A Ordem. Daniel Silva
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O bispo Hans Richter nomeara-se a si próprio como o seu salvador. Tinha-se preparado para esperar pelo fim do desastroso papado de Lucchesi para colocar em funcionamento o seu plano, mas Sua Santidade não dera outra hipótese a Richter senão resolver o assunto com as suas próprias mãos. Fora Lucchesi que pecara, assegurava Richter a si próprio, não ele. Para além disso, Deus já estava a chamar Lucchesi há algum tempo. No entender de Richter, apenas concedera ao Papa Acidental um início precoce do seu inevitável processo de canonização.
Os pensamentos de Richter foram interrompidos por uma descarga ribombante na sanita. Quando Albanese saiu, estava a limpar as suas mãos enormes numa toalha (como um coveiro, pensou Richter). E pensar que se via a si próprio como possível papa, como o escolhido de Richter para ser o seu pontífice fantoche. Albanese não era um grande intelectual, mas jogara o jogo do infiltrado curial suficientemente bem para assegurar duas nomeações papais fundamentais. Como camerlengo, Albanese conduzira o corpo de Lucchesi do apartamento papal para o túmulo sob a Basílica de São Pedro sem qualquer indício de escândalo. Para além disso, colocara nas mãos de Richter cópias de vários dossiês pessoais do Arquivo Secreto do Vaticano repletos de pecados, que se tinham revelado inestimáveis durante os preparativos do conclave. Como recompensa, em breve, Albanese seria secretário de Estado, a segunda posição mais poderosa da Santa Sé.
Secou o rosto bexigoso e, depois, atirou a toalha para cima das costas de uma cadeira.
— Com todo o respeito, acha que foi sensato vir aqui esta noite, Vossa Excelência?
— Está a esquecer-se de que muitos dos cardeais que estão lá em baixo são, agora, homens abastados por minha causa?
— Mais um motivo para não dar nas vistas até o conclave terminar. Imagino aquilo que pessoas como o Francona ou o Kevin Brady estarão a dizer neste momento…
— O Francona e o Brady são o menor dos nossos problemas.
A modesta poltrona de madeira sobre a qual Albanese se deixou cair gemeu sob o seu peso.
— Há algum sinal do Janson?
Richter abanou a cabeça.
— Naquela noite, estava claramente transtornado. É possível que tenha acabado com a própria vida.
— Não sei se teremos tanta sorte.
— Certamente, não está a falar a sério, Vossa Excelência. Se o Janson se tivesse suicidado, a sua alma estaria em grave perigo.
— Já está.
— Tal como a minha — disse Albanese em voz baixa.
Richter pousou uma mão no ombro maciço do camerlengo.
— Concedi-lhe absolvição pelas suas ações, Domenico. A sua alma está em estado de graça.
— E a sua, Vossa Excelência?
Richter retirou a mão.
— Durmo bem à noite, sabendo que, daqui a alguns dias, a Igreja estará sob nosso controlo. Não permitirei que ninguém se intrometa no nosso caminho. E isso inclui um bonito moçoilo do cantão de Friburgo.
— Nesse caso, sugiro que o encontre, Vossa Excelência. Quanto mais cedo, melhor.
O bispo Richter sorriu friamente.
— É esse o tipo de pensamento analítico e incisivo que pretende trazer para a Secretaria de Estado?
Albanese sofreu a crítica do seu superior-geral em silêncio.
— Fique descansado — disse o bispo Richter —, a Ordem está a usar todos os seus consideráveis recursos para encontrar o Janson. Infelizmente, já não somos os únicos que andam à procura dele. Parece que o arcebispo Donati se juntou à busca.
— Se nós não conseguimos encontrar o Janson, que esperança é que o Donati tem?
— O Donati tem algo muito melhor do que esperança.
— O quê?
O bispo Richter fitou a cúpula da basílica.
— O Gabriel Allon.
11
VIA SARDEGNA, ROMA
O palazzo era, frequentemente, confundido com uma embaixada ou um ministério governamental, pois era circundado por uma formidável vedação de aço e vigiado por diversas câmaras direcionadas para o exterior. No átrio, gotejava uma fonte barroca, mas a estátua de Plutão, uma estátua romana com dois mil anos que outrora adornara o vestíbulo, desaparecera. No seu lugar, encontrava-se a doutora Veronica Marchese, diretora do Museu Nacional Etrusco de Itália. Envergava um deslumbrante fato preto e um volumoso colar dourado ao pescoço. O seu cabelo escuro estava penteado a direito para trás e preso por um gancho na nuca. Uns óculos em forma de olho de gato conferiam-lhe um ar vagamente académico.
Sorrindo, beijou ambas as maçãs do rosto de Chiara. A Gabriel, ofereceu apenas a mão, reservadamente.
— Diretor Allon, estou tão satisfeita por ter conseguido vir. Só lamento não termos feito isto há mais tempo.
Quebrado o gelo, conduziu-os ao longo de uma galeria onde pendiam quadros de Velhos Mestres italianos, todos com qualidade de museu. As obras eram apenas uma pequena parte da coleção do seu falecido marido.
— Como podem ver, fiz algumas alterações desde a vossa última visita.
— Limpezas de primavera? — perguntou Gabriel.
Ela riu-se.
— Algo do género.
As requintadas estátuas gregas e romanas que, outrora, ladeavam a galeria tinham desaparecido. O império empresarial de Carlo Marchese, ilegítimo na sua grande maioria, incluíra um intenso comércio internacional de antiguidades roubadas. Um dos seus principais parceiros fora o Hezbollah, que fornecia a Carlo um fluxo constante de peças oriundas do Líbano, da Síria e do Iraque. Em troca, Carlo enchia os cofres do Hezbollah com moeda forte, que era usada para comprar armas e financiar o terrorismo. Gabriel desmantelara a rede. Depois, após uma notável descoberta arqueológica, cinquenta metros abaixo da superfície do Monte do Templo, derrubara Carlo.
— Alguns meses depois da morte do meu marido — explicou Veronica Marchese —, desfiz-me discretamente da sua coleção pessoal. Doei as peças etruscas ao meu museu, que era onde pertenciam desde o início. A maioria ainda está armazenada, mas já coloquei algumas em exposição pública. Escusado será dizer que as placas não referem a proveniência.
— E as restantes?
— O seu amigo, o general Ferrari, fez o favor de mas tirar das mãos. Foi muito discreto, o que não é habitual nele. O general gosta de publicidade positiva. — Olhou para Gabriel com genuína gratidão. — Suponho que tenha de lhe agradecer por isso. Caso se tivesse