Coração em dívida. Ким Лоренс
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Читать онлайн книгу Coração em dívida - Ким Лоренс страница 3
– Ninguém te informou da sua morte? – perguntou Ivo ao avô fazendo um esforço por compreender o que estava a ouvir.
O avô arqueou as sobrancelhas.
– Sim, o advogado do teu irmão informou-me da sua morte. Ah, e a irmã da mulher dele enviou uma carta, escrita à mão – acrescentou Salvatore, trocista. – Com uma letra quase ilegível.
Ivo, com uma fúria mal contida, abanou a cabeça. Mas também se viu tomado por um irracional sentimento de culpa que se recusava a reconhecer e que o fez estremecer.
– Portanto, sabias? – questionou Ivo apertando a mandíbula.
O avô confirmou com um encolher de ombros.
– E não achaste oportuno informar-me? – acrescentou Ivo sem mostrar a cólera que se tinha apoderado dele.
– De que teria servido, Bruno? – perguntou o avô com um verdadeira tom de desafio na voz sustendo o olhar do neto.
Ivo apertou os dentes. O seu avô, aparentemente sem ter consciência disso, chamara-lhe Bruno.
– Não pensaste que poderia ter querido ir ao funeral?
Tê-lo-ia feito? Nunca o saberia, pensou com ironia.
– Não, não me ocorreu. Cortaste com ele há anos, quando deixou de ser teu irmão. E… tu não és um hipócrita – Salvatore arqueou as sobrancelhas com desdém, – não é?
Ivo levantou a cabeça e os seus olhos escuros e rasgados cravaram-se no rosto do avô. O rubor que tinha tingido as pronunciadas maçãs do rosto e a sua pele morena dissipou-se. Abanou a cabeça como se estivesse a acordar de um sonho.
– O Bruno contatou-me há dezoito meses. Queria que nos víssemos – declarou Ivo com o olhar perdido, pelo que não viu a sombra de fúria que cruzou a expressão do avô.
– Encontraram-se?
Ivo virou a cabeça. Se realmente tivesse deixado de gostar do irmão, sentiria tanta dor como a que sentia naquele momento?
Ivo respirou fundo e endireitou os ombros. Toda a gente devia assumir a sua responsabilidade sobre os seus próprios atos.
– Não, não nos encontrámos.
Uma decisão de que, a partir de agora, talvez se arrependesse por toda a vida. O irmão tinha querido uma reconciliação, mas ele recusara. Porquê? Por que não lhe tinha perdoado, por que tinha querido castigar Bruno?
Sentiu desprezo por si mesmo, culpa e arrependimento.
– Pensava que tinha parado de tentá-lo – comentou Salvatore como se falasse consigo mesmo.
– Parado de tentá-lo?
– O Bruno manteve-se à distância depois de eu ter conseguido a ordem judicial, mas continuou a enviar cartas até… Enfim, no final teve de dar-se por vencido – Salvatore franziu o sobrolho. – Quando foi isso…? Bom, é indiferente, teve de cessar quando os advogados o contataram e lhe comunicaram que eu vos deserdaria a ambos e que isso seria culpa dele.
Levando uma mão à cabeça, Ivo procurou assimilar o que acabava de ouvir.
– Queres dizer que o Bruno tentou vir buscar-me?
Salvatore soprou.
– Queria a tua custódia. Consegues acreditar?
Bruno não tinha mentido, Bruno não o tinha abandonado.
– O Bruno voltou.
Salvatore estalou os dedos com impaciência.
– Nenhum tribunal lhe teria dado a tua custódia tendo em conta o seu antecedente penal.
– Um antecedente penal?
– Suponho que não sabes, mas o teu irmão, quando estava no colégio, juntou-se a más companhias e apanharam-no com uma pequena quantidade de… Foi fácil de solucionar, mas ficou no cadastro.
– Drogas? O Bruno? – Ivo não sabia nada daquilo. Que mais lhe tinham escondido durante todos aqueles anos para o proteger?
Ele tinha renegado o irmão apesar de Bruno não se ter esquecido dele! A descoberta deixou-lhe um mau travo na boca.
Mal tinha começado a assimilar tudo o que o avô lhe tinha dito quando este voltou a surpreendê-lo.
– O bebé…
– Qual bebé?
– O teu irmão tinha um filho, um menino, chama-se… bom, o nome que lhe puseram não tem importância. Mas esse é o motivo pelo qual quero que vás à Escócia, à ilha de Skye, embora suponha que saibas onde vivia o teu irmão; provavelmente, numa cabana perdida, sem eletricidade nem água corrente. A questão é que quero que vás buscar o menino. O seu lugar é aqui, connosco. Ainda que o seu pai fosse um idiota e a sua mãe… Enfim, o menino é um Greco.
– Como…? – Ivo baixou as pálpebras e engoliu em seco para aliviar o nó que sentia na garganta. – Como morreram?
– Estavam a escalar e tiveram um acidente; aparentemente, estavam os dois pendurados a uma corda e esta rompeu-se. Uma testemunha diz que ouviu o teu irmão gritar para que a sua mulher cortasse a corda, mas ela não o fez… – pela primeira vez, Ivo imaginou ouvir emoção na voz do avô.
– O Bruno adorava as montanhas – disse Ivo com voz suave.
– Sim, e olha como acabou! – exclamou o avô com amargura. – Se não lhe tivesse dado para escalar não teria conhecido essa rapariga… Uma ceramista que vivia numa gruta.
Algo exagerado. Porém, Samantha estava muito longe de ser uma dessas mulheres modelo da grande sociedade com as quais o seu irmão costumava sair antes.
«Amor à primeira vista», tinha dito Bruno.
Como se tivesse sido inevitável! Ivo não tinha acreditado que fosse possível e continuava sem acreditar. Era a desculpa de um homem fraco, um homem que ele estava decidido a não ser.
Era uma questão de escolha.
De repente, a convicção desse mantra que há anos repetia para si mesmo diminuiu.
– Falei com os advogados, mas informaram-me de que não há forma de anular o testamento.
– Deixou um testamento? Que diz?
– Isso é irrelevante.
Ivo não concordava, mas não disse nada. Estava a pensar no filho de Bruno, o menino que ele não iria abandonar. Tinha virado as costas ao irmão, mas não faria o mesmo ao sobrinho.
– Eram muito jovens, demasiado jovens para morrer. E essa mulher, a irmã, com o apelido Henderson…