A Ordem. Daniel Silva

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A Ordem - Daniel Silva HARPERCOLLINS PORTUGAL

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Quando é que te apercebeste de que ele tinha desaparecido?

      — Dois dias depois da morte do Santo Padre, reparei que o Nik­laus não tinha sido um dos guardas escolhidos para vigiar o corpo enquanto estava em exibição na basílica. Perguntei ao Alois Metzler porque é que ele tinha sido excluído e, para minha surpresa, a resposta foi que ele tinha desaparecido.

      — Como é que o Metzler explicou a ausência dele?

      — Disse que o Niklaus ficou desolado com a morte de Sua Santidade. Francamente, não me pareceu muito preocupado. Aliás, o camerlengo também não. — Donati, irritado, bateu o cigarro contra o rebordo do cinzeiro. — Afinal, tinha um funeral que ia ser transmitido nas televisões do mundo inteiro para planear.

      — O que mais é que sabes sobre o Janson?

      — Os camaradas dele chamavam-lhe Santo Niklaus. Disse-me, uma vez, que ponderou brevemente seguir o sacerdócio. Entrou na Guarda depois de concluir o serviço militar no exército suíço. Lá em cima, ainda têm serviço militar obrigatório, sabias?

      — De onde é que ele é?

      — De uma vila pequena, perto de Friburgo. É um cantão católico. Há lá uma mulher, uma namorada, talvez noiva… Chama-se Stefani Hoffmann. O Metzler contactou-a no dia seguinte à morte do Santo Padre. Tanto quanto percebi, foi essa a extensão dos seus esforços para determinar o paradeiro do Niklaus. — Donati fez uma pausa. — Talvez tu, Gabriel, consigas ser mais eficaz.

      — A fazer o quê?

      — A encontrar o Niklaus Janson, claro está. Creio que não seria muito difícil para um homem na tua posição. Certamente, tens certos recursos à tua disposição.

      — Tenho. Mas não posso usá-los para encontrar um guarda suíço desaparecido.

      — Porque não? O Niklaus sabe o que é que aconteceu naquela noite. Tenho a certeza disso.

      Gabriel ainda não estava convencido de que alguma coisa acontecera naquela noite, exceto que um homem idoso com um coração enfraquecido, um homem que Gabriel amava e admirava, morrera enquanto rezava na sua capela privada. Ainda assim, tinha de admitir que havia suficientes circunstâncias perturbadoras para justificar uma investigação mais aprofundada, começando pelo paradeiro de Niklaus Janson. Gabriel tentaria encontrá-lo, quanto mais não fosse para sossegar a mente de Donati. E a sua, também.

      — Sabes o número de telemóvel do Janson? — perguntou.

      — Receio que não.

      — A caserna da Guarda Suíça tem uma rede informática ou ainda usam pergaminho?

      — Converteram-se ao digital há uns anos.

      — Grande erro — disse Gabriel. — O pergaminho é muito mais seguro.

      — A tua intenção é hackear a rede informática da Guarda Suíça Pontifícia?

      — Com a tua bênção, evidentemente.

      — Vou negá-la, se não te importares.

      — Que jesuítico da tua parte.

      Donati sorriu, mas não disse nada.

      — Volta para a Cúria e mantém a discrição durante alguns dias. Eu contacto-te quando tiver alguma coisa.

      — Na verdade, estava a perguntar-me se tu e a Chiara estariam livres hoje à noite.

      — Estávamos a planear regressar a Veneza.

      — Há alguma hipótese de eu conseguir convencer-vos a ficar? Pensei que podíamos jantar num sítio perto da Villa Borghese.

      — Vai mais alguém connosco?

      — Uma velha amiga.

      — Minha ou tua?

      — Na verdade, de ambos.

      Gabriel hesitou.

      — Não tenho a certeza de que isso seja uma boa ideia, Luigi. Não a vejo desde…

      — Foi ela que sugeriu. Creio que ainda te lembras da morada. O aperitivo é servido às oito horas.

      9

      CAFFÈ GRECO, ROMA

      — O que é que achas? — perguntou Chiara.

      — Acho que, definitivamente, podia habituar-me a viver aqui outra vez.

      Estavam sentados na sala da frente do Caffè Greco. Debaixo da sua pequena mesa redonda, havia vários sacos de compras lustrosos, o saldo de um passeio dispendioso de final de tarde pela Via Condotti. Tinham viajado de Veneza para Roma sem uma muda de roupa. Precisavam ambos de algo apropriado para usar ao jantar, no palazzo de Veronica Marchese.

      — Estava a falar de…

      Gabriel interrompeu-a docemente.

      — Eu sei de que é que estavas a falar.

      — E então?

      — Pode ser tudo explicado com bastante facilidade.

      Chiara estava claramente cética.

      — Vamos começar pelo telefonema.

      — Vamos.

      — Porque é que o Albanese esperou tanto tempo para contactar o Donati?

      — Porque a morte do Santo Padre era o momento do Albanese na luz da ribalta e não queria que o Donati interferisse ou questionasse as suas decisões.

      — O seu ego inchado levou a melhor?

      — Quase toda a gente que está numa posição de poder sofre desse problema.

      — Toda a gente, menos tu, evidentemente.

      — Isso é óbvio.

      — Mas porque é que o Albanese decidiu encarregar-se de mover o corpo? E porque é que fechou as cortinas e as persianas do escritório?

      — Exatamente pelas razões que ele indicou.

      — E a chávena de chá?

      Gabriel encolheu os ombros.

      — Provavelmente, uma das freiras que cuidam da casa levou-a.

      — Também levaram a carta da secretária do Lucchesi?

      — A carta — admitiu Gabriel — é mais difícil de explicar.

      — Quase tão difícil como o guarda suíço desaparecido. — Um empregado de mesa aproximou-se com dois cafés e uma cremosa tarte de fruta romana. Com o garfo na mão, Chiara hesitou.

      —

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