O italiano implacável. Miranda Lee
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– Não. Estou um pouco cansado.
– Foi um dia fantástico – replicou Alex. – És um negociador incrível. Agora, relaxa com um uísque. Estamos a chegar.
Capítulo 2
Bella demorou mais de cinco minutos a parar de tremer. Embora tivesse desligado a chamada, ainda tinha o coração acelerado e a boca seca. Nunca tivera um ataque de pânico assim, mas sabia tudo sobre eles. Conhecia uma colega que sofria ataques de pânico antes das estreias. Sabia quais eram os sintomas, mas nunca tivera um.
Era verdade que estivera um pouco nervosa antes de ligar a Sergio, mas isso era natural. Ainda tinha remorsos pela forma como a mãe tratara o pai dele. Se fosse sincera consigo própria, achava que não tinha o direito de lhe pedir ajuda depois do que a mãe fizera. Se alguém tinha a culpa do ataque de pânico, era a mãe!
Não sabia como a mãe tratara o pai de Sergio até ao ano anterior. Uma noite, enquanto dava conselhos à filha sobre os homens e o casamento, Dolores reconhecera que fingira uma gravidez para caçar o empresário italiano, que nunca o amara realmente e que só quisera garantir o dinheiro de que precisava para transformar a filha numa estrela. A declaração que fizera de que pedira o divórcio porque o marido já não a amava fora uma mentira.
Ficara tão espantada com a confissão da mãe que se sentira obrigada a procurar o homem a que chamara «papá» e a desculpar-se. Fora difícil encontrá-lo porque não se dizia nada sobre ele na Internet, mas acabara por conseguir, graças a um detetive privado, e descobrira que Alberto estava internado, à beira da morte, num hospital de Milão. O remorso fizera com que deixasse tudo e apanhasse um voo para Milão para lhe dizer que sempre o recordaria com muito carinho e que lhe agradecia por tudo o que fizera por ela.
No entanto, já morrera quando chegara ao hospital. Fora por isso que fora ao funeral, disfarçada, claro. Não quisera causar nenhum problema à família, sobretudo, a Sergio. Sabia que, se os fotógrafos a reconhecessem, o funeral poderia transformar-se num circo.
Fora um dos dias mais difíceis da sua vida. Sentara-se sozinha naquela catedral imensa e fria e presenciara em silêncio a dor evidente de Sergio enquanto se questionava se a mãe seria culpada, indiretamente, da morte do pai dele. Dolores enervara Alberto Morelli durante os oito anos que o seu casamento desgraçado durara.
No entanto, ele não mostrara essa infelicidade quando estava com ela. Sempre fora muito bom com ela, como Sergio, que fora como um irmão mais velho maravilhoso que estava sempre disposto a ouvi-la a cantar e a vê-la dançar. Se olhasse para trás, percebia que fora incrivelmente paciente com ela, uma virtude que não costumava associar-se com rapazes adolescentes. Sergio só tinha quinze anos quando o pai se casara com a mãe dela e ela era uma menina bastante tola e muito precoce de dez anos. Era um menino reservado, mas muito inteligente e espantosamente dotado no desporto. Costumavam jogar basquetebol no jardim quando ele queria descansar um pouco dos estudos.
Sentira muitas saudades quando o tinham mandado para a universidade em Roma porque o pai não queria que esquecesse as raízes italianas. Ela tinha treze anos e era muito magra. Era a única rapariga da turma que não chegara à puberdade. Depois, só vira Sergio três vezes por ano: Na Páscoa e no Natal, quando voltava a Sidney para passar uns dias, e durante duas semanas em julho, quando toda a família passava o verão na villa familiar do lago de Como.
Aquelas férias tinham-na entusiasmado! Ambos se divertiam, tomavam banhos e remavam, mas, em geral, só vagueavam.
