Coração em dívida. Ким Лоренс
Чтение книги онлайн.
Читать онлайн книгу Coração em dívida - Ким Лоренс страница 6
Flora fez um esforço por adotar uma atitude profissional. Normalmente, não lhe custava nada, estava habituada a lidar com as pessoas, tinha trabalhado num bar, a tempo parcial, durante a universidade. Recentemente, uns clientes tinham dado a sua opinião sobre ela na Internet, dizendo que mostrava «uma amável eficiência e simpatia».
Assim sendo, por que estava ali, quieta e sem abrir a boca, como uma idiota?
– Há algum problema?
Ivo reconheceu que tinha cometido um erro ao chegar ali com ideias pré-concebidas e isso estava a confundi-lo muito, algo a que não estava acostumado.
E algo a que não pretendia acostumar-se. Até à porta se abrir, não se dera conta de que antecipava deparar-se com uma loira alta e magra. Não lhe tinha passado pela cabeça que a cunhada do seu irmão fosse uma ruiva baixinha com a cintura mais estreita que já vira na vida.
Ivo meteu as mãos nos bolsos e apertou-as em punhos, como se quisesse dissipar a imagem que a sua mente tinha evocado, uma imagem em que apertava aquela cintura com os dedos das suas mãos. As suaves, mas femininas curvas acima da cintura daquela mulher levaram-no a sentir um repentino calor que o forçou a voltar a atenção novamente para o seu rosto.
Olhar para a mulher com a qual o seu avô tinha sugerido que se casasse não lhe ia custar esforço algum.
Sem saber como nem porquê, a sua mente conjurou a imagem daquela mulher a caminhar para um altar com um vestido de noiva. Recusou rapidamente essa ideia, tal como a ideia de casamento. Até há pouco, tinha sido uma inevitável perspetiva, uma dívida à continuação do seu apelido; no entanto, a existência do filho de Bruno, que representava a nova geração, libertara-o dessa obrigação.
Estava na ilha de Skye, sim, mas não para se casar.
Era o seu plano alternativo mais racional? De facto, não podia ser considerado um plano, tudo dependeria das circunstâncias a partir daquele momento, iria decidindo conforme as coisas corressem.
Talvez fosse uma loucura, mas algo mais razoável do que lhe tinha parecido quando estivera quase a abandonar o carro numa parte inundada da estrada, a pouco menos de um quilómetro de onde se encontrava.
Ivo não acreditava no destino nem na intervenção divina, mas quando uma pessoa dava por si a guiar por uma estrada que se tornara quase num rio, era lógico perguntar-se se alguém, algures, não lhe estava a enviar um sinal.
E aquele não tinha sido o primeiro obstáculo!
Ivo considerava-se um homem que se sabia adaptar às circunstâncias, mas naquele dia a sua paciência fora posta à prova. Desde que começara a viagem naquela manhã, tudo tinha ido de mal a pior. O piloto do avião privado tivera de realizar uma aterragem de emergência em Roma por causa de problemas técnicos. Por fim, após aterrar na Escócia no avião privado substituto, nenhum motorista aceitara levá-lo para Skye devido ao temporal.
Tendo em conta que aquela viagem era de extrema importância, tinha ignorado os avisos contra o mau tempo, supondo que estavam a exagerar.
E tinha-lhe custado caro. Olhou para os seus sapatos de couro feitos à medida, completamente destroçados; o casal de idosos, que tinha ajudado após terem saído com o carro da estrada, tinham-no tratado como um herói.
E agora que estava ali as coisas não corriam conforme o previsto. Procurou fazer gala da objetividade que o caracterizava; mas naquele preciso momento, aquele rosto em forma de coração ergueu-se para ele.
Se não reconhecesse como era bela, apesar de não gostar particularmente de mulheres baixinhas e de ar frágil, não estaria a ser verdadeiro. Obviamente, conhecera mulheres muito mais bonitas do que aquela, embora nenhuma com aquele rosto em forma de coração e uns caracóis pré-rafaelistas dignos de Tiziano.
Tão inesperada como a vista daquela bonita cara em forma de coração tinha sido o súbito desejo sexual que sentira assim que a vira.
Eliminando aquela resposta visceral, continuou a observar aquele rosto que tanto lhe tinha chamado a atenção. Era uma cara com um nariz respingão, uma bonita boca, uns olhos azuis rodeados de espessas pestanas e um queixo com uma covinha.
Em resposta à pergunta dele, Flora levantou os olhos, à altura do peito do seu peito. Os duros olhos dele eram desconcertantes.
– Usa gravata.
Flora fechou os olhos e pensou: «esperemos que eu conseguia recuperar rapidamente o juízo e possa dar a impressão de que tenho mais cérebro que um mosquito».
«E depressa, por favor!»
Quando voltou a abrir os olhos, ele tinha desapertado o cinto do sobretudo e um botão do casaco. Aqueles longos dedos cor de azeitona estavam a alisar a gravata cinzenta sobre a camisa branca.
Flora adivinhou-lhe uma sombra de escuro pelo no peito antes de afastar rapidamente os olhos, ignorando o mal-estar que sentia na pele.
– Exige algum vestuário especial aos hóspedes?
Ignorando o tom sarcástico da pergunta, Flora recordou-se a si mesma que devia ser amável com os seus clientes, independentemente do que pudesse pensar deles. Embora, para ser justos, supunha que uma pessoa que acabasse de percorrer aquela estrada sozinho no carro e com aquele temporal devia estar tensa.
O certo é que aquele homem não parecia tenso, muito pelo contrário. Dava a impressão de ser uma pessoa com autodomínio, que não precisava do consolo de ninguém.
– Não, claro que não. Bom, temos cabanas nas montanhas, embora não recomende a ninguém sair para o campo com este tempo – respondeu Flora.
Era incrível a quantidade de gente vinda da cidade que não tinha qualquer respeito pelas inclemências do tempo da ilha e do seu terreno.
– Ah, e também temos mapas da zona em todos os quartos, embora alguns clientes contratem os serviços dos guias da ilha. E se lhe interessa a geologia, há uns fascinantes…
– Não me interessa e tenho bom sentido de orientação.
Fez-se um silêncio que, por fim, Flora interrompeu.
– Ah, veio pescar? – apesar de precisar desesperadamente de dinheiro, teria preferido que aquele homem não tivesse aparecido.
– Não, não vim pescar – respondeu ele com a mandíbula tensa.
Contendo um infantil desejo de dizer-lhe que, na verdade, era-lhe indiferente, Flora sorriu.
– Bom, espero que goste da sua estadia aqui – Flora hesitou uns segundos antes de admitir: – A verdade é que não sabia que tinha reservado um quarto. Veio de muito longe?
– Sim.
«Tenho tido conversas mais interessantes com uma parede de tijolos», pensou Flora sem deixar de sorrir, até que se deu conta de que ele tinha os olhos fixos nos seus cabelos. Conteve o impulso de erguer uma mão para alisar os enredados caracóis que se lhe tinham escapado do rabo-de-cavalo.
– Bom, acho que