A amante do italiano. Diana Hamilton
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Por essa razão, não podiam partilhar o tempo que desejavam e, inevitavelmente, tiveram de renunciar aos melhores momentos. Na relação deles não existia nada rotineiro nem previsível, por isso Cesare não se cansara dela.
Esta devia ser a explicação de tão surpreendente proposta. Queria prendê-la legalmente, até se cansar dela. Era habitual nos sofisticados círculos em que ele se movia e o resultado era sempre desolador, como Bianca sabia.
«Acabou», repreendeu-se categórica, quando o taxi entrou na sua rua. Fizera o que era correcto e sensato. Tinha de esquecer Cesare Andriotti, esquecer o breve romance que começara a significar demasiado para ela e concentrar-se nos problemas do seu futuro imediato.
Bianca pagou ao taxista e continuou, por mais um instante, na noite morna de finais de Maio, preparando-se para entrar em casa.
Devia deixar a sua angústia de lado, armar-se com o amor que devia à mãe. Agradeceu mentalmente a colaboração que lhe dera a tia Janne, pois sem a sua ajuda não podia ter estado presente no jantar de aniversário de Claudia, no qual tomara a decisão definitiva de pôr fim ao seu romance com Cesare. Mais a mais, se Jeanne não se tivesse oferecido para cuidar da irmã, a mãe de Bianca, ela teria de pedir à sua chefe uma licença por tempo indeterminado, até os problemas da mãe se resolverem.
Com um suspiro, voltou-se para a casa que teriam de abandonar dentro de pouco tempo.
Uma escadaria levava até à senhorial porta branca, os vasos vazios, que devia ter plantado há semanas, não ofuscavam os cortinados elegantes das janelas. A elegante fachada dava uma imagem de decoro, mas não escondia precisamente isso.
Como para reforçar os seus irónicos pensamentos, a porta abriu-se rapidamente e um jovem moreno, apenas vestindo uns boxers e uma camisola interior, caiu ou tropeçou pelas escadas, seguido de diversas peças de roupa e das imprecações da sua mãe.
– Miserável! O que é que pensaste? Que estou desesperada? – num tom caustico e um pouco mais baixo, acrescentou – Um conselho, é melhor levares a tua tralha, antes de eu tentar vendê-la!
À luz do vestíbulo, a figura de Helene Jay, alta e magra, envolta num roupão bordado e com um aspecto deplorável. As emaranhadas madeixas acobreadas, cuidadosamente pintadas, enquadravam a beleza gasta de um rosto demasiado maquilhado.
Ignorando o jovem, que gatinhava enquanto recolhia os seus dispersos pertences, Bianca subiu as escadas. Estava de rastos e apenas queria chorar. Chorar pelo que perdera nessa noite, e pelo que se deparava para o seu futuro imediato.
Não podia ser tão frágil. Durante a maior parte dos seus vinte e cinco anos de vida, tivera de ser forte para apoiar a mãe, e agora Helene precisava dela mais do que nunca.
Há duas semanas atrás, tiveram de lhe fazer uma lavagem ao estômago, nada agradável, por causa de uma sobredose de comprimidos para dormir e enormes quantidades de álcool.
– Um copo a mais do que a conta e esqueci-me de que já tinha tomado os comprimidos. Foi só um erro parvo, querida – desculpou-se Helena debilmente.
Mas Bianca não estava tão certa. A mãe aproximava-se dos cinquenta anos e não havia nenhum homem na sua vida. A sua beleza, impressionante noutra época, desvanecia-se rapidamente e o seu temperamento instável era cada vez mais frágil e podia acontecer qualquer coisa.
Bianca aproximou-se da mãe, pegou-lhe num braço e, escondendo o seu sobressalto quando reparou na sua impressionante magreza, fê-la entrar delicadamente, fechando a porta atrás delas.
– Helene… não – pediu-lhe, com a voz derrotada pela compaixão, e uma tempestade de soluços invadiu o corpo da sua mãe. Bianca não suportava vê-la assim. O rímel estava borrado e tinha círculos escuros em volta dos olhos, como um panda, e escandalosa a pintura dos lábios espalhara-se pelas finas rugas em torno da boca.
– Aquele asqueroso era um gigolô! Não fazia ideia! Como é que poderia imaginar? – declarou com voz fraca. – Pensava que eu tinha de pagar para ter companhia masculina!
– Deve ser estúpido e completamente cego – Bianca tentava consolar-lhe o magoado ego e, com as mãos a tremer, pegou num lenço de papel para lhe limpar as lágrimas e o rímel que tinha na cara. Tentando dar uma entoação de divertida preocupação, recriminou-a. – Pensava que tu e Jeanne iam ficar em casa, tranquilamente, a ver televisão!
Helene retirou bruscamente a cabeça, esquecendo por um momento a recente humilhação.
– O programa que tu disseste que não podíamos perder, era de facto aborrecido, e como com Jeanne não se pode falar de nada, porque para ela um serão animado é falar de pontos e de receitas de culinária. Deixa de me tratar como se eu fosse uma menina, querida. Eu sei que a tua intenção é boa, mas torna-se insultuosa! Precisava de um copo, e como nesta casa reina a Lei Seca, tive de sair para o conseguir.
«E sem saberes, trouxeste para casa um gigolô», pensou Bianca abatida. Há anos atrás, nunca faltava à mãe companhia masculina mas, com o passar do tempo, os amantes sem compromissos tornaram-se em devaneios de uma noite, ao mesmo tempo que os gastos de Helene disparavam, com a última moda e o agravamento dos hábitos de bebida.
Este último incidente, com o jovem de pele dourada e que exigiu uma retribuição pelo serviço que se dispunha a realizar, podia ser a gota que derramava o vaso e que podia levar à beira do abismo, aquela que, antigamente, foi uma mulher fabulosamente atraente.
«Onde raio estava Jeanne?»
Como resposta à muda pergunta de Bianca, uma robusta idosa desceu as escadas, enquanto apertava, supostamente na cintura, o cinto de um roupão amarelado.
– Ouvi gritos, que escândalo! Desci quando pude.
«Depois de encontrar a dentadura postiça e de ter tirado os rolos», traduziu Bianca desfalecida. Para a tia Jeanne o decoro era tudo. A idosa continuou.
– Ouvi uma voz de homem a insultar-te e também os teus gritos – os seus doces olhos azuis ensombraram-se quando se apercebeu do estado em que se encontrava a irmã mais nova. – Helene! Disseste-me que estavas cansada e que te apetecia deitar cedo, por isso eu também disse… Mentiste-me! Não vim para aqui para fazeres de mim parva – acrescentou, com um profundo suspiro.
Escondendo a sua impaciência atrás de um sorriso calmo, que não se reflectia nos seus olhos, Cesare despediu-se da irmã e do cunhado, impaciente para pôr fim ao serão, que lhe pareceu eterno depois de Bianca ter partido.
Os empregados tinham-se ido embora há meia hora e Denton limpava desnecessariamente a cozinha. Cesare disse-lhe para se retirar, apagou as luzes e dirigiu-se para o estúdio.
Geralmente, o silencioso compartimento de paredes cobertas de livros, era um oásis de paz na sua frenética vida de trabalho. Sem computador, telefone ou fax, que pudessem perturbar a atmosfera de tranquilidade. Independentemente das pressões laborais, Cesare tinha como norma não levar trabalho para casa, mas nessa noite, sabia que não conseguiria descontrair, até ter entendido o que se passou.
Serviu-se de um dedo de uísque de malte e começou a andar com passadas nervosas.