Casamento de confiança. Emma Darcy
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Ela contornou a mesa e dirigiu-se à cadeira que ele lhe indicou, totalmente impressionada e quase hipnotizada. Tony teve que desviar os olhos da mulher para se acomodar na cadeira e organizar a mente para lidar com a situação.
Depois olhou para a avó, que reassumira o seu lugar. O ar complacente da senhora intrigava-o. Isabella devia ter demorado mais tempo para decidir, devia tê-lo consultado antes de dar o emprego a Hannah. Será que fora tomada por uma decisão impulsiva? A sua avó seria assim tão forte e decidida?
– Ah, aí vem a Rosita com o chá da tarde – anunciou ela, obviamente feliz por tornar aquela ocasião social.
Tony desistiu. Hannah, de alguma forma, conquistara a sua avó e ela estava a dar o último selo de aprovação: chá da tarde com Isabella Valeri King na pérgula. Ele teria de lidar com aquilo, gostasse ou não.
Aceitando o inevitável, ele agarrou no curriculum que continha as particularidades de Hannah e concentrou-se nos negócios. O prazer estava de fora. Independente de quão forte fosse a tentação, era absoluta loucura envolver-se com uma funcionária. Precisava de manter a distância, o problema seria como consegui-lo.
– Vejo que respondemos ao seu curriculum na Loja Mason, em Cape Tribulation – começou ele, precisando estabelecer um clima sério.
– Humm…
Olhou para cima e viu-a a lamber o chantilly dos lábios. O seu estômago contraiu-se imediatamente, atingido por uma onda de desejo tão forte que quase o fez perder o controlo.
– Tinha ido buscar o meu correio – explicou, quando terminou de comer uma garfada do bolo. – Passei algumas semanas a explorar a Daintree. Que floresta impressionante! Estar lá foi como voltar ao tempo…
– Sim – disse, ao cortar a voz lírica e perturbadora. Agarrou numa caneta e apontou para o formulário que ela preenchera. – Onde está hospedada em Porto Douglas?
Hannah respirou fundo.
– Ainda não encontrei nada. Cheguei de Cape Tribulation esta manhã, para a entrevista. Mas encontrarei algum quarto antes do anoitecer. Reparei que aqui existem muitos alojamentos.
Tony teve a impressão de que Hannah era um tanto ou quanto aventureira. Que não estava preparada para assumir aquela função.
– Alojamentos turísticos – apontou ele. – Se pretende ficar durante toda a estação…
– Com certeza – assegurou Hannah. – Vou procurar um lugar.
– Onde deixou a bagagem?
– Pus num cofre na marina. – Inclinou-se para a frente, sorriu, como que num apelo para ser compreendida. – Tudo iria depender desta entrevista.
Definitivamente uma aventureira, pensou Tony preocupado, ao lutar para não olhar para aqueles olhos.
– Vai precisar de um apartamento com uma cozinha bem equipada – acrescentou a senhora King com autoridade. – António, até que a menina O’Neill encontre o lugar certo para morar, acho melhor colocá-la num dos apartamentos de hóspedes que o Alessandro tem no Coral King.
– Um apartamento de hóspedes? – Tony olhou para a avó. Teria enlouquecido? Hannah O’Neill não era da família. Era uma funcionária e não muito boa, do seu ponto de vista. Ela ainda nem fora testada!
– Tenho a certeza de que deve haver um que ainda não foi usado – respondeu com segurança. – Isso dará a Hannah a oportunidade de estabelecer-se no novo emprego e tempo para procurar uma acomodação adequada.
Então, agora já era Hannah!
– É muita generosidade da sua parte, senhora King – disse. Os perigosos olhos verdes olhavam para todas as direcções.
– Uma solução simples para problemas imediatos – declarou a mulher mais velha.
– Certo – concordou Tony, sabendo que não tinha saída. Olhou fixamente para Hannah e disse: – Por favor, compreende que vai iniciar apenas o período experimental. As pessoas que pagam uma viagem para o recife no Duquesa têm a promessa de receberem o melhor. Nenhuma falha em qualquer área do serviço a bordo, poderá ser tolerada.
– Quer dizer… sem segunda oportunidade?
– Isso depende do tamanho do erro. Qualquer coisa que estrague um dia no barco…
– Seria terrível! – exclamou. Pareceu apavorada com o pensamento. – Qualquer pequeno problema que eu possa causar, juro que recompensarei a dobrar. Nunca houve nenhum tipo de reclamação sobre mim, Tony.
Ele podia acreditar naquilo. Provavelmente era capaz de convencer qualquer um a perdoar qualquer coisa. Na verdade, antes que se desse conta, eles provavelmente estariam a ajudá-la no que quer que estivesse metida. Lá estava a avó dele, dando a sua aprovação; e cada vez que ela o chamava pelo nome, o seu coração disparava e tirava-lhe a mente de onde devia estar concentrado.
– Chris, o cozinheiro que vai substituir, quer sair no fim da semana, por isso, seria bom que começasse amanhã, para aprender tudo o que puder antes da sua saída. É um óptimo chefe de cozinha e lamento muito perdê-lo.
– Por que é que saiu?
– Problemas pessoais – suspirou, frustrado. Com um sorriso irónico, acrescentou: – O companheiro dele ambiciona uma casa mais sofisticada em Sidney. O paraíso tem os seus limites.
– Tenho a certeza de que serei muito feliz aqui.
O sorriso de Hannah foi tão sincero que o peito de Tony comprimiu-se. Ele forçou-se a olhar para baixo, para os papéis que estavam à sua frente. Pelo curriculum, estava claro que tinha trabalhado em climas tropicais. Broome, Darwin, incluindo seis meses seguidos no King’s Eden em Kimberley. Porto Douglas provavelmente era o paraíso para ela.
– Então, a que horas devo apresentar-me amanhã na marina? – perguntou, ansiosa.
– Às oito horas. O Duquesa sai às oito e meia e volta às quatro e trinta. Receberá um uniforme que deve ser usado a bordo, sempre. – O qual deveria cobrir a maioria das curvas que o distraíam. Olhou para o relógio. – Se partirmos agora, posso apresentá-la à tripulação, quando desembarcar esta tarde.
Ela levantou-se imediatamente.
A borboleta pulsou na direcção do homem.
Tony fechou os olhos por um segundo e pôs-se de pé também; virou-se para a avó.
– Sempre com pressa, António – sussurrou a senhora King. – Não comeste nada.
– Desculpe-me, nonna. Almocei muito bem – disse, ao inclinar-se para beijar o rosto da avó. – Obrigado mais uma vez por fazer as entrevistas.
– Talvez Hannah te tente com a sua comida.
As habilidades culinárias eram muito insignificantes comparadas com a lista de tentações de Hannah O’Neill.