanhar sol. Também havia muita bebida e toda a gente se divertia.

      – E na noite que caí borda fora…?

      – Havia música e festa, como sempre. Os teus amigos estavam na coberta superior. No entanto, o que me chamou a atenção naquela noite foi uma discussão na popa. Ouvi vozes em crescendo. Foi por isso que me aproximei do mar.

      – Eu estava a discutir?

      – Sim – ela franziu o sobrolho. – Bom, não sei se eras tu. Ouvi uma discussão, um grito e algo a cair à água. Não pude ver bem e imaginei que alguém se teria atirado à água, mas quando não veio ninguém à superfície, assustei-me e…

      – Resgataste-me.

      – Não sabia que eras tu – repostou ela, incomodada. – Só sabia que alguém estava em apuros.

      – Não acho que fosse fácil.

      – Não, mas aterrorizava-me que alguém pudesse afogar-se.

      – Arriscaste a vida por um desconhecido.

      – De que serve mover-me como um peixe na água se não puder salvar alguém de vez em quando? – preguntou ela num tom desenfadado para aliviar a tensão.

      – Teria morrido se não fosses tu – respondeu ele sem sorrir.

      – Mas não morreste. Já só falta recuperares a memória.

      Josephine sorriu, levantou-se e abriu um pouco as portadas. Conseguia sentir o olhar dele cravado nela. Corou e a sua pulsação acelerou. Olhava-a com atenção e intensidade. Fazia-se sentir-se inquieta, ela queria alisar a saia e ajeitar o cabelo, queria estar bonita… Abanou a cabeça. Não podia ser quem não era. Já tinha tentado isso em Honolulu e fora um desastre.

      – A julgar pela tua pronúncia – prosseguiu ela, – poderias ser da Bélgica, França, Itália, Suíça, Sicília, Aargau e até dos Estados Unidos. Tens um sotaque dos Estados Unidos.

      – Não me sinto americano – contrapôs ele.

      – Então, apagamos os Estados Unidos da lista. Já só restam seis possibilidades.

      – Sim, vamos reduzindo a lista.

      Ela riu-se, mas parou de rir quando viu as nódoas negras que ele tinha na testa.

      – Gostaria de saber o que aconteceu. Fizeste essas marcas durante a queda ou antes?

      – Eu perguntei-me o mesmo – respondeu ele. Ela olhou para ele demoradamente, sem saber se deveria expressar as suas preocupações, até que ele disse exatamente o mesmo que ela tinha estado a pensar.

      – Se não tiver sido um acidente, tudo muda, não é?

      Capítulo 2

      Ele não sabia o seu nome nem onde vivia. Nem sequer sabia por que tinha estado naquele iate com… amigos. Também não sabia se alguém tinha querido fazer-lhe algo ou se tinha sido um acidente. No entanto, sabia uma coisa: desejava-a. Acordava a pensar em Josephine e adormecia a pensar nela. Já não era uma criança e deveria ser-lhe fácil dominar o apetite, mas desejava-a tanto que teve de perguntar-se se já teria sentido o mesmo antes, se aquela avidez e impaciência eram típicas dele. Talvez a intensidade se devesse a tudo o que não sabia.

      Leu os livros que encontrou na casa para pensar noutra coisa. Quando se cansava de ler, dava um mergulho ou deitava-se na areia, mas acabava sempre a pensar em Josephine. Queria vê-la e estar perto dela. Por isso, vestia uma das camisas do pai dela e ajudava-a no seu trabalho. Ajudava-a a tomar notas ou a regar a horta, o que quer que fosse desde que estivesse ao seu lado. Desejava as suas formas, o seu cheiro e o seu sorriso.

      Era esperta, bonita, inocente e séria. Era singular, uma joia que resplandeceria entre as mulheres mais belas do mundo. Disse-lho um dia após um mergulho no mar e ela sorriu com timidez e um brilho trocista nos olhos.

      – Obrigada pelo piropo, mas se levarmos em conta que não te lembras de nada, não sei se é válido.

      – Não preciso comparar-te para saber que és inteligente e amável. Também és alegre e otimista e alegras-me a mim. E tenho a sensação de que não sou uma pessoa que fique contente facilmente.

      – Isso é verdade, não estavas nada contente na praia com os teus amigos. Estavas sozinho e olhavas para o mar. Observei-te e desenhei-te…

      – Desenhaste-me?

      – Sim – Josephine corou. – É o que gosto de fazer quando tenho tempo livre.

      – Ainda não te vi desenhar desde que estou aqui.

      – Desenho quando tu não estás ou estás a dormir.

      – E o que desenhas?

      – Um pouco de tudo – ela corou ainda mais, – mas, sobretudo, a ti.

      Ele ficava encantando porque os olhos dela pareciam mais verdes quando corava. Era tão natural e bela que lhe recordava uma sereia.

      – Por que me desenhaste?

      – Porque tu me fascinas.

      – Porquê?

      – Deves saber porquê – ela apertou os carnudos lábios. – Não me obrigues a dizê-lo.

      Estava maravilhado com aqueles lábios, os dedos desejavam acariciar-lhe a face e percorrer-lhe os lábios… e reparou que estava a ficar… duro.

      – Parece que o golpe na cabeça me deixou um pouco tonto. Por favor, explica-me o que tenho para fascinar-te.

      – Vou dizer-te só uma vez.

      – Estou a ouvir.

      – És insuportavelmente atraente…

      –

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