Embora se lembrasse de que, da última vez, Sergio passara quase todo o tempo no seu quarto para se preparar para os exames finais. No ano seguinte, os pais já se tinham separado, Sergio já fora para Oxford para continuar a estudar e ela já estava a caminho da Broadway e do estrelato. A sua relação, que lhe parecera estreita, deixara de existir de repente. Sentira falta do irmão mais velho, mas depressa se encontrara perdida na sua profissão. No fim, olhos que não veem, coração que não sente.
Os seus caminhos só se encontraram uma vez, na festa posterior a um concerto de beneficência em Londres. Não o reconhecera ao princípio. Estava impressionante, já não era um rapaz desajeitado, mas os seus olhos continuavam a ser os mesmos. Era difícil esquecer uns olhos como aqueles, tão escuros e bonitos. Sentira-se desassossegada pela dureza do seu olhar e não demorara a perceber que continuava zangado com a mãe dela. Supôs que com ela também. A sua cortesia era gélida.
No entanto, os seus olhos não tinham nada de gélidos no funeral do pai, só refletiam tristeza e amabilidade, algo que ela já achava que não merecia. Felizmente, pusera uns óculos escuros porque derramara lágrimas de infelicidade e remorso. Sabia que devia ter entrado em contacto com o pai e com ele depois do divórcio, que devia ter mostrado arrependimento, gratidão e decência. No entanto, encontrava-se cativada pelo salto repentino para a fama, por estar prestes a satisfazer a ambição fanática da mãe… e dela própria. Poderia desculpar-se dizendo que só tinha dezoito anos, mas isso não era uma desculpa.
Sentira-se espantada quando Sergio lhe escrevera o seu número de telemóvel privado num cartão de visita e lhe dissera para lhe ligar se alguma vez precisasse de alguma coisa. A generosidade inesperada quase fizera com que perdesse o pouco de domínio sobre si própria que lhe restava e, quando uma ruiva muito atraente se aproximara e o agarrara pelo braço, guardara o cartão na mala, despedira-se apressadamente e fora-se embora antes de começar a chorar ruidosamente à frente de todos.
Nesse momento, as lágrimas ameaçavam aparecer outra vez. Eram lágrimas de desespero e tristeza. Na noite anterior, não dormira bem. Há séculos que não dormia bem. Não podia continuar assim. Tinha de se afastar de todas essas pessoas que ela sabia, no fundo, que não queriam o melhor para ela, que só queriam o que podiam tirar dela e que era por isso que a pressionavam para que aceitasse mais trabalho. Reunira uma lista muito comprida de parasitas durante os últimos anos. Nesse momento, tinha um representante, um agente em Hollywood, uma secretária pessoal, uma publicitária e uma estilista. Além disso, naturalmente, a mãe estava sempre presente.
Todos queriam a sua parte, todos queriam uma parte dela.
Não tinha tempo para si, não tinha tempo para a sua vida pessoal, só tinha tempo para trabalhar.
Ultimamente, começara a sentir-se como se estivesse numa montanha russa que nunca parava. Nunca parava e tinha de parar. Tinha de parar nesse momento! Tinha de parar de ser uma covarde e tinha de ligar a Sergio.
Endireitou-se, não fez caso ao coração acelerado, agarrou no telefone e voltou a marcar o número.
Sergio estava na mesa com a melhor vista do rio, a beber um gole de uísque com gelo e a fazer tudo o que podia para relaxar quando o telemóvel tocou.
O coração acelerou enquanto olhava para o ecrã. Uma onda de alívio embargou-o quando viu que não era Alex para lhe dizer que iam atrasar-se um pouco mais. Era uma chamada anónima e isso queria dizer que Bella estava a ligar-lhe outra vez, graças a Deus. Receara não conseguir dormir se não ligasse e fazer algo absurdo, como contratar um detetive privado para que descobrisse o seu número de telefone, a morada ou alguma forma de entrar em contacto com ela.
Teria sido penoso e tinha de recuperar o domínio sobre si próprio.
No entanto, já não importava. Agarrou o telemóvel com força e levou-o à orelha, mas a sua voz era tranquila quando falou.
– Olá, Bella